Sob alegação de combater o aumento dos preços da soja e do milho, o governo decidiu na sexta-feira (17) reduzir para zero as alíquotas de importação dos produtos para países fora do Mercosul, visto que para a Argentina e outros países do bloco a taxa zero é uma regra. A mesma justificativa foi dada para zerar a importação do arroz no início de setembro.
As tarifas até então em vigor eram de 8% para soja e para o milho. A do arroz era de 12 %. Para a soja a medida será válida até 15 de janeiro de 2021. O corte de 8% para zero na taxa de importação do milho permanecerá em vigor até 31 de março de 2021. Não há menção sobre simplesmente aumentar as importações dentro do próprio Mercosul.
Os EUA podem ser um beneficiário da medida, ainda que Flávio França da Datagro, consultoria agrícola independente, avalie em entrevista ao Canal Rural que as importações não deverão trazer os produtos a preços inferiores aos que estão sendo praticados, especialmente de lá.
É escandaloso o país estar entre os maiores produtores de soja e milho, como também de arroz, e ficar na dependência da importação desses produtos, a preços de especulação, para dar o que comer para seus cidadãos.
Ocorre que, com o aumento da procura por esses produtos no mercado internacional, especialmente da China, os preços desses produtos deram um salto. No caso do Brasil, combinado com a valorização do dólar frente ao real, a exportação dos mesmos ficou extremamente vantajosa, e fez com que as Trading desse mercado colocassem rapidamente a soja e o milho no mercado internacional, reduzindo a oferta para consumidores, para o setor de proteína animal e outras indústrias no Brasil.
Pelas mesmas razões, a importação desses produtos não terá condições de reduzir os preços no mercado interno, pois o crescimento da demanda internacional e a desvalorização do real que atuaram favorecendo as exportações atuam no sentido contrário na importação.
Em meio à pandemia, ao desemprego e todas dificuldades enfrentadas pelos brasileiros, nesse momento tão difícil, só faltava agora a carestia na cesta básica.
O governo, através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), não informou quanto e onde há estoques que poderiam servir de reguladores do mercado. A ministra Tereza Cristina da Agricultura chegou a afirmar na TV que eles existiam, que não haveria problemas de desabastecimento.
No entanto, no início de setembro, portanto antes da redução das taxas agora anunciada, Guilherme Bastos, presidente da companhia, declarou à Reuters acreditar que retirada da tarifa para países fora do Mercosul seria uma boa prática para administrar a disparada de preços de produtos agrícolas consumidos no mercado interno e exportados, como a soja e milho, trazendo mais competitividade e equilíbrio aos preços.
Com vimos, as importações não vão baixar os preços da soja e do milho.
Mas Bastos não tinha mais nada a declarar pelo governo. Contrário às políticas de estoques reguladores, preços mínimos, entre outras, para impedir essas oscilações especulativas de preços e garantir segurança alimentar, Bolsonaro já declarara não ter nada o que fazer.
“Não vamos interferir no mercado de jeito nenhum, não existe canetaço para resolver o problema da economia”, afirmou. Ou seja, o que Bolsonaro disse textualmente, em uma live, realizada na noite em 10 de setembro, ainda sobre o aumento de preços do arroz, que simplesmente “se dane a população”. https://horadopovo.com.br/bolsonaro-diz-que-explosao-do-preco-do-arroz-nao-e-problema-dele/
J.AMARO