
Investigação sobre crime hediondo de receptação de propina na compra de remédios para deficientes, denunciados em áudios já levou a busca e apreensão em 12 casas argentinas
Gravações de Karina Milei com seu amigo Eduardo ‘Lule’ Menem apontam para subornos multimilionários na Agência Nacional da Pessoa com Deficiência (Andis). Com base em gravações recém-vazadas, esquema multimilionário de corrupção envolvendo a secretária da Presidência e irmã de Javier Milei, Karina Milei, e seu amigo e subsecretário de gestão institucional do governo, Eduardo ‘Lule’ Menem, dentro da Agência Nacional de Deficiência (Andis).
Os áudios interceptados detalham a existência de cobrança de propinas para a compra de medicamentos, e trariam a voz do advogado, amigo pessoal do presidente e ex-chefe da Andis, Diego Spagnuolo – que pediu demissão na sexta-feira (22) após a denúncia ter vindo a público. Spagnuolo, além de vários dos citados, estão proibidos de deixar o país.
“Estão roubando, você pode fingir que não sabe, mas não joguem esse problema para mim, tenho todos os WhatsApps de Karina”, relata um dos áudios que circulou na imprensa argentina e que foi atribuído a Spagnuolo. Em outro áudio, ele é categórico: “estão fraudando a minha agência“, e faz outra alusão à Karina – que teria recebido pagamentos de propina -, além de dizer que teria conversado com o presidente Javier Milei. “Eles não consertaram nada”, diz o áudio.
Entre as 16 operações de busca e apreensão estariam a sede da Andis, a farmácia Suizo Argentina e residências de empresários ligados ao caso. Durante o processo, foram encontradas opulentas ordens de pagamento, dois celulares pertencentes a Spagnuolo, um pertencente aos Kovalivkers e US$ 266.000 em um carro pertencente a Emmanuel Kovalivker, além de sete milhões de pesos (cerca de trinta mil reais). Cofres abertos, dinheiro espalhado e itens considerados evidências importantes pelos investigadores foram encontrados na casa de Jonathan Kovalivker.
Spagnuolo foi encontrado em seu SUV Nivus em Pilar, enquanto tentava sair de casa em Altos de Campo Grande. Documentos, uma máquina de contagem de cédulas e notas de pequeno valor foram apreendidos em sua casa.
Na avaliação do jornal Página 12, “a demissão de Spagnuolo e do diretor de Acesso aos Serviços de Saúde, Daniel Garbellini, pareceu mais uma confirmação do que um ato de transparência. De acordo com as gravações de áudio, Karina Milei e Eduardo ‘Lule’ Menem se beneficiaram de um esquema que arrecadava milhões de pesos por mês”. “Eles recebem meio milhão ou mais por mês”, teria reconhecido Spagnuolo.
“Os 3% de propina que sua irmã recebe em medicamentos para pessoas com deficiência, que seu amigo e colaborador Lule Menem está exigindo, são infinitamente piores e muuuuuito graves, sério, em termos de responsabilidade criminal”, afirmou a ex-presidente Cristina Kirchner, em sua rede social.
Na gravação, Diego Spagnuolo, advogado pessoal de Milei e até pouco chefe da Andis, reconheceu ter informado presencialmente ao presidente sobre a corrupção envolvendo seus colaboradores mais próximos. “As gravações de áudio do seu amigo Spagnuolo provam que ele o alertou sobre as propinas e… irmão… VOCÊ NÃO FEZ NADA!”, acusou a ex-chefe de Estado.
Uma das farmácias envolvidas no circuito de devolução é a La Suizo Argentino S.A – a maior fornecedora de medicamentos para a Agência Nacional de Deficiência -, cujo diretor, Jonathan Kovalivker, foi associado ao ex-presidente Mauricio Macri, a quem muitos identificam como “seu amigo pessoal”.
“TUDO ESTÁ CONECTADO A TUDO”
“Tudo está conectado a tudo”, assinalou a ex-presidente, apontando para a relação entre o esquema de corrupção e ex-funcionários do governo Cambiemos, como Daniel Garbellini, mencionados nas gravações de áudio como parte da operação.
“Imagine depois que TODOS OS ARGENTINOS OUVIREM seu amigo e advogado pessoal Diego Spagnuolo (que você nomeou chefe da Agência Nacional de Deficiência) contar como ele veio vê-lo para informá-lo pessoalmente sobre as façanhas do ‘CHEFE’ e sua gangue, cobrando indenização por medicamentos, nada menos, na enfermaria pública para deficientes onde você levou a motosserra… Não há nada mais escandaloso e vergonhoso”, fulminou Cristina.
Nessas gravações de áudio, Spagnuolo também menciona que “nomearam” Daniel Garbellini como diretor, esclareceu Cristina, ‘um criminoso que esteve no governo Macri’, segundo suas próprias palavras. “Como sempre digo… Tudo está conectado”, enfatizou.