Empresas denunciam que o governo de Jair Bolsonaro falsificou uma licitação para favorecer a Starlink, empresa do bilionário dos Estados Unidos, Elon Musk, com quem teve reuniões em maio.
Três empresas que atuam nessa área, ouvidas de maneira reservada pelo jornal Folha de S.Paulo, disseram que os critérios adotados em uma licitação do governo Bolsonaro para instalação de internet em 7 mil escolas indicam que a Starlink, empresa de Musk, foi favorecida, pois são impossíveis de serem atingidos pelas demais empresas.
A Starlink é a única empresa, de todas que atuam no território nacional, que oferece tudo o que é exigido na licitação a baixo custo. Concorrentes acreditam que as exigências foram feitas “sob medida”.
O presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Satélite (Sindisat), Fábio Alencar, disse que o caso é “suspeito” e lembrou de ações do ministro das Comunicações, Fábio Faria, junto a Musk.
“Não posso dizer que teve má-fé, mas, com tudo o que ele [Fábio Faria] fez antes, ficou suspeito”, disse à Folha.
Em maio, Fábio Faria recebeu Elon Musk como se ele fosse o presidente de um país.
O governo Bolsonaro discutiu projetos de monitoramento da Amazônia com satélites, o que já é feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e o convidou para abrir uma fábrica de semicondutores no Brasil, medida que destrói o Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (CEITEC), estatal que era a única fabricante de semicondutores na América Latina, cuja extinção, promovida pelo governo Bolsonaro em 2021, foi suspensa pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Além disso, Fábio Faria e Elon Musk conversaram sobre um projeto de levar, através dos satélites da Starlink, internet para escolas na Amazônia.
Em seguida, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, publicou o edital que é cumprido somente pela Starlink.
O edital, que tem as inscrições encerradas na quinta-feira (24), dita que a empresa deve instalar internet em cerca de 7 mil escolas localizadas em locais afastados. O edital estabelece que devem ser oferecidas uma velocidade mínima de conexão muito acima do praticado no mercado.
Além disso, as empresas deverão instalar internet via satélite nos locais em que não for possível fazer conexão por fibra ou cabo.
Somente a Starlink, empresa de Elon Musk, diz ter a estrutura necessária para cumprir todos os requisitos a um custo baixo. Todas as outras empresas apontam que terão que montar novas estruturas para esse atendimento, o que eleva o custo.
Fábio Faria negou envolvimento com o possível favorecimento à empresa de Elon Musk. “Tudo querem colocar na minha conta. Criaram essa questão do Musk só porque ele veio aqui através de mim”.
REUNIÃO E PROPAGANDA
Em maio de 2022, Elon Musk visitou o Brasil e teve conversas com Jair Bolsonaro e Fábio Faria. Em suas redes sociais, disse que estava “super animado (…) para o lançamento da Starlink para 19 mil escolas desconectadas em áreas rurais”.
Jair Bolsonaro também informou sobre a conversa em suas redes sociais: “tratamos de conectividade, investimentos, inovação e o uso da tecnologia como reforço na proteção de nossa Amazônia e na realização do potencial econômico do Brasil”.
Fábio Faria levou o bilionário estrangeiro para um encontro com empresários em um hotel de luxo no interior de São Paulo.
Em setembro, Faria organizou um evento em uma escola na zona rural de Careiro da Várzea (AM), que usou a conexão da Starlink. Elon Musk participou através de uma chamada de vídeo, junto com o presidente da SpaceX, outra empresa do bilionário.