Sob o lema “Com estes salários, as contas não fecham”, os trabalhadores gregos realizaram nesta quarta-feira (6) uma paralisação, condenando a política de submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Apesar dos aumentos generalizados de preços e particularmente da energia, o governo de Kyriakos Mitsotakis decidiu antecipar o pagamento ao FMI de toda a sua dívida pendente, contraída com a instituição desde 2010.
Diante do violento aumento dos preços da energia e da inflação, que em fevereiro atingiu 7,2% (a maior taxa interanual dos últimos 25 anos), o governo não ordenou reduções do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), como têm exigido sindicatos e partidos da oposição.
Na tentativa de mitigar o estrago, desde setembro passado, o governo destinou cerca de 3,7 bilhões de euros em ajudas às famílias, empresas e agricultores, recursos que os sindicatos denunciam que são completamente insuficientes.
Pressionado, Mitsotakis se somou a alguns líderes da União Européia para pedir, sem sucesso, intervenções mais diretas no mercado de gás, como limitar os preços ou “superlucros” para as empresas de energia.
Os sindicatos exigem, por sua vez, que diante da inflação galopante, o salário mínimo seja aumentado para 751 euros, diante dos 663 euros em que se encontra atualmente, após o aumento dos minúsculos 2% aprovado pelo governo em janeiro.
A greve de 24 horas convocada por sindicatos do setor privado associados à Confederação Geral dos Trabalhadores Gregos (GSEE) e à qual também se somaram servidores públicos e representantes de outros sindicatos cobrou urgência na resolução dos problemas.
“Nos últimos 14 anos, os trabalhadores arcaram com o fardo de uma profunda crise que afetou a renda e a vida em todo o mundo”, denunciou a GSEE, alertando sobre a crise financeira grega que começou no final de 2009 e deixou o país dependente de resgates internacionais por mais de uma década.
“Os anos se passaram e a crise se agravou, as acusações permanecem, os direitos são reduzidos. Estamos em greve e exigimos que o governo aja aqui e agora”, alertou a entidade sindical. Além dos reajustes da energia e de outros produtos básicos como farinha, a Grécia vem sendo ainda mais penalizada após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Praticamente todo o transporte público foi paralisado na quarta-feira, exceto grupos que pararam apenas do início do turno até as nove da manhã e voltaram a fazê-lo à tarde. Além do metrô, bonde e trólebus, boa parte do tráfego ferroviário, tanto suburbano quanto de longa distância, também foi interrompido, embora tenham sido garantidos serviços mínimos.
Nem os ferries saíram dos portos nem as administrações públicas funcionaram. No tráfego aéreo, o dia transcorreu normalmente, já que o governo conseguiu que um tribunal proibisse os controladores de aderir à greve. Os jornalistas se somaram parcialmente ao protesto com uma greve de quatro horas, do meio-dia às quatro da tarde.
Por todo o país, milhares de pessoas saíram às ruas em várias cidades exigindo um basta à política de arrocho. Em Atenas, a marcha percorreu o centro da capital até a Praça Syntagma, onde fica o Parlamento. Entre os manifestantes estavam também funcionários de ministérios como Jristina Jristidu, que trabalha no Ministério do Desenvolvimento. Jristidu assegurou que após dez anos de crise econômica, com o salário achatado, todo mês necessita pedir adiantamentos para sobreviver, e o aumento dos preços da energia piora as coisas.
Para o consultor fiscal Apostolis Dallas, a ajuda prevista pelo governo para fazer frente à subida dos preços da energia “não pode contrariar os enormes aumentos de preços”, embora os elevados valores da energia e dos combustíveis sempre tenham sido um problema, mesmo antes da guerra na Ucrânia.