O planejamento realizado pelo Exército para defender as fronteiras do país e combater com mais eficiência o tráfico de drogas e de armas está perdendo força perante os cortes realizados pelo governo.
Entre 2016 e 2017, o investimento no Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) realizado pelo governo Michel Temer (PMDB) sofreu uma queda bruta, de R$ 258,7 milhões para R$ 132,4 milhões, uma redução de 54%.
O Sisfron foi implantado em 2013 e abrange um trajeto de 650 quilômetros em Mato Grosso do Sul, divisa com o Paraguai e Bolívia. Esse trajeto equivale somente a 4% dos 16.686 quilômetros de fronteiras no Brasil.
A previsão inicial era que o sistema funcionasse em toda a linha de fronteiras do país a partir de 2022, porém a realidade é outra. A estimativa agora é de que isso aconteça apenas em 2035, a depender, segundo o Ministério da Defesa, da “manutenção do fluxo orçamentário”. A aplicação total do sistema em toda a fronteira nacional custaria em torno de R$ 12 bilhões.
A “dotação inicial” de 2017, montante reservado pelo governo federal no início do ano para a implantação do projeto, era de R$ 449,7 milhões. Porém, o governo Temer desembolsou somente os R$ 132,4 milhões já citados, equivalente a 29% do previsto. Contingenciamentos e cortes feitos pelo governo tornaram essa situação como está.
Em 2018, a dotação inicial caiu para R$ 391,5 milhões, uma redução de 16% em comparação com o previsto no inicio do ano passado.
CORTES NOS ESTADOS
Entre os anos de 2015 e 2017, onze estados realizaram cortes no orçamento da área de segurança. Pois o que mais intriga a todos é o fato do estado do Rio de Janeiro, onde uma recente intervenção militar está acontecendo devido a situação da violência, estar liderando esta lista.
O Rio realizou neste intervalo de três anos, o maior corte do país em gastos com segurança pública em valores absolutos, R$ 888 milhões, já atualizados pela inflação, uma queda de 9%. Enquanto isso os grandes traficantes e chefes do crime aumentam suas atividades e seus lucros gigantescos perante a ineficiência do governo no combate ao crime.
A escalada da criminalidade no Rio foi a justificativa do presidente Michel Temer (PMDB) para decretar a intervenção militar na segurança do estado no último mês. O general do Exército Walter Braga Netto assumiu o comando das polícias e do setor penitenciário.
Segundo o economista Daniel Cerqueira, conselheiro do Fórum Nacional de Segurança e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), “o coração do combate ao crime nos países desenvolvidos está na área de informação e inteligência, que permite o mapeamento dos grupos e de como eles agem para levar à prisão dos cabeças das organizações”, afirma. Que no caso, não é algo em que o estado do Rio de Janeiro investe, muito pelo contrário, é o estado que lidera a queda de investimentos em inteligência e logística.