O Aeroporto Internacional do Recife, administrado pela Aena Internacional, única concorrente ao leilão de Congonhas, aparece como o segundo pior no mais recente ranking de avaliação dos passageiros
O governo Bolsonaro entregou o Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o segundo mais movimentado do país em número de passageiros, e outros dez terminais, no Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Pará, por R$ 2,45 bilhões, para a empresa estatal espanhola Aena Desarollo Internacional.
A empresa espanhola já opera seis aeroportos no país, incluindo o Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes – Gilberto Freyre, apontado pelos passageiros como o segundo pior do país. No último ranking de Satisfação do Passageiro, o terminal de Recife aparece como o segundo pior pelos passageiros e desempenho aeroportuário, segundo dados do 4º trimestre de 2021, levantados pela Secretaria de Aviação Civil (SAC), ligado ao Ministério da Infraestrutura. O índice geral de satisfação em Recife (4,24) foi inferior ao da última pesquisa trimestral (4,37) realizada quando o aeroporto ainda era administrado pela estatal Infraero
Além de Recife, a companhia espanhola já opera os terminais de Maceió, João Pessoa, Aracaju, Juazeiro do Norte (CE) e Campina Grande (PB).
No leilão da sétima rodada de privatizações dos aeroportos, nesta quinta (18) na Bolsa de Valores de São Paulo, onde foram ofertados 15 aeroportos, reunidos em três blocos, a Aena foi a única a apresentar oferta pelo principal bloco. , Além do Aeroporto de Congonhas, considerado a “joia da coroa” pelos especialistas do setor, foram entregues os aeroportos de Campo Grande (MS), Corumbá (MS), Ponta Porã (MS), Santarém (PA), Marabá (PA), Carajás (PA), Altamira (PA), Uberlândia (MG), Uberaba (MG) e Montes Claros (MG).
Ainda no leilão, o fundo XP Infra IV FIP em Infraestrutura levou os aeroportos de Campo de Marte (SP) e Jacarepaguá (RJ), ambos do bloco Aviação executiva, por R$ 141,4 milhões, sem ágio em relação à outorga mínima estabelecida no edital.
Já o Bloco Norte, contendo os terminais de Belém (PA) e de Macapá (AP), foi arrematado pelo Consórcio Novo Norte Aeroportos – formado pelas empresas Dix Empreendimentos Ltda e Socicam – por R$ 125 milhões, um ágio de 119,7% em relação à outorga mínima estabelecida no edital, de R$ 56,9 milhões.
Com as concessões dos 15 terminais aéreos, que valem por 30 anos, ao todo, o governo arrecadou R$ 2,716 bilhões.
AEROPORTO INTERNACIONAL DE RECIFE
Em 2019, a empresa espanhola arrematou o Aeroporto Internacional do Recife, junto com os outros 5 terminais localizados na região Nordeste, pela bagatela de R$ 1,9 bilhão à vista. A transferência de controle do terminal ocorreu em março de 2020.
Em fevereiro deste ano, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) decidiu, por unanimidade, penalizar a empresa Aena por falta de qualidade em serviços prestados no Aeroporto do Recife. A agência entendeu que houve descumprimento do nível de qualidade exigido para serviços prestados no aeroporto entre agosto de 2020 e julho de 2021. A decisão teve caráter definitivo, ou seja, não cabe mais recurso.
Entre as falhas observadas pela Anac estão problemas nos sistemas de processamento de bagagens no embarque e de devolução das bagagens no desembarque dos passageiros. Por conta disto, Anac decidiu aplicar um decréscimo de -0,5230% no Fator Q, o índice que define bônus ou penalizações sobre o reajuste tarifário dos aeroportos.
A Anac já havia multado a Aena em R$ 204 mil por problemas no sistema de climatização do terminal de João Pessoa (PB). A situação foi verificada em uma visita de rotina feita por técnicos da Anac em fevereiro de 2021. Na ocasião, a temperatura estava entre 29ºC e 42°C – quando deveria variar entre 22,5°C e 25,5°C, segundo as normas vigentes. Segundo a agência, a elevação da temperatura aconteceu “por falta de equipamentos e sistema de climatização”.
APAGÃO
No mês passado, um apagão no sistema de iluminação da pista de pouso e decolagem do Aeroporto Internacional do Recife, desencadeados por falhas de baterias, provocou a suspensão de todos os voos por quatro horas. Muitos dos passageiros inclusive estavam voltando das festividades de São João, principalmente das cidades de Caruaru e Campina Grande, que realizavam as maiores festas do gênero. Cerca de 20 voos foram cancelados e mais de 10 partiram com atrasos superiores a cinco horas.
LOJISTAS: A GENTE ERA FELIZ E NÃO SABIA
Os lojistas do terminal de Recife afirmam que quando a Aena assumiu o aeroporto passou a cobrar taxas com base em informações que os lojistas não têm acesso. “A expectativa de todos era que, quando a Aena chegasse, tivéssemos uma gestão melhor no aeroporto. Engano nosso. A gente era feliz e não sabia”, afirmou uma empresária que preferiu não se identificar por medo de ser prejudicada.
Ela lembra que a Infraero, antes de passar a gestão para a empresa espanhola, renovou por seis meses os contratos nos mesmos termos, garantindo estabilidade para os lojistas na transição de gestão do aeroporto. Mas a espanhola não deu importância. “Quando a Aena assumiu, começaram a alterar os contratos já na primeira conversa”, disse em entrevista ao Brasil de Fato. “Em vez de pagarmos o condomínio e o percentual sobre vendas, como tem no contrato, eles passaram a cobrar um percentual referente a voos e passageiros que passam pelo aeroporto. Mas, como os lojistas podem ter controle sobre isso? Como podemos discutir com a Aena?”, questiona. A empresária afirma ter comparado com dados de voos e passageiros fornecidos pela Anac e que são diferentes das informações alegadas pela Aena.
ATRASO NAS OBRAS
A empresa espanhola também atrasou as obras no bloco Nordeste, culpando a pandemia. E com aval do governo, através da Anac, a Aena Internacional conseguiu um termo aditivo ao contrato de concessão com prazo adicional para a entrega da fase 1-B, que compreende a parte mais pesada de reformas e melhorias nos aeroportos concedidos. O prazo passou de outubro de 2022 para agosto de 2023.