O jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, confirmou, em seu depoimento na Câmara, na terça-feira (25/06), que as mensagens entre o então juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, publicadas em seu site, são verdadeiras.
“Obviamente, quando recebemos este material passamos semanas checando a sua veracidade. Todos os jornalistas que investigaram as conversas atestaram que elas são verídicas. Moro e Dallagnol sabem disso e as colocam em xeque para criar dúvidas na população”, disse Greenwald.
A sessão, da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, foi marcada pela mediocridade – e, na maioria dos casos, histeria – da bancada bolsonarista.
A deputada Katia Sastre (PL-SP) afirmou: “quem deveria ser julgado e sair daqui preso pelo crime teria que ser o jornalista que cometeu um crime com o hacker”.
“Percebam que ela expressou crimes que eu cometi, que eu deveria ser preso. O que está faltando? Ela não tem evidência nenhuma. Só táticas de intimidação”, reagiu Greenwald.
E, dirigindo-se à deputada:
“Ninguém tem medo dessas táticas. Trabalho em um site cheio de jornalistas brasileiros e, ao ouvir estas ameaças eu continuo reportando. Jornalistas são presos em muitos países por causa de reportagens, mas felizmente o Brasil não é um deles.
“Se eu tivesse o mínimo envolvimento nesse crime, eu poderia pegar um voo, ir embora e continuar reportando lá fora. Não faço porque sei que vossa excelência está acusando sem nenhuma prova e que neste País há liberdade de imprensa garantida pela Constituição.”
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) desafiou o jornalista a divulgar todos os áudios de mensagens na própria audiência.
“Jornalistas não recebem ordens do governo de como ou quando devem publicar reportagens. Nós vamos divulgar os áudios quando estiverem jornalisticamente prontos, e você vai se arrepender muito de ter pedido isso”, retrucou o jornalista.
Greenwald lembrou o seu apoio à Operação Lava Jato, durante prêmio que os procuradores da força-tarefa receberam no Canadá:
“Deltan Dallagnol e outros procuradores estavam lá e ouviram o meu discurso. Depois, o Deltan disse numa rede social: ‘o renomado jornalista Glenn fez um discurso que todos os brasileiros deveriam escutar’. Acreditei que a operação era muito importante para combater a corrupção e é justamente por acreditar no combate à corrupção que eu estou fazendo esta reportagem agora”.
Para Greenwald houve um “conluio” entre Moro e Dallagnol:
“Este material que estamos publicando já mostrou e vai continuar mostrando que Moro era o chefe da força-tarefa da Lava Jato, era o chefe dos procuradores. Ele está o tempo todo mandando o que os procuradores deveriam fazer e depois fingia ser imparcial.”
Sobre Moro, Greenwald observou: “Ele tem que parar com a tática de nos tentar criminalizar, porque essa é uma tática contra a liberdade de imprensa. Isso não vai fazer nada, a não ser estragar a imagem do país internacionalmente. Este material vai continuar a ser publicado e ele não poderá fazer nada sobre isso.
“Eu defendi o trabalho da Lava Jato. Sou a favor da luta pela corrupção. Mas ele [Moro] não tem o direito de quebrar a lei, quebrar o código de ética. O fim não justifica os meios que ele usou.
“Eu não vou sair do Brasil porque eu confio na Constituição brasileira que é muito clara ao proteger a liberdade de imprensa. Aliás, seria interessante que o partido do governo lesse o artigo 5º, que diz todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
“A democracia no Brasil vai ficar muito mais forte depois deste caso. O que estamos fazendo é simplesmente jornalismo”.
C.L.