Cerca de 1,160 milhão de famílias na fila estão em situação de extrema pobreza. Entidades denunciam entraves no cadastramento e omissão de dados
Enquanto o governo impõe sigilo não oficial sobre o número de pessoas que aguardam em condições miseráveis o Auxílio Brasil, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima que ao menos 1,3 milhão de famílias continuam sem assistência.
Na prática, o programa criado às vésperas da eleição por Jair Bolsonaro para substituir o Bolsa Família continua emperrado e com a fila de espera só aumentando – à medida que as condições de vida da população só pioram com a inflação e desemprego batendo recordes.
Em janeiro, o governo chegou a anunciar que teria conseguido “zerar” a fila de espera de famílias comprovadamente elegíveis e que ainda estavam sem receber o benefício mínimo de R$ 400. O que o levantamento da CNM, divulgado nesta segunda-feira (16) pelo O Estado de São Paulo, aponta é que, um mês depois, 1 milhão de famílias ainda aguardavam para serem contempladas.
Da estimativa atual, de 1,3 milhão de famílias à espera do auxílio, pelo menos 1,160,5 milhão estão em situação de extrema pobreza, segundo os dados oficiais obtidos pela reportagem do Estadão. Quase 8 mil estão vivendo em situação de rua, em condições degradantes, sem ter qualquer prioridade na concessão do benefício. Outras 233,6 mil têm filhos de até 4 anos.
A CNM chegou aos dados através do tabulador do Cadastro Único (Cecad), do Ministério da Cidadania, já que os municípios são os responsáveis pelo cadastramento dos beneficiários.
Os entraves colocados pelo governo federal mascaram a “formação da fila da fila”, diz a Rede Brasileira de Renda Básica. Brasileiros em situação de vulnerabilidade nem sequer conseguem completar o cadastro para o programa, além do represamento dos já habilitados e que ainda aguardam a liberação, que vem do poder federal.
COM INFLAÇÃO A 11%, R$ 400 NÃO PAGA NEM UMA CESTA BÁSICA
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), cesta de consumo básica no Brasil já custa mais de R$ 800 em diversas capitais do Brasil. As cestas mais caras do país foram identificadas no Rio de Janeiro, onde o conjunto de alimentos básicos custa R$ 884,97; e em São Paulo, onde atinge R$ 867,41. Esses valores correspondem a mais de 70% do salário mínimo atual, de R$ 1.212,00.
Com a inflação batendo 11% sem que o governo tome providências, quem precisa do Auxílio Brasil para a subsistência básica continua em condições miseráveis mesmo recebendo os R$ 400.
“Há um poder de corrosão muito forte da inflação, que está em 11% e com um índice superior a isso para os alimentos, justamente o mais essencial e o maior gasto da baixa renda”, diz o economista Jorge Jatobá, sócio-diretor da consultoria Ceplan e ex-secretário de Política de Emprego do Ministério do Trabalho.