Eles são investigados por uso ilegal de sistema de geolocalização de dispositivos móveis (GPS) durante o governo Bolsonaro. Foram exonerados “a bem do serviço público”
Descoberta mais uma patranha do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). É muito pouco provável que esse desmando criminoso não tinha a anuência e conhecimento dele. As investigações devem desvendar essa hipótese.
Daí não restou outra coisa a fazer, a não ser o governo federal demitir, na última sexta-feira (20), três servidores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) presos em operação da PF (Polícia Federal) que investiga o uso de sistemas de GPS para rastrear celulares sem autorização judicial.
Os servidores são: Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Izycki. As demissões foram publicadas no DOU (Diário Oficial da União). Foi demitido também o secretário de Planejamento, Paulo Maurício Fortunato Pinto, terceiro na hierarquia do órgão.
Na verdade, como se trata de servidores públicos concursados, eles foram exonerados, a “bem do serviço público”, para usar a terminologia correta.
USO ILEGAL DE SISTEMA DE GPS
Estes servidores são investigados por uso ilegal de sistema de GPS (geolocalização de dispositivos móveis).
Também foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão na operação da PF. A suspeita dos investigadores é de que a Abin tenha utilizado ilegalmente sistema adquirido pelo governo federal para rastrear as localizações de jornalistas, políticos, advogados e desafetos do governo.
De acordo com investigações da PF, o sistema foi usado para espionagens sem a devida autorização judicial. A Abin acrescentou ainda que a ferramenta deixou de ser utilizada em maio de 2021.
As condutas ilegais, segundo a PF, ocorreram durante o governo de Jair Bolsonaro.
Na época, a agência era presidida pelo atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). Neste caso, pelo menos por enquanto, Bolsonaro e Ramagem não são alvo de mandados.
EIS OS FATOS
A operação da PF foi deflagrada na última sexta-feira. Chamada de Última Milha, trata-se de investigação sigilosa da Abin sobre militares do gabinete pessoal de Bolsonaro que levantaram dados pessoais do chefe da Receita, revelada na última quinta-feira (19), que reacendeu antiga suspeita que pairava sobre o governo do ex-chefe do Executivo: o uso de estruturas de inteligência para atender aos interesses do presidente e familiares.
Em reunião ministerial de abril de 2020, divulgada por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), o então chefe do Executivo chegou a afirmar que contava com sistema “particular” de informações.
“O meu particular funciona. Os que têm oficialmente, desinformam. E voltando ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”, afirmou na ocasião.
A investigação sobre o rastreamento de desafetos de Bolsonaro foi aberta em março deste ano por determinação do ministro da Justiça, Flávio Dino, após reportagem do jornal O Globo revelar naquele mês que a Abin teria utilizado, sem protocolo oficial, sistema que permite rastrear os telefones celulares.
O inquérito é conduzido pela PF e está sob a relatoria do ministro do STF, Alexandre de Moraes.
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