
Maior distribuidora de combustíveis do Brasil já não é mais pública
A Petrobrás vendeu na quarta-feira (30) o último lote de ações de sua propriedade da BR Distribuidora. O lote comercializado representa 37,5% do total de ações da companhia. Depois de 50 anos de operação sob a propriedade da Petrobrás a BR passa a ter uma composição acionária exclusivamente de particulares. Foi a última cartada para a completa privatização da distribuidora.
A operação foi realizada na Bolsa de Valores – B3. Movimentou R$ 11,36 bilhões e é a maior realizada pela B3 este ano. A Petrobrás não receberá nenhum centavo desse resultado, o valor arrecadado será creditado diretamente ao Tesouro Nacional e só pode ser utilizado para pagamento de juros aos bancos.
A BR Distribuidora possui cerca de 8 mil postos de serviços e 1,1 mil lojas de conveniência da marca BR Mania. Possui cerca de 4.000 funcionários celetistas.
Em 2020 o lucro líquido da empresa foi de R$ 3,9 bilhões. Nessa base de lucros em três anos os aplicadores poderiam, em tese, recuperar seu investimento e seguir recebendo dividendos.
A privatização da BR está alinhada à estratégia de desinvestimento estabelecida desde a gestão de Graça Foster em 2015 e da estratégia de governo(s) de privatização das empresas estatais.
Os bancos Morgan Stanley, BofA, Citi, Goldman Sachs, Itaú BBA e JP Morgan, além da corretora XP, foram os responsáveis pela transação.
Não há informação dos arrematantes e de como fica a composição acionária da empresa. A majoritária participação de grandes corporações no setor de óleo, gás e energia em geral de multinacionais indica a provável desnacionalização da companhia.
O processo de alienação da BR segue o andamento expresso, pelo agora, ex- ministro do Meio Ambiente Ricardo Sales: “vamos aproveitar a pandemia e passar a boiada”.
Na gestão de Paulo Guedes até os embustes de Bolsonaro serviram de cobertura para transações tenebrosas, inclusive escusas, como a transferência de R$ 2,9 bilhões de crédito do Banco do Brasil ao BTG por R$ 371 milhões, cujo potencial de recuperação de créditos pode chegar a 70%, conforme analistas.
A venda da BR para a iniciativa privada cria um monopólio entre três grandes participantes. Conforme o último boletim de abastecimento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a BR possui cerca de 23% de participação, seguida de perto da Raízen (Shell) com 20,5% e da Ipiranga com 19,3%.
O monopólio do setor sem a empresa pública vai favorecer uma administração de preços sem controle social. Qualquer agência que seja destacada para fiscalização com esse fim nada vai conseguir diante da força que se concentrou nas mãos dessas empresas com a exclusão da participação pública. É certo que o cartel vai advogar a mesma atual política de preços da Petrobrás. Já foi exercida para garantir os novos proprietários e deixar a má fama com o Estado.
O processo de privatização atua contra novos investimentos. Isso ocorre porque ao invés de se atrair capitais para novos empreendimentos, estes são atraídos para adquirir empresas e estruturas já em funcionamento. O capital agregado após privatizações foram pouco expressivos.
Insistir nessa estratégia até a última privatização, conforme desejo de Guedes, só vai aprofundar a crise em que meteram o país, com uma pandemia para agravar, ainda mais.
A exemplo da Petrobrás, que distribuiu no balanço de 2020 dividendos acima dos lucros operacionais, a BR está sob a ação de investidores “abutres” cuja ação deletéria promove a esvaziamento da empresa pelo “sugamento” de lucros, sobre alienação de patrimônio, demissões em massa, ausência ou falta de investimentos e outros expedientes.
Essas ações de aplicadores vão ao encontro do interesse das concorrentes e podem contribuir, coordenadamente ou não para o esvaziamento de empresa sujeita a esses ataques.
De dois parágrafos de matéria do Estadão sobre a venda das ações extraí duas frases que dizem muito, quase tudo que o mercado espera dessa completa privatização da BR.
“A expectativa do mercado está em torno dos ganhos com a nova gestão da BR Distribuidora” ou “ainda na visão do mercado retira qualquer risco político em torno da empresa”.
Há um risco político que assombra o mercado. É a possibilidade de controle de mercado. A condição que, por exemplo, a BR tinha de segurar os preços e impedir o sobre preço, característica da natureza antissocial dos monopólios privados.
“A expectativa do mercado está em torno dos ganhos com a nova gestão”. Nestas expectativas estão incluídos a ganância de investidores que desejam lucros do seu capital aplicado e o resto é o resto. Tem muito pouco compromisso com a operações das empresas, são como abutres, buscam ganhar na especulação no lucro ou no prejuízo das companhias.
A transferência da participação da Petrobrás e, portanto, do Estado na BR foi efetivada em três operações na Bolsa de Valores. A primeira em 2017 quando foram vendidas 30% de ações, operação que resultou em R$ 5 bilhões arrecadados. Em 2019 outros 30% de ações foram vendidas com R$ 8 bilhões de resultado e agora em 2021 com a venda do restante das ações.
J.AMARO
foi entregue de graça ,um crime de lesa-pátria, um assalto ao patrimonio público.