No mesmo dia em que o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, negou-se a transferir R$ 600 milhões para enfrentar uma calamidade social no Rio Grande do Norte, onde não há dinheiro nem para os salários dos servidores e a população está desesperada com o caos na segurança pública, o Banco Central divulga que apenas no mês de novembro o setor público gastou só com juros aos bancos a bagatela de R$ 29,1 bilhões.
No ano esse valor chega a R$ 367,5 bilhões e nos últimos 12 meses o setor público já transferiu aos banqueiros e rentistas R$ 402 bilhões. Como se pode concluir, pode cair o mundo, pode morrer gente, podem as crianças não terem o que comer, podem as lojas serem invadidas, mas esses bilhões têm que ser rigorosamente transferidos dos cofres públicos para os banqueiros.
O pretexto para reter o dinheiro que seria enviado emergencialmente foi um parecer do Tribunal de Contas da União. O órgão orienta a União a não enviar os recursos, sob pena de conivência no desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. A mesma que diz explicitamente que a prioridade total do governo deve ser o pagamento em dia dos juros da dívida.
O governo também foi buscar respaldo para negar ajuda ao Rio Grande do Norte no artigo 167 da Constituição. Este artigo veta o envio de dinheiro por parte dos governos estaduais e Federal para pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos estados, do Distrito Federal e também dos municípios. Ou seja, a sociedade pode ficar sem recursos emergenciais, sem segurança, mas os bancos não podem deixar de receber religiosamente os juros da agiotagem.
Se depender desse governo, a população potiguar continuará amargando os efeitos da crise financeira provocada exatamente pela permanência dessa política de privilegiar os especuladores em detrimento de quem trabalha e produz. Até o momento, o que o governo federal se dispôs a fazer é um ridiculo envio de tropas para o Estado. Como se isso fosse resolver o problema do atraso de pagamento dos salários dos servidores e, inclusive da polícia. Como bem disse um policial, “não estamos em greve. Estamos sem salários e sem condições de trabalhar”.
E, para completar o absurdo da prioridade aos bancos, o estrangulamento da economia do país não contribui um níquel para a redução da dívida. A dívida mobiliária federal interna fora do Banco Central, avaliada pela posição de carteira, totalizou R$3.37 trilhões (51,7% do PIB) em novembro, registrando acréscimo de R$60,6 bilhões em relação ao mês anterior. Ou seja, o país paga mais de R$ 400 bilhões por ano de juros e a dívida segue crescendo.