A presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez, condenou a falta de informação institucional sobre as condições em que perderam a vida mais de 300 manifestantes, entre os dias 18 de abril e 30 de maio, “durante os protestos contra o governo corrupto de Daniel Ortega e Rosario Murillo”.
Segundo Núñez, o fato de o governo “não ter realizado nenhuma investigação sobre a violação sistemática dos direitos humanos pelas forças policiais e paramilitares por meio da repressão e violência” fomenta a impunidade e atenta contra a democracia.
Com a mesma indignação, o Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), nomeado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) reiterou o pedido para que o governo nicaraguense facilite “o mais rapidamente possível” o acesso à documentação em poder das instituições públicas, especialmente os informes de medicina legal, a lista de pessoas detidas e o plano de reparações às vítimas e seus familiares.
Apesar do GIEI ser resultado de um “acordo de colaboração” que teve o aval do próprio governo da Nicarágua, este último passou a sabotar abertamente os trabalhos do grupo, inviabilizando reuniões e contatos com familiares. Entre outras instituições, estariam atuando abertamente para encobrir as atrocidades a Corte Suprema de Justiça, o Ministério Público, a Polícia Nacional e o Ministério de Saúde.
“O GIEI reitera que tais informações não somente são necessárias, como imprescindíveis para que possamos cumprir com a função de coadjuvantes às autoridades nacionais”, frisaram os especialistas que dirigem a missão, sublinhando que as investigações devem ser feitas pelas autoridades locais.
Conforme o secretário executivo da Comissão Permanente de Direitos Humanos (CPDH), Marcos Carmona, a situação é preocupante “porque o governo não tem a vontade de esclarecer estas mortes, de que se faça justiça nem de ressarcir os danos às famílias das vítimas”.
Os protestos contra Ortega e sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, começaram em 18 de abril repudiando a tentativa de impor desastradas reformas que cortavam o orçamento das universidades, ajustando salários e professores, e mexiam com a Previdência, aumentando a idade mínima para as aposentadorias, encarecendo as contribuições tanto para os trabalhadores quanto para os patrões. Foi o estopim.
A corrupção já grassava em todos os setores do governo, cortes inexplicáveis nos orçamentos para a Educação e Saúde, abuso de poder e nenhum diálogo com os setores organizados da sociedade são hoje denunciados inclusive por membros históricos da Frente Sandinista de Libertação Nacional, FSLN, que derrubou o ditador Augusto Somoza nos anos 80, hoje descaracterizada pelo governo Ortega.
Segundo a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos, também perseguida pelo governo Ortega, o número de mortos chega a 448.