Os governadores de Estado foram decisivos para que o governo do Ceará pudesse enfrentar o motim patrocinado por um grupo de policiais que aterrorizaram os moradores de Fortaleza e do interior durante os últimos dias. Os governadores pressionaram o governo federal a manter as tropas federais no Estado e prometeram enviar tropas de seus estados para o Ceará caso as tropas federais sejam retiradas antes do término do motim.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB-MA), informou que governadores de ao menos quatro Estados já se organizam para enviar forças de segurança ao Ceará caso a situação não se normalize e Jair Bolsonaro não renove a GLO (Garantia da Lei e da Ordem). De acordo com Flávio Dino, os governadores do Rio de Janeiro, da Bahia, do Piauí e ele próprio acertaram o envio de tropas ao Estado. “Há um movimento para cooperar”, afirmou.
Em conversas com Camilo Santana, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ofereceu ao governo do Ceará 100 homens da Polícia Militar de São Paulo para ajudar na crise de segurança pública do estado.
Wilson Witzel também ofereceu enviar 155 policiais do Batalhão de Choque da PM fluminense para ajudar no policiamento do Ceará.
O governador Camilo Santana pediu ao governo federal a prorrogação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) por mais 30 dias. Jair Bolsonaro pretendia retirar as tropas federais enviadas ao Estado na última sexta-feira (28). Chegou a dizer, numa live, divulgada na quinta-feira (27), que o “problema” era do governo do estado e que suas tropas não ficariam “eternamente” no Ceará. Ele acabou prorrogando a permanência das tropas por mais sete dias. Mas, pressionou o governador pelo atendimento das exigências dos amotinados.
Como Jair Bolsonaro fez pressão para que o governo do Ceará negocie com os encapuzados que ocupam os quartéis, e como o seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, que esteve no estado e não criticou os crimes cometidos por eles, os amotinados se sentiram respaldados.
Eles, que acharam normal ameaçar a população com armas na mão, obrigar comerciantes a fecharem as portas de suas lojas, tomar a inutilizar viaturas da polícia, atirar para matar em um senador da República, fazer ameaças a policiais que queriam trabalhar e tomar quartéis, entenderam o recado vindo do “mito” e de Moro e apostaram no impasse. Ampliaram a pauta de exigências e impuseram um bolsonarista expulso da PM na comissão de negociação. Passaram a exigir R$ 4900,00 de salário e anistia.
Numa atitude clara de colocar limites nas negociações, o governador Camilo Santana garantiu que não haverá anistia. Ele enviou, na sexta-feira (28), para a Assembleia Legislativa do do Ceará uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) proibindo que essa medida seja aplicada para motins de integrantes das forças da segurança pública. Já no sábado (29) a proposta começou a tramitar e foi aprovada a urgência para a matéria. Isso significa que nos próximos dias ela será apreciada.
Durante a sessão deste sábado (29), o deputado Marcos Sobreira (PDT) agradeceu da tribuna o apoio recebido dos governadores ante a tentativa de Bolsonaro de “encostar o governo do Estado na parede”, ameaçando retirar as tropas federais.
“Quero aqui expressar minha gratidão aos governadores de Estado que deram apoio ao povo do Ceará num momento grave como este”, disse o deputado. Enquanto isso, a comissão dos três poderes continua aberta à negociação. A proposta do governo foi um reajuste de 43% no salário inicial de soldado, passando dos atuais R$ 3.200,00 para R$ 4.500,00. Esta proposta foi aceita e comemorada pela categoria, mas foi rejeitada por alguns integrantes com mandatos políticos com influência na categoria.
A notícia do envio de policiais militares de outros Estados para o Ceará foi dada pela jornalista Mônica Bérgamo, em seu blog, na Folha de São Paulo. Segundo ela, “governadores de ao menos quatro Estados já se organizam para enviar forças de segurança ao Ceará caso o presidente Jair Bolsonaro não renove a GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que possibilitou a presença do Exército e da Força Nacional no estado”. Em transmissão ao vivo pela internet nesta quinta-feira (27), Bolsonaro afirmou que “A GLO não é para ficar eternamente atendendo um ou mais governadores. GLO é uma questão emergencial”.
Flávio Dino disse ainda que Bolsonaro tinha obrigação de renovar a GLO. “A Constituição diz que as polícias militares são auxiliares das Forças Armadas. Se elas falham, as Forças Armadas têm a obrigação de intervir. O presidente é obrigado a garantir a ordem pública. Ele não está fazendo nenhum favor”, diz o governador. Ele observa ainda que, além do Exército, também a Força Nacional faz parte da operação. “E ela é formada por policiais dos Estados. O governo federal não tem um homem lá”, diz ele, lembrando que o Ministério da Justiça tem o papel apenas de coordená-los.