Em documento conjunto assinado na última sexta-feira (7), o governo Gustavo Petro e o comando do Estado-Maior Central (EMC) das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP) anunciaram a instalação de uma Mesa de Diálogo de Paz, colocando fim a décadas de conflito. Alimentado por sucessivos governos estadunidenses, que ergueu bases em todo o território, o confronto entre militares e guerrilha já dura 60 anos, tendo sangrado o país com pelo menos 450 mil mortos.
A declaração foi assinada por Andrey Avendaño Guevara, da comissão de diálogo do grupo dissidente das Farc – que, apesar da vitória do governo progressista, ainda mantém cerca de 3.500 guerrilheiros mobilizados – e Danilo Rueda, do Gabinete do Alto Comissariado para a Paz. As reuniões entre ambas as partes foram realizadas sob estrita vigilância comum em Catatumbo, Norte de Santander, na planície Yarí, e em San Vicente del Caguan (Caquetá).
Conforme ficou estabelecido, será instalada uma Equipe Nacional de Geração de Confiança e Resolução de Contingências, composta por representantes do Governo Nacional e do EMC das Farc-EP, funcionários do Gabinete do Alto Comissariado para Paz e delegados da comunidade internacional, da Igreja Católica e do Conselho Mundial de Igrejas, com os dispositivos de segurança e proteção das comissões de diálogo e outros mecanismos.
O documento aponta que, inicialmente, os representantes vão se concentrar nas adequações ao protocolo de cessar-fogo bilateral e temporário de carácter nacional e proteção da população civil, com implementação de mecanismos de fiscalização, monitoração e verificação nos seus pontos nacionais e locais, além de serem contemplados mecanismos de participação da sociedade civil.
Com a mesma ênfase, as partes reiteram a firme intenção de avançar na construção de um Acordo de Paz que “ponha fim ao confronto armado e que promova a conquista de uma paz integral, estável e duradoura, com justiça social e ambiental”.
Por fim, informam que nos próximos dias o governo e o EMC das Farc anunciarão publicamente os nomes dos componentes das delegações.
Na avaliação do delegado da Conferência Episcopal, Eliécer Soto Ardila, o processo de negociação apontou para a formação da mesa e de pontos regionais, num clima de seriedade e respeito. “Isso está avançando em uma geração de confiança tanto para a construção da mesa de diálogo quanto para a reativação do cessar-fogo quanto do mecanismo de verificação do cessar-fogo”, assinalou.
A EMC é uma das duas facções separatistas das Farc que não assinaram o acordo anterior, que conseguiu a pacificação de 13.000 pessoas, levando à criação de um partido político que conquistou 10 cadeiras no Congresso. Outro grupo rebelde, o Exército de Libertação Nacional (ELN), que não participou do acordo de 2016, se encontra em plenas negociações com o governo Petro, tendo anunciado para agosto o início de um cessar-fogo de seis meses.