Paga mais do que o triplo do produzido no país
Com as caríssimas usinas termelétricas trabalhando a todo o vapor para fazer frente à crise de energia que o governo provocou, com cortes nos investimentos na Eletrobrás, redução da produção de gás pela Petrobrás e ameaça de apagão, o Brasil agora bate recorde na compra de gás dos EUA, cujo preço do GNL (Gás Natural Liquefeito de Petróleo) é mais que o triplo do importado da Bolívia ou produzido no Brasil.
Apesar das imensas reservas de gás natural no pré-sal, a Petrobrás passou de 7º lugar no ranking de maiores importadores de GNL norte-americano, em 2020, para o 4º neste ano, segundo dados da Global Trade Tracker, compilados pela consultoria Wood Mackenzie. De janeiro a setembro, o Brasil importou 7,19 bilhões de metros cúbicos (m3) de GNL, a US$ 1,85 bilhão. Desse total, 90% vieram dos EUA.
Com a redução da produção de gás iniciada com o plano de “desinvestimento” em 2015, o Brasil, além de aumentar a dependência de abastecimento externo, fica dependente das oscilações dos preços do GNL no mercado internacional, que variam como o barril do petróleo e o dólar, fazendo o brasileiro pagar mais caro pelo gás importado do que é produzido no Brasil.
Por decisão tomada desde 2015, o governo prefere reinjetar a enorme quantidade de gás retirado do pré-sal e importar o produto pagando mais caro. O governo prefere isso a investir em mais terminais para escoar o gás retirado do pré-sal até a costa brasileira. Além disso, ele privatiza gasodutos e refinarias.
Em 2019, o governo Bolsonaro diminuiu em um terço a oferta de gás boliviano, na renegociação dos contratos de importação do gás natural do país vizinho, por meio do Gasoduto Brasil-Bolívia. A medida fez parte do plano do governo de desmonte da Petrobrás a pretexto de abrir o setor à “concorrência”, o chamado “choque energético de energia barata” do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele prometia que com o fim do monopólio da Petrobrás, o preço do gás cairia 40% – fato que até agora não ocorreu, pelo contrário, o preço do gás não parou de subir.
“A redução do contrato com a Bolívia cortou em um terço a oferta de gás boliviano, que por anos foi a principal fonte da Petrobrás para cobrir oscilações da demanda doméstica. Agora o Brasil importa tudo o que consegue da Bolívia e supre o que falta com GNL”, disse o analista do setor de gás GNL para América Latina da Wood Mackenzie, Henrique Anjos, ao Valor Econômico.
De acordo com o especialista, o preço do GNL dos EUA é mais do que o triplo do importado da Bolívia ou produzido no Brasil. O GNL que sai dos EUA custa US$ 9,68 por milhão de BTU. Adicionando o valor do frete e o custo de regaseificação, pode chegar a US$ 16,7/milhão de BTU. As importações respondem por 25% da oferta de gás no Brasil, segundo o setor.
Com a menor geração de energia hidrelétrica, o Brasil tem recorrido às usinas termelétricas, dependentes do GNL. Alheio aos períodos de escassez de chuvas que o Brasil tem vivenciado nos últimos anos e sem nenhum projeto, ou uma estratégia para o enfrentamento de crises hídricas, através de fontes de energia mais baratas e sustentáveis, o governo Bolsonaro acionou todas as usinas termelétricas (diesel, gás, biomassa e carvão) disponíveis para evitar um apagão de energia no país.
A geração de energia por termelétricas, além de ser poluentes para o meio ambiente, é muito cara e quem paga esta conta são os consumidores, através das chamadas “bandeiras tarifárias”.
Em julho, a tarifa vermelha patamar 2 foi reajustada em 52% e a cobrança subiu para R$ 9,49. Em setembro, entrou em vigor a bandeira “escassez hídrica”, que passou a acrescentar R$ 14,20, ou 49,6% a mais, na conta de luz para cada 100 kWh consumidos, e deve vigorar até abril de 2022.