
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se isentou de prestar socorro aos moradores do Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, afetados por alagamentos que persistem há seis dias devido às fortes chuvas do último final de semana. Embora o nível da água comece a baixar, a população local continua enfrentando sérias dificuldades, enquanto o governo estadual se omite diante da crise.
Em nota ao SPTV1 da Rede Globo nesta quarta-feira (5), Tarcísio justificou a inatividade das bombas de drenagem da Sabesp na região alegando que, após a privatização da empresa em julho de 2024, apenas a Equatorial, nova controladora e considerada a pior empresa de energia do país, poderia se pronunciar sobre o assunto. A postura do governador reflete a lógica perversa da privatização: o lucro é priorizado em detrimento do bem-estar da população.
Curiosamente, o mesmo equipamento foi emprestado à cidade de Porto Alegre durante a tragédia causada pelas chuvas no ano passado, quando a Sabesp ainda estava sob controle do Estado. A empresa, no entanto, alega que as bombas estão disponíveis em São Paulo, mas não recebeu nenhuma solicitação para seu uso. A tubulação, que também foi enviada a Pelotas (RS), tem capacidade de drenar mil litros por segundo, o que poderia aliviar significativamente a situação no Jardim Pantanal.
Localizado em uma área de várzea do Rio Tietê, o Jardim Pantanal abriga cerca de 45 mil pessoas e faz parte do distrito do Jardim Helena, que possui mais de 129 mil moradores. A região é historicamente vulnerável a enchentes, mas as ações do poder público para mitigar os problemas têm sido insuficientes ou inexistentes.
Em declarações feitas na terça-feira (4), durante uma agenda pública com o prefeito Ricardo Nunes, Tarcísio afirmou que as vistorias realizadas pela Prefeitura identificaram diversos problemas na região, mas que “não adianta dar uma solução porque a gente está no meio da pressão. Isso não vai resolver”. O governador ainda ressaltou que a questão é complexa e demanda estudos aprofundados para que uma solução definitiva seja encontrada.
Por sua vez, o prefeito Ricardo Nunes demonstrou total desconexão com a realidade ao afirmar que “fiquei assustado com a quantidade de locais em que as pessoas jogaram terra e construíram barracos em cima”. Sua fala ignora o déficit habitacional e os altos preços dos aluguéis na cidade, que forçam milhares de pessoas a viverem em condições precárias, expostas a riscos constantes.
Nunes também descartou a realização de obras de drenagem na região, alegando que “não vale a pena” devido ao custo elevado. “Eu estou fazendo um pôlder lá. Tem uma obra que a gente estava orçando, para a gente fazer um dique, mas fica mais de R$ 1 bilhão”, disse. “Veja, uma obra que vai custar R$1 bilhão não vale a pena. Vai ficar muito caro”, completou. O pôlder, uma tecnologia utilizada em países como a Holanda para controlar inundações, está em construção desde janeiro de 2023, mas já acumula dois anos de atraso, com previsão inicial de entrega em 150 dias.
Nas redes sociais, a população não poupou críticas ao governo. “Não sei por que eu fico surpreso, era questão de dias pra esse tipo de ‘não é meu problema’”, escreveu um usuário. Outro ironizou: “Mas não era só privatizar que melhorava?”. E um terceiro respondeu: “Melhora sim. A vida dos colegas do rei que ganham a concessão, melhora pra caralho”. As manifestações refletem a insatisfação geral com a falta de ações concretas e a percepção de que a privatização só beneficia os interesses de poucos.