Um rascunho de acordo sobre o Brexit – a saída da União Europeia – foi anunciado pelos negociadores da Grã Bretanha e da União Europeia, após meses de acaloradas discussões, idas e vindas, e nesta quarta-feira (14) a primeira-ministra Theresa May reúne seu ministério para uma decisão final. O esboço de acordo tem 500 páginas e uma declaração política de cinco páginas.
A porta-voz de May admitiu que há “um pequeno número de questões pendentes”. Conforme a mídia irlandesa, os negociadores chegaram a uma proposta sobre a questão mais polêmica do Brexit, a fronteira entre a República da Irlanda, que continua na União Europeia, e a Irlanda do Norte, que segue na Grã-Bretanha e que é signatária, com o Sein Feinn, dos Acordos de Sexta Feira Santa, que puseram fim a décadas de sangrento conflito na ainda dividida Ilha. Qualquer restauração de uma “fronteira dura” era terminantemente recusada pela Irlanda, pela União Europeia e pelo Sein Feinn.
Mas mesmo essa questão não está completamente resolvida, segundo a rede pública de rádio e TV irlandesa. Os chamados unionistas – pró-ingleses – de Belfast se opõem a qualquer termo que amarre o futuro da fronteira a decisões da EU. A saída da União Europeia foi decidida em plebiscito em junho de 2019, e tem que estar concluída até 29 de março do próximo ano. Os europeus chegaram a pedir uma revisão dos planos iniciais de May sobre o Brexit e depois seu ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson, se demitiu por discordar dos rumos das negociações.
A tensão nas discussões com a União Europeia ficou patente no isolamento de May diante dos líderes europeus em Salzburgo, na Áustria, que os tablóides ingleses consideraram uma “humilhação”. Novembro era considerado a data limite das negociações, já que é preciso tempo para a ratificação do acordo tanto pelo parlamento britânico, quanto pelos parlamentos dos países europeus. Muitas vezes se temeu por uma saída “sem acordo”, que poderia ter conseqüências traumáticas dos dois lados, depois de tanto tempo com intercâmbio aberto e normas conjuntas.
Desde o início, o chamado ‘backstop irlândes’ – o mecanismo que garantirá uma fronteira branda na Irlanda após o Brexit – foi o principal contencioso nas negociações. Permanecem obscuros os detalhes sobre até que ponto os bens que vão para a Irlanda do Norte e a Inglaterra estão sujeitos a novas verificações regulamentares, e quanto ao mecanismo de término do ‘backstop’ e se Londres poderia sair unilateralmente.
Conforme a BBC, a declaração política que acompanha o esboço de acordo ainda é vaga sobre o quadro futuro das relações de Londres com Bruxelas. Como registrou um analista, “a UE permitirá que o Reino Unido permaneça efetivamente no mercado único de bens, como May quer?”. A mesma fonte também indaga sobre como ficou a proposta de May de “facilitação”, considerada por muitos como extremamente complicada e potencialmente impraticável.
Boris Johnson – que ainda não teve acesso a esse esboço final – repudiou o acordo Brexit de May chamando-o de “Crônica de uma Morte Anunciada” que já dura meses. “Vamos ficar na união aduaneira, vamos ficar em grandes partes do mercado único”, assinalou. “É coisa do Estado vassalo, pois pela primeira vez em mil anos este parlamento não terá voz sobre as leis que governam este país”, afirmou. Ele acrescentou que “pela primeira vez desde a partição, Dublin teria mais voz em alguns aspectos do governo da Irlanda do Norte do que Londres”.
É enorme a divisão dentro do partido de May quanto ao acordo do Brexit, e a mais recente demissionária foi a ministra Jo Jonhson. Um dos líderes da bancada linha dura, asseverou que pelo menos 40 conservadores votariam contra o que viesse, conforme o Guardian. O jornal também questiona se May “pode persuadir o Partido Trabalhista a votar pelo acordo”, acrescentando que “com base no que Jeremy Corbyn está dizendo hoje à noite, parece improvável”. Grandes manifestações exigiram recentemente que a aprovação do acordo do Brexit seja por referendo.