
Médium afirma incorporar o espírito do mentor Cacique Cobra Coral, que também já teria sido de Galileu Galilei e Abraham Lincoln
Para resolver os problemas da falta de chuva no país, o Ministério de Minas e Energia (MME) convocou recentemente representantes de uma entidade esotérica intitulada Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC). O objetivo: fazer chover nos reservatórios de hidrelétricas neste ano e reduzir os riscos de apagão que ameaçam nosso país.
Em seu site, a organização afirma ser presidida por uma “médium que incorpora o espírito e mentor Cacique Cobra Coral, que também já teria sido de Galileu Galilei e Abraham Lincoln”. A reunião com a entidade – a FCCC, não o espírito – foi confirmada pelo MME.
A Cacique Cobra Coral, a quem são atribuídos poderes de controle do clima, foi recebida para “tratar da tragédia econômica e energética do país e os meios para recuperar tais precipitações irregulares no lugar certo ainda na estação inverno que se finda e primavera”, segundo a mensagem de Osmar Santos, porta-voz da organização esotérica, reproduzida pelo comunicado do Ministério.
“Durante a audiência, o senhor Osmar (diretor de relações governamentais do instituto) relatou aos técnicos do MME que o instituto faz serviços de previsões dos mais variados tipos”, afirmou a pasta. “Como servidores públicos, os servidores do MME apenas e tão somente ouviram as informações do senhor Osmar”, acrescentou o MME em nota.
Na semana passada, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) afirmou que a projeção para o nível das represas de hidrelétricas do país é que eles cheguem até o fim do mês com 16,7% da sua capacidade na região Sudeste/Centro-Oeste, contra projeção de 15,2% feita na semana anterior.
O ONS afirmou ainda que vê ainda um cenário “bastante preocupante” para 2022 e recomendou que o país permaneça mobilizado para enfrentar a próxima estação seca.
O site da organização afirma que sua missão é “minimizar catástrofes que podem ocorrer em razão dos desequilíbrios provocados pelo homem na natureza”.
Segundo declaração de Osmar Santos à revista “Veja”, o representante afirmou que a médium da Fundação, Adelaide Scritori, iria trazer “muita chuva” para Minas Gerais a partir de novembro.
A FCCC já afirmou ter dado conselhos a ministros do governo Bolsonaro e até fechado parcerias para ajudar no desencalhe de um navio no canal de Suez, no Egito.
Veja mais sobre a organização no canal do Youtube Meteoro Brasil:
Empresários manifestaram irritação com o encontro
A reunião com a entidade esotérica Fundação Cacique Cobra Coral, que diz controlar o clima, desagradou representantes do empresariado que vêm, há meses, tentando convencer o governo de que haveria benefício econômico em retomar o horário de verão para resolver o problema energético agravado pela falta de chuva.
Fabio Aguayo, diretor da Confederação Nacional do Turismo (CNTur), uma das entidades de turismo que defende a mudança no relógio para alongar o tempo de atendimento no comércio e nas atividades de lazer, diz que o encontro do ministério com a Cobra Coral mostra que o governo está preocupado, mas não pode contar com a sorte e esperar um dilúvio para resolver a questão energética.
Para Aguayo, o ministro do meio ambiente Bento Albuquerque é “intransigente e cabeça dura”. Ele afirma que deve ser difícil por parte do governo admitir a volta do horário de verão porque o debate tomou um rumo ideológico comparável a cloroquina e tratamento precoce, quando deveria ser mais econômico, científico e estratégico.
O grupo pró-horário de verão iniciado por Aguayo, que tem apoio de associações de bares e restaurantes, argumenta que a medida promoveria alguma economia de energia. Também permitiria estender o funcionamento de atividades ligadas ao lazer e ajudaria os negócios mais afetados na pandemia.
“Eles estão em um momento crítico. Não podem contar com a sorte. Não podem contar com a sorte de que vai ter um dilúvio, um tsunami de chuva no Brasil. Não vai. Ficaram tão fechados nesse mundinho deles da ideologia, agora estão indo para o lado esotérico. É o que restou para eles”, afirma Aguayo.