O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), prometeu R$ 10 milhões a cada deputado, inclusive novatos, para votarem a favor da proposta de reforma da Previdência no primeiro turno e mais R$ 10 milhões no segundo turno. O que daria mais de R$ 6 bilhões se os 308 votos necessários para a aprovação da proposta forem confirmados.
“É isso o que significa mudar o Brasil? Essa é a ‘nova política’ do governo Bolsonaro?”, questionou o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara.
Segundo levantamento do deputado, com base nos dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), nos dias 4 e 5 de julho, quando a Comissão Especial votou o relatório da Previdência, o Planalto empenhou (registro oficial de que pretende executar aquele gasto) R$ 1,6 bilhão – mais do que o montante liberado em todo o mês de junho.
“Na verdade, o que está acontecendo aqui na Câmara nada mais é do que a compra de votos”, sintetizou Molon. A líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), também criticou a prática governista para tentar aprovar a “reforma”.
De acordo com a ONG Contas Abertas, só nos primeiros cinco dias de julho, foram empenhados R$ 2,551 bilhões. A cifra é maior do que a observada em todo o ano até junho: R$ 1,77 bilhão. Às vésperas da votação da reforma da Previdência, na segunda-feira (8), o governo publicou no Diário Oficial a liberação de emendas no valor de R$ 1 bilhão da área do Ministério da Saúde.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), admitiu na terça-feira que a liberação de cerca de R$ 1 bilhão em recursos de emendas parlamentares foi “um esforço” pela aprovação da proposta.
Segundo Mandetta, “o ministério não é uma ilha” e ainda declarou que novas liberações de recursos podem ser feitas para que o governo aprove o desmonte da Previdência: “sempre que for possível”.
“Metade das emendas está no Ministério da Saúde. Se somar tudo, eu tenho quase R$ 10 bilhões. São emendas individuais de deputados, senadores, mais as obrigatórias de bancadas. É suprapartidário”, avisou Mandetta, em entrevista para o site Jota.
Bolsonaro disse que é tudo “normal”. “Uma situação como essa é normal, no meu entender”, disse.
Ao ser questionado se isso não era reprodução da “velha política”, Bolsonaro saiu de banda e disse que: “velha política é dar aquilo que vocês sabem que se dava no passado”.
“Nova política?! O governo Bolsonaro libera emendas para comprar votos a favor da Reforma da Previdência”. “Velhas práticas com toma lá, dá cá…”, rebateu Alessandro Molon pelo Twitter.
Também pelas redes sociais, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) condenou a prática. “Vale tudo para acabar com o direito a uma aposentadoria digna! No dia em que a Câmara dos Deputados planeja votar a Reforma da Previdência, Bolsonaro libera perto de R$ 1 bi em emendas para comprar parlamentares. O velho toma lá dá cá!”, comentou.
O líder do PDT, André Figueiredo (CE), também protestou pelas redes sociais. “Vergonha esta comprovação do toma lá, dá cá!”, escreveu o deputado. “Início da discussão da Reforma da Previdência com ânimos acirrados, mas com um escândalo no Diário Oficial da União de ontem (ainda falta o de hoje)! 43 páginas com 1811 propostas totalizando quase R$1 bilhão em liberação de recursos”, apontou.
Relacionadas: