O governo de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), promulgou nesta quarta-feira (28) uma lei que presta homenagem ao expoente da ditadura, o coronel Erasmo Dias.
O militar e ex-parlamentar morreu em 2010, mas ficou conhecido por perseguir estudantes ao invadir a PUC de São Paulo, em setembro de 1977. Ele foi secretário estadual de Segurança em São Paulo durante a ditadura militar, no final do governo de Laudo Natel (1971-1975) e na gestão de Paulo Egydio Martins (1975-1979), quando houve a operação.
Na PUC era organizada uma atividade para reembolsar a União Nacional dos Estudantes. Essa foi a última grande operação violenta da ditadura contra o movimento estudantil em São Paulo. Tropas da Polícia Militar invadiram o campus Monte Alegre, em Perdizes, para agredir e prender alunos, professores e funcionários.
Ao todo, 854 estudantes foram presos. Na época, 134 pessoas foram consideradas culpadas por subversão. Cerca de 90 estudantes foram fichados pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops) e outros 42 foram processados com base na Lei de Segurança Nacional.
Com a lei aprovada pelo governo Tarcísio de Freitas, o entroncamento de duas rodovias em Paraguaçu Paulista, cidade natal do militar, receberá o nome de “Deputado Erasmo Dias”.
A autoria da lei é do ex-deputado bolsonarista Frederico D’Avila (PL) e foi publicada na edição desta quarta-feira (28) do Diário Oficial do Estado de São Paulo. O texto é assinado pelo vice-governador Felício Ramuth (PSD), e pelos secretários Natália Resende Andrade (Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Gilberto Kassab (Governo e Relações Institucionais), Edilson José da Costa (secretário-executivo da Casa Civil). Tarcísio está em Portugal.
REPÚDIO
A reitora da PUC-SP, Maria Amália Pie Abib Andery , assinou uma nota em repúdio à homenagem feita pelo governador Tarcísio ao coronel Erasmo Dias. A nota é assinada também por dezenas de professores, estudantes, diretórios e centros acadêmicos e entidades estudantis como a UNE e a UEE. Entre os signatários estão também o presidente do Centro Acadêmico 22 de Agosto da PUC-SP, Carlos Eduardo Rodrigues; o diretor da Faculdade de Direito, Vidal Serrano Nunes Júnior; e os professores Pedro Serrano, Mônica de Melo, Lucineia Rosa dos Santos, Silvia Pimentel e Fabio Coelho.
No texto, os signatários afirmam que o coronel Erasmo Dias é “um dos expoentes do regime fascista e autoritário que flagelou a sociedade brasileira durante os anos de 1964 a 1985”. “Essa nota representa a consternação e o repúdio à Assembleia Legislativa de São Paulo, que permitiu a tramitação de um projeto absolutamente antidemocrático e que invalidou a luta de milhares de estudantes e centenas de militantes que perderam suas vidas durante a ditadura militar. Não admitimos homenagem a torturadores”, afirmaram no texto.
“Que o legado de luta de Nadir Kfouri, Carlos Eduardo Pires Fleury e tantos outros companheiros que dedicaram a vida pela democracia nunca seja esquecido. Exigimos que o governador Tarcísio vete o projeto de lei, bem como que a Alesp mantenha o veto e não volte a pautar homenagens a personalidades que trouxeram tanta dor ao povo brasileiro. Não se cala a consciência de um povo!”
No site do governo paulista, a biografia do coronel reformado do Exército destaca duas ações do militar: “foi um dos fundadores do partido político situacionista Arena na época do bipartidarismo e organizou as primeiras ações de caça aos comunistas depois de 1968”. Dias foi nomeado secretário estadual de Segurança por três vezes em São Paulo. Ficou no cargo entre abril de 1974 e maio de 1978; entre novembro de 1978 e fevereiro de 1979; e entre fevereiro e março de 1979.
O militar foi deputado federal (1979-1983), deputado estadual em São Paulo pelo PDS por três legislaturas, entre 1987 e 1999, e vereador na capital paulista (2001-2004). Morreu em 2010, aos 85 anos.