“Governo Bolsonaro vive de mentiras”, afirma senadora Eliziane Gama

Senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). Foto: Divulgação
A senadora do Cidadania-MA não poupa críticas ao governo Bolsonaro pela má condução das medidas de enfrentamento à pandemia. “O governo Bolsonaro é sinônimo de ‘fake news’. Vive de mentiras, da distorção de fatos, um método para manter sua base mobilizada”, disse

“Mesmo antes da CPI, o presidente Bolsonaro incorria em muitos crimes de responsabilidade. Para além dos palavrões, apologia de golpe [de Estado] e desmantelamento criminoso do Estado, a CPI descortina prevaricação do presidente em relação a processos de corrupção na compra de medicamentos e à morte de milhares de brasileiros”, disse a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) em entrevista ao Correio Braziliense.

Na longa entrevista, publicada nesta segunda-feira (26), a senadora aborda variados assuntos e destaca a participação das mulheres na CPI da Covid-19 no Senado, em que ela chama a atenção para o fato da comissão ter ganhado “nova vida com a maior participação” das senadoras.

A CPI, neste recesso que se encerra em 31 de julho, criou sete núcleos de investigação. Desses sete, a senadora participa de três. “Já é possível concluir que a indicação de remédios sem eficácia teve como objetivo criar uma narrativa para sustentar junto à opinião pública a estratégia maior do governo, da imunidade de rebanho”, chamou a atenção.

Os sete núcleos ou frentes vão investigar as suspeitas de irregularidades que envolvem hospitais federais do Rio de Janeiro e organizações sociais. O segundo núcleo pretende se aprofundar nas suspeitas de corrupção envolvendo o contrato para a compra da vacina indiana Covaxin.

Uma terceira linha de investigação diz respeito às empresas que tentaram intermediar a venda de vacinas para o ministério. Uma quarta frente de investigação quer aprofundar a relação de empresa com contratos públicos. A quinta linha de apuração vai investigar as chamadas “fake news”, a disseminação de notícias falsas para o enfrentamento da pandemia.

A sexta frente quer apurar o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra Covid-19 como a cloroquina. A sétima frente ou núcleo quer apurar atitudes negacionistas do governo ou de simpatizantes.

“Ou seja, uma cortina de fumaça. Mas a CPI quer mais, acredita que por trás das drogas inúteis esteja uma máquina de ganhos fáceis, que ainda não sabemos qual a sua real dimensão e disseminação. Há muita gente ganhando dinheiro com esse jogo mesquinho do tratamento precoce”, acrescentou.

A CPI foi instalada em 27 de abril com prazo de 90 dias de funcionamento e teve os trabalhos prorrogados, por mais 90 dias, em 14 de julho. Desse modo vai funcionar, para desespero de Bolsonaro e do governo, até o início de novembro. A comissão foi criada para investigar as ações, omissões e inações do governo federal, sob a liderança de Bolsonaro, na gestão da pandemia do novo coronavírus.

“MOTIVOS MAIS QUE SUFICIENTES PARA AFASTAR O PRESIDENTE”

As investigações da CPI se juntam às demandas dos pedidos de impeachment, cujo número de pedidos encaminhados à Câmara dos Deputados chega a mais de 120. “Entre indícios e provas irrefutáveis sempre há alguma distância”, disse Eliziane.

“Há declarações públicas de cometimentos de crime, indícios claros de tentativas de superfaturamento na compra de vacinas, relações não republicanas entre mercado e poder públicos, ações conscientes que atentaram contra a saúde do povo apenas por interesse ideológico”, enumerou.

“Já é possível traçar um comportamento de desdém do governo em relação à vida. Existem motivos mais que suficientes para afastar o presidente do cargo. Tudo está a depender de maiorias no Congresso Nacional. Na opinião pública, o presidente já perdeu o apoio, sustentabilidade”, enfatizou.

“POSTURA NEGACIONISTA E DESPREZO PELA VIDA”

Estudos científicos dão conta que quatro entre cinco dos que morreram de Covid-19 poderiam estar vivos caso o governo tivesse seguido os protocolos básicos orientados pela OMS (Organização Mundial de Saúde), como isolamento e distanciamento social e também uso de máscara e álcool em gel.

“A pandemia é cruel. Inevitavelmente, ceifaria a vida de muitos brasileiros. Mas com sua postura [a de Bolsonaro] negacionista e desprezo pela vida, milhares de brasileiros morreram pela inépcia do governo federal, ao desdenhar da vacina e da adoção de regras higiênicas mais rígidas”, criticou.

“Tudo em nome de uma ‘imunidade de rebanho’ para, pretensamente, salvar a economia. Os países mais prudentes — EUA, Israel, Austrália, Alemanha, Inglaterra, entre outros — sofreram, mas cuidaram melhor do seu povo”, comparou.

FUNDO DE AMPARO PARA ÓRFÃOS DA COVID-19

A senadora apresentou à Casa projeto de lei com propósito de amparar os órfãos, cujos os pais ou cuidadores morreram de Covid-19. Trata-se de demanda social que está gerando e vai aumentar desagregação social.

“Essa é uma das questões a serem enfrentadas pelo Congresso. Eu mesmo apresentei projeto para que os órfãos não fiquem desamparados com a morte de seus progenitores”, lembrou.

“Meu projeto, inclusive, recebeu o apoio de senadores membros da Comissão Temporária da Covid-19, devido à sua relevância. Precisamos de união para enfrentar essa enorme tragédia [social]”, pontificou.

LIDERANÇA FEMININA NO SENADO

Eliziane Gama é autora do projeto de resolução que cria a liderança feminina no Senado e uma das articuladoras do acordo que garantiu a participação das mulheres na CPI. A senadora afirma: “Estamos acrescentando, alargando, é uma luta longa. Acreditamos que a CPI realmente ganhou nova vida com a maior participação das mulheres”.

“Na CPI, trazemos o olhar feminino da tolerância, do respeito aos outros, aos depoentes, às mulheres, sem perder a objetividade que os fatos impõem. Acho que nós, mulheres, temos mais facilidade para nos despirmos do manto da arrogância”, disse sem exageros.

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