Por 325 a 306, o parlamento britânico deu uma sobrevida ao governo zumbi da primeira-ministra conservadora Theresa May, recém-saída da maior derrota parlamentar na história do país – a rejeição de seu acordo do Brexit por chocantes 230 votos de diferença.
Pelo prazo aprovado na semana passada pelos deputados britânicos, May tem três dias, até segunda-feira (21), para apresentar um plano alternativo de saída da União Europeia.
Para evitar a antecipação das eleições e fugir de resolver nas urnas o que a mídia já considera “a maior crise política” em décadas, os conservadores eurocéticos (pró-saída) votaram contra a moção de desconfiança, sob o pretexto de que o problema “é o acordo, não May” e a salvaram por enquanto.
Ao todo, foram 314 votos, entre eurocéticos e a bancada de May – 177 eurocéticos haviam votado 24 horas antes pela rejeição do acordo. Foram acompanhados pelos dez unionistas (os pró-britânicos norte-irlandeses que integram o atual governo May) e uma deputada independente.
Ao defender a aprovação da desconfiança, o líder trabalhista Jeremy Corbyn declarou “oficialmente morto” o “acordo de Frankenstein” da primeira-ministra e exigiu sua renúncia para que o povo da Grã-Bretanha pudesse “decidir sobre o caminho a seguir com uma eleição geral”. May não deveria ter “nada a temer de ir às pessoas e deixá-las decidir”, acrescentou.
“Se um governo não pode obter a sua legislação através do Parlamento, deve ir ao país para um novo mandato e que deve ser aplicado quando se trata da questão-chave do dia”, afirmou Corbyn, apontando que “não pode haver dúvidas de que este é um governo zumbi”.
“Em dois anos, eles conseguiram transformar um acordo do que deveria ser ‘um dos mais fáceis da história da humanidade’ em um constrangimento nacional”, apontou o líder trabalhista.
Corbyn denunciou as terríveis consequências humanas do arrocho movido por May e antecessores, como a expectativa de vida agora retrocedendo nas partes mais pobres do país e estagnando no geral. “Outro vergonhoso recorde deste governo”, disse ele.
Uma eleição geral daria novo ímpeto às negociações do Brexit e permitiria enfrentar os salários baixos, a precarização do trabalho, a pobreza e falta de moradia, o atendimento inadequado aos idosos e o financiamento insuficiente do sistema único da saúde (NHS) e da educação, como registrou o jornal Morning Star.
Após o chilique de um deputado Tory (conservador) sobre o “governo zumbi”, Corbyn indagou: “Quem tem confiança na capacidade deste governo para negociar um futuro acordo comercial com a UE até dezembro de 2020?”.
Votaram pela remoção de May 251 deputados trabalhistas. A que se somaram 35 independentista escoceses do SNP, 11 liberais democratas e mais 9 outros parlamentares de legendas menores ou independentes.
Após o resultado, May declarou que estava convocando todos os partidos para a discussão de um plano alternativo.
Os trabalhistas disseram não estar prontos para tais conversas incondicionalmente. “Há uma semana, a Câmara votou para condenar a ideia de um Brexit sem compromisso. Antes que possa haver qualquer discussão positiva sobre o caminho a seguir, o governo deve remover claramente de uma vez por todas a perspectiva da catástrofe de um não-acordo Brexit da UE e todo o caos que viria como resultado disso”.
Um parlamentar do SNP havia pedido a imediata suspensão do artigo 50 e da data limite de 29 de março para a finalização de acordo com a EU. Em Bruxelas, já se fala em uma prorrogação “até julho” e até que seriam admissíveis “mudanças”, desde que não “em aspectos fundamentais”.
ANTONIO PIMENTA