Famílias já estão pagando tarifa da bandeira vermelha até abril; rombo do empréstimo vai para as contas de energia
As contas de energia, que já pressionaram fortemente o orçamento das famílias e a inflação em 2021, ficarão mais altas em 2022. O “socorro financeiro” aprovado pelo governo para 60 distribuidoras privadas de energia elétrica em meados de dezembro, vai adicionar um reajuste de 9,1% às contas residenciais, segundo estimativas do Ministério de Minas e Energia.
Por conta da política de zero investimentos na produção de energia e das benesses oferecidas para as empresas privadas que operam o setor, a população já está pagando a conta pela escassez hídrica prevista há mais de 5 anos por especialistas.
O resultado foi que o consumidor teve que arcar desde agosto com a elevação dos custos e foi obrigado a pagar a chamada bandeira tarifária vermelha (de escassez hídrica), a mais cara de todas, que acrescenta R$ 14,20 ao valor pago a cada 100kW/h consumidos. As tarifas extras compensam a escassez de chuvas e acionamento das termoelétricas, que geram energia mais cara. E tudo é jogado nas costas do consumidor.
Agora, em entrevista, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, alega que a “crise de energia nunca ocorreu”. Mas a conta foi paga pelo povo.
O novo empréstimo, concedido através da MP 1.078/21 às distribuidoras pelo mesmo governo que diz que não tem dinheiro para nada, será de até R$ 18 bilhões, que segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) será diluído ao longo de 2022.
ONDA DE AUMENTOS
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) indica que a inflação acumula alta de 10,74% em 12 meses até novembro. A pressão vem, principalmente, dos preços que deveriam ser administrados pelo governo, como: alimentos, gás de cozinha, combustíveis, energia elétrica e aluguel. Para conter a inflação, a solução do governo foi aumentar os juros, ou seja, a arrochar o consumo e eliminar a possibilidade de investimentos em um cenário de demanda já reprimida.
Os contratos de aluguéis, reajustados de acordo com o IGP-M, passarão boa parte do ano com a taxa de 17,78%, de 2021, como referência. Para este ano, o aumento médio das mensalidades escolares será de 10% e as famílias ainda terão de arcar com a alta dos preços do material escolar, apura o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp).
A gasolina acumula, em 12 meses até novembro, alta de 50,78%; o etanol, de 69,40%; e o diesel, de 49,56%. De acordo com analistas do mercado, é provável que o litro da gasolina fique entre R$ 7 e R$ 8 ao longo deste ano, pois o dólar tenderá a refletir a tensão eleitoral. Adiciona-se a isso a manutenção da política que atrela o barril de petróleo no Brasil, país autossuficiente, aos preços internacionais. Os combustíveis com preços na lua não penalizam apenas quem usa veículos, mas ajudam a encarecer a produção e os valores agregados a produtos e serviços como um todo.
Sentindo esse efeito, as passagens de ônibus devem ser reajustadas para acompanhar a inflação. Conforme estudo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), devido à alta dos preços do diesel e da falta de reajustes há dois anos por causa da pandemia, a correção deveria ser de 50%. Mas, pelo que foi informado pelos prefeitos ao Palácio do Planalto, o aumento dos bilhetes será de até 11%.
No último dia do ano, o governo confirmou que o salário mínimo nacional será de R$ 1.212 em 2022 – valor sem aumento real e que, atualmente, não banca nem duas cestas básicas em São Paulo, atualmente custando em média R$ 700. A renda média do trabalhador brasileiro cedeu este ano, de acordo com a Pnad Contínua, a níveis de 2012.