Governo sabia de ineficácia da cloroquina desde agosto, mostram papéis do Itamaraty

Ernesto Araújo era o ministro das Relações Exteriores na época. Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil
Os documentos que comprovam que o Planalto recebeu a informação foram entregues à CPI da Covid-19 pela deputada Fernanda Melchionna (PSol-RS)

A deputada Fernanda Melchionna (PSol-RS) encaminhou à CPI da Covid-19 no Senado documentos que mostram que o governo federal sabia, desde agosto de 2020, da ineficácia da cloroquina no combate ao coronavírus.

A CPI da Covid-19, instalada no Senado em meados de abril, tem o propósito de investigar as ações, omissões e inações do governo federal na gestão da pandemia de Covid-19.

Os documentos revelam que as autoridades brasileiras foram informadas de que os estudos com o medicamento foram paralisados por falta de evidências sobre sua eficácia. O informe foi feito via telegrama, recebido do Itamaraty, em 24 de agosto de 2020, conforme revelam os documentos entregues pela deputada à CPI.

INEFICÁCIA DA CLOROQUINA

Na mensagem, a Missão Permanente do Brasil na ONU (Organização das Nações Unidas) informou ao governo federal sobre uma conferência da OMS (Organização Mundial da Saúde), em que a cientista-chefe da organização falou sobre a ineficácia da cloroquina.

Outro telegrama entregue pela deputada à comissão traz novas evidências do atraso do governo federal na aquisição das vacinas do consórcio internacional Covax Facility. A demora é um dos alvos do inquérito na CPI.

COMPRA DE CLOROQUINA

Mesmo sabendo que a cloroquina era ineficaz no combate à virose, o governo se mobilizou para comprar cloroquina, apesar dos alertas dos cientistas sobre a ineficácia do tratamento contra Covid. A CPI vai pedir ao Itamaraty cópias de documentos que mostram essa ação.

As informações foram publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo. Segundo a reportagem, telegramas mostram que o então ministro Ernesto Araújo queria garantir fornecimento de cloroquina mesmo após alerta. A TV Globo também teve acesso a telegramas internos do Itamaraty.

Em 16 de abril de 2020, por exemplo, o ministério enviou telegrama à embaixada do Brasil em Nova Délhi (Índia), em busca de contato com autoridades indianas. Desde março de 2020, o presidente Jair Bolsonaro já vinha defendendo o uso do medicamento.

“Muito agradeceria à Vossa Excelência informar às autoridades indianas de que o Ministério da Saúde pretende adquirir o lote oferecido pelo governo indiano, de 5 milhões de tablets de hidroxicloroquina (hcq).”

No dia seguinte, em novo telegrama à embaixada, o Itamaraty disse que o Ministério da Saúde tinha interesse na compra e que já tinha até pedido ajuda à Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) e fala em “urgência”.

DESÍDIA SOB ERNESTO ARAÚJO

Os documentos também deixam claro que, mesmo após a OMS interromper os testes com cloroquina por razões de segurança, e de várias entidades médicas do Brasil alertarem para os riscos de efeitos colaterais, o Itamaraty seguiu consultando empresas e acionando o corpo diplomático no exterior.

Segundo a Folha, telegrama de 4 de abril de 2020 relata que o presidente Bolsonaro teria dito, em conversa telefônica com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que o Brasil havia tido “resultados animadores”.

O PT apresentou requerimento para que o Itamaraty envie à CPI da Covid-19 cópia de telegramas ou outras comunicações formais.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que vai investigar o caso: “a cloroquina é um tema muito importante para investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito e nós precisamos saber definitivamente de quem foi a ordem ou quem a transformou em política pública, em detrimento da imunização da população brasileira, que era o único caminho para administrar essa crise sanitária”.

M. V.

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