Anúncio de cinco mil demissões teve aval de Guedes
O plano de “reestruturação” do Banco do Brasil apresentado na segunda-feira (11) pela direção do banco, com aval do ministro da Economia, Paulo Guedes, é mais uma etapa do processo de desmonte do banco público para favorecer o sistema financeiro privado. Para isso, serão demitidos cinco mil funcionários e serão encerradas 361 unidades do banco, sendo 112 agências, 7 escritórios e 242 postos de atendimento.
Após o anúncio, que gerou uma reação de vários setores, fontes do Planalto disseram que Bolsonaro ficou “irritado” e quer trocar o “comando do banco”, presidido por André Brandão. Escolhido por Guedes, Brandão era presidente do banco inglês HSBC no Brasil, e substituiu Rubem Novaes na missão de privatizar o Banco do Brasil.
Encenação
Não é verdade que Bolsonaro resiste às medidas tomadas. É só lembrar a famosa reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, que foi divulgada ao público por decisão da Justiça. Nela, Guedes prometeu privatizar o Banco do Brasil e Bolsonaro apoiou.
“O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”, declarou Guedes na reunião ministerial, sem qualquer contestação. “Confessa seu sonho. Tem que vender essa porra logo”, disse o ministro da Economia, apoiado por Novaes e sob risos de Jair Bolsonaro, que pediu a Novaes para confessar só depois das eleições. “Deixa pra depois, confessa não”, disse Bolsonaro. E mais adiante completou Bolsonaro: “Faz assim: só em 23 cê confessa, agora não”.
Novaes deixou a presidência do BB no segundo semestre de 2020, alegando não ter se adaptado “à cultura de privilégios, compadrio e corrupção de Brasília”.
Além de usar recursos do Banco do Brasil em blogs, portais e redes sociais para propagar fake news, sendo barrado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), Novaes repassou ao banco BTG Pactual, banco fundado por Paulo Guedes, uma carteira de créditos a receber no valor de R$ 2,9 bilhões por apenas R$ 371 milhões. A negociata foi denunciada pelo ex-governador Ciro Gomes (PDT), em julho do ano passado.
Para a ANABB – Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, as medidas não passam de “cortina de fumaça” para encobrir “intenções privatistas” em torno do BB. Segundo a entidade, as medidas “estão na contramão do papel histórico e institucional do Banco do Brasil na economia brasileira, sobretudo em situações de estagnação econômica e de desafios para a retomada do desenvolvimento”.
Os bancos públicos, Banco do Brasil, Caixa e BNDES, se destacaram no enfrentamento da pandemia e só não tiveram papel maior, como historicamente sempre tiveram frente às crises e no fomento à indústria nacional, porque não interessava ao governo.
Através dos bancos estatais, recursos disponibilizados para o crédito às micro, pequenas e médias empresas, com juros menores e prazos maiores, ainda que insuficientes para fazer frente ao tamanho da crise econômica provocada pelo coronavírus, ajudaram muitas empresas, ao contrário dos bancos privados, que preferiram fazer caixa e empoçaram os recursos. Poucos aderiram aos programas de crédito aprovados pelo Congresso Nacional no combate à Covid, como o Pronampe voltado para micro e pequenas empresas.
Através do Pronampe, no terceiro trimestre do ano passado, o Banco do Brasil desembolsou R$ 6,2 bilhões, beneficiando 110 mil empresas, e a Caixa, R$ 12,064 bilhões. Já o Itáu, o maior banco privado do país, que também operou o Pronampe, foram 47 mil empresas atendidas, um total de R$ 3,9 bilhões.