
Laboratório de máxima contenção biológica será o primeiro da América Latina e o primeiro do mundo conectado a um acelerador de partículas, o Sirius
O governo federal anunciou a inclusão da construção do laboratório de biossegurança máxima (NB4) no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). O laboratório de biossegurança máxima, o primeiro da América Latina, contará com investimento de R$ 1 bilhão, será construído no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP), e terá uma característica única no mundo: é a primeira vez que a estrutura estará conectada a uma fonte de luz síncrotron, o acelerador de partículas Sirius.
O complexo laboratorial de máxima contenção biológica representa um avanço para o Brasil, que permitirá pesquisas com patógenos capazes de causar doenças graves e com alto grau de transmissibilidade (das chamadas classes 3 e 4), estrutura essa que não existe até hoje em toda a América Latina. A estrutura será capaz de estudar e analisar vírus como o Ebola, por exemplo, que são mais perigosos que o Sars-Cov-2, causador da Covid-19.
“Os investimentos anunciados hoje refletem o compromisso do governo do presidente Lula com a retomada do crescimento econômico e a geração de emprego e renda para a população”, disse a ministra de ciência, tecnologia e inovação (MCTI) Luciana Santos.
“No caso dos investimentos em ciência e tecnologia incluídos no PAC, é o reconhecimento do papel estratégico dos projetos estruturantes do MCTI no desenvolvimento de soluções para os mais diversos desafios da sociedade e do país”, completou.
A construção de um laboratório NB4, o de nível de biossegurança mais alto, já era pauta do ministério que, em 2020, liberou cerca de R$ 3 milhões ao pré-projeto da estrutura.
Possuir um laboratório de biossegurança máxima (NB4) oferece condições ao país de monitorar, isolar e pesquisar os agentes biológicos para desenvolver métodos de diagnóstico, vacinas e tratamentos.
No caso do Brasil, mais do que armazenar e manipular essas amostras biológicas, o laboratório de biossegurança máxima terá acesso exclusivo a três linhas de luz (estações de pesquisa) do Sirius, o que não existe em nenhum outro lugar do mundo. É por conta dessa conexão com o Sirius que vem o nome do projeto, Orion, em homenagem à constelação que possui três estrelas apontadas para a estrela que batizou o acelerador de partículas brasileiro.
O projeto prevê a capacitação de cientistas brasileiros para lidar com agentes infecciosos desses tipos. Essa formação já integra o custo previsto de R$ 1 bilhão.
O complexo laboratorial terá cerca de 20 mil metros quadrados, e sua construção está prevista para ficar pronta até 2026. Após essa etapa, o Orion passará pelo chamado comissionamento técnico e científico, e também por certificações internacionais de segurança, para que possa entrar em operação regular.
ÚNICO NO MUNDO
De acordo com Antonio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM, além de instalações laboratoriais em NB3 e NB4 e das estações de pesquisa com técnicas de luz síncrotron, junto ao Sirius, o projeto deve ainda reunir laboratórios de pesquisa básica, técnicas analíticas e competências avançadas para imagens biológicas, como microscopias eletrônicas e criomicroscopia.
“Todas essas competências científicas reunidas em um único complexo é algo que o diferencia de toda infraestrutura disponível no Brasil e no mundo”, destaca.
Ainda, de acordo com o CNPEM, existem cerca de 60 laboratórios de máxima contenção no mundo, com estrutura e certificados para manipular amostras biológicas classificados como “classe 4”, nenhum deles na América do Sul, Central ou Caribe.
Para se ter uma ideia, o primeiro e único vírus desta categoria já identificado no Brasil, o Sabiá (SABV), que causa a febre hemorrágica brasileira, doença diagnosticada em humanos pela primeira vez na década de 1990, tem amostras isoladas armazenadas no exterior.
Pesquisas mais aprofundadas sobre a doença não são realizadas hoje em solo brasileiro por falta de infraestrutura adequada. Segundo Antônio José Roque da Silva, diretor-geral do CNPEM, a doença teve recentes notificações.
Ainda, um dos pontos-chave do projeto está na capacitação de pessoal, que contará com parcerias com instituições internacionais de referência e treinamentos no exterior. O programa prevê atividades práticas em ambiente-modelo (Laboratório Mockup), no próprio CNPEM.
Segundo Silva, as equipes enfrentarão condições simuladas, sem a manipulação de materiais infecciosos ou risco de contágio, sob supervisão de profissionais capacitados.
“Paralelamente às obras e aos desenvolvimentos tecnológicos do Projeto Orion, o CNPEM irá conduzir um programa nacional de treinamento e capacitação em infraestruturas de alta e máxima contenção biológica, voltado à formação de recursos humanos em competências ainda pouco desenvolvidas no Brasil e nos demais países da América Latina”, detalha o diretor.