Lula se comprometeu também a ajudar nas negociações com o FMI. O diretor brasileiro no banco foi indicado por Bolsonaro e é o mais intransigente de todos os demais diretores da instituição
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na tarde da terça-feira (2), a visita do presidente da Argentina, Alberto Fernández. O encontro foi na residência oficial do Palácio da Alvorada. A Argentina é um dos principais parceiros econômicos do Brasil. Em 2021, ficou atrás somente de China e Estados Unidos.
Entre os assuntos tratados esteve a intensificação do comércio entre os dois principais países do Mercosul. O Brasil era o principal parceiro comercial da Argentina, mas perdeu essa condição para a China. O Brasil exporta produtos industriais para o país vizinho, que vive uma crise econômica grave com restrições cambiais importantes.
O governo estuda acertar linhas de créditos para exportações brasileiras à Argentina. Segundo o Ministro da Fazenda Fernando Haddad, as linhas de crédito em discussão seriam destinadas a empresas argentinas que compram produtos exportados por companhias brasileiras. Com isso as empresas brasileiras voltariam a exportar para a Argentina.
Países como a China, que ultrapassou o Brasil no comércio com a Argentina, já têm linhas de crédito como as que o Brasil vai abrir agora. As linhas de crédito abertas pelo Brasil teriam garantias, que poderiam ser executadas no caso de não pagamento pelos compradores de produtos brasileiros.
O presidente Lula se comprometeu também a ajudar o presidente Alberto Fernández nas negociações junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Alberto Fernández se queixou pela falta de apoio por parte do diretor brasileiro a seu país. Afonso Bevilaqua foi indicado por Bolsonaro e seu mandato vence no final do ano que vem.
Fontes que estiveram no encontro afirmaram que o governo argentino reclamou da dureza do FMI na renegociação de um acordo selado no governo do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), que busca, essencialmente, rolar os vencimentos de um empréstimo de US$ 44 bilhões. Cogita-se o envolvimento direto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que poderia se comunicar com a equipe negociadora do acordo com a Argentina nas próximas semanas, além de com o diretor brasileiro.
Lula disse que pediria ao FMI que tirasse “a faca do pescoço da Argentina”. Ele estava se referindo à instituição e também ao diretor do Brasil — e de outros nove países que o elegeram em 2022 — no Fundo. Segundo relatos, o diretor brasileiro do FMI foi mais duro com a Argentina do que outros de países como Alemanha e Estados Unidos. Fernández também pediu apoio ao governo de Joe Biden no organismo.
Participam do encontro Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores; Fernando Haddad, ministro da Fazenda; Gabriel Galípolo, secretário-executivo do Ministério da Fazenda; Aloizio Mercadante, presidente do BNDES e Celso Amorim, assessor-chefe da assessoria especial da Presidência.