Mais perto da eleição, pior para Temer
Difícil é encontrar na Câmara 308 burros capazes de trocar a reeleição por R$ 5 milhões
O governo Temer – essa ficção governamental formada por uma quadrilha, alguns já atrás das grades – desistiu, enfim, de colocar em votação o ataque à Previdência neste ano.
Portanto, toda a palhaçada armada em torno das declarações do prejudicado Jucá era, somente, palhaçada. Jucá achava que os seus colegas estavam comendo uma propina maior que ele, tapeando os pistoleiros do mercado financeiro com a história de que iriam colocar (e aprovar) a emenda contra a Previdência antes do fim do ano. Estava inconformado por não receber uma beira – ou por só receber uma beira. Por isso, Jucá resolveu acabar com a farra dos outros (Ver nossa edição anterior).
Apenas 24 h após os desmentidos, os mesmos elementos confirmaram o que ele dissera: o governo desistiu de colocar em votação o ataque à Previdência, porque não tinha os 308 votos para aprová-lo.
Na segunda-feira, foi o mesmo Jucá que revelou o novo e sensacional expediente do governo para aprovar a emenda contra as aposentadorias: privilegiar os deputados que votarem a favor com mais dinheiro do famigerado fundo eleitoral, que – aliás, por proposta do PT – foi aprovado em outubro.
Disse Jucá: “Não vai ter retaliação, mas vai ter valorização, ou seja, aqueles que são mais fechados com a posição do partido têm que ser valorizados. Aquelas figuras que têm sido leais ao partido devem receber, efetivamente, um tratamento diferenciado”.
Em suma, quem não votar a favor de estripar a Previdência Social não vai ter direito ao dinheiro do fundão, exceto, talvez, alguns tostões.
Porém, é óbvio que, no ano que vem, a eleição estará mais próxima do que hoje. Portanto, o governo terá mais dificuldade de encontrar quem apoie uma proposta que é, por si mesma, um suicídio eleitoral. Mas Jucá, Temer, Padilha, etc., querem convencer os deputados de que, se eles receberem mais dinheiro, podem votar contra o povo em fevereiro do próximo ano, oito meses antes das eleições, e, mesmo assim, se reelegerem.
Apesar de seu vício por dinheiro, nem eles acreditam nisso. Sobretudo porque sabem que esse dinheiro – esse suborno pelo fundo eleitoral – é uma vigarice.
Imaginemos que todo o fundão eleitoral, essa indecência que monta a R$ 1,75 bilhões, seja dividido pelos deputados necessários para aprovar a emenda do Além-túmulo: 308 deputados.
Cada um ficaria com 5,7 milhões.
O máximo que poderia acontecer, nesse caso, é que esses deputados trocariam seus mandatos por R$ 5,7 milhões.
Entretanto, pela lei, parte do dinheiro do fundão irá para partidos e deputados que não estão apoiando o projeto. Além disso, o governo (ou os partidos governistas) não podem deixar deputados governistas que não votarem contra a Previdência sem um níquel do fundão. Seria um atentado à própria Constituição, pois implicaria no fim de qualquer democracia, mesmo aquela que é apenas farsa, dentro dos partidos. Mesmo com a composição atual, isso jamais passaria pelo TSE e pelo STF.
Portanto, o dinheiro que Jucá e sua quadrilha estão prometendo nem chega ser vendaval – como aquele da música de Paulinho da Viola. É mentira mesmo.
Porém, vejamos mais algumas coisas.
O fundão eleitoral é um desvio das emendas parlamentares. Em resumo, 30% do valor dessas emendas – destinadas à Saúde, Saneamento, Infraestrutura, Educação, etc. (v. HP, 14/11/2017) – foram desviados para substituir, com dinheiro público, as propinas das empreiteiras, o roubo em cima da Petrobrás e outras propriedades públicas, que a Operação Lava Jato tornou inviável.
Para as eleições de 2018, o fundo aprovado, como já mencionamos, será de R$ 1,750 bilhões.
Esse é o dinheiro que será desviado das emendas para a Saúde, e outros setores, para empanzinar ladrões do Erário, por proposta original do PT. Que a lei obrigue que alguns que não são ladrões do Erário recebam uma parte – ainda que ínfima – desse fundão, é apenas um subproduto, indesejável para os corruptos, mas inevitável, pois não regredimos, apesar de Gilmar Mendes, ao estatuto jurídico de Trujillo ou Papa Doc Duvalier.
O governo, explicitamente, quer usar esse fundo – dinheiro destinado ao atendimento do povo já desviado indevidamente para estufar com dinheiro público o esquema de propinas do PMDB, PT, PP e outras organizações criminosas – para um objetivo mais espúrio ainda: subornar, chantagear e forçar deputados a votar em uma sandice neoliberal, à altura (ou à baixura) somente de um pervertido total, um degenerado repugnante, como Meirelles, que tem o propósito de cortar o valor das aposentadorias e impedir os trabalhadores de se aposentar.
[NOTA: Aliás, o deputado Artur Maia (PPS-BA), relator da proposta do governo, na impossibilidade de lê-la, na quinta-feira, proferiu um discurso mentiroso (v. matéria na página 5) – e monstruoso.
Maia só faltou dizer que ninguém será atingido por sua “reforma”, que só teria o objetivo de “combater privilégios”.
Chamamos a atenção apenas sobre um ponto, pouco conhecido, do substitutivo (aliás, “emenda aglutinativa”) do deputado, que alguns apresentam como uma forma “suave” do projeto original, onde o governo teria feito muitas concessões. Diz o texto assinado pelo deputado:
“§ 22. (…) as idades mínimas [para aposentadoria] serão majoradas em um ano, quando houver aumento em número inteiro na expectativa de sobrevida da população brasileira, etc.”.
Pelo projeto do governo, assinado pelo deputado Maia, o aumento da expectativa de vida, portanto, tornar-se-ia (!) uma maldição. Quanto maior a vida, menos possibilidade de aposentar-se.
Portanto, o privilégio que Maia, Temer e outros patifes querem combater é o privilégio de aposentar-se.]
Temer disse, também na segunda-feira: “Não dá para ser governo para um episódio, e ser contra o governo em outros episódios”.
Parece coisa daquele palhaço fascista, Benito Mussolini. Temer disse, literalmente, que, deputados, para apoiar o seu governo, têm que renunciar à própria consciência e a qualquer senso social ou moral.
Talvez só alguém assim consiga apoiar o seu governo.
Tudo isso revela muito sobre o caráter dessa trupe – se é que isso ainda interessa – e sobre o caráter de sua intentona contra a Previdência.
Mas não garante que nada disso seja sério, que não seja outra presepada.
Pelo contrário, tudo indica que é exatamente isso.
CARLOS LOPES