Milhares de gregos se manifestaram em Atenas e em outras cidades gregas para mostrar seu repúdio ao projeto apresentado no Parlamento no início da semana, que o governo do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis espera aprovar nesta sexta-feira, 21, com o nome “Reforma da Seguridade Social e transformação digital da Instituição Nacional da Nutrição”.
Convocados pela central sindical de funcionários públicos ADEDY, pela Frente Militante de todos os Trabalhadores, PAME, e ainda pelo Centro Operário de Atenas, EKA, Sindicato dos Marinheiros do Porto de Pireu, e outras organizações sindicais, os trabalhadores denunciam que a reforma significa mais cortes nas pensões – que já vêm sendo reduzidas progressivamente desde que a Grécia pediu seu primeiro pacote de ‘socorro’ financeiro à Troika (BCE, União Europeia e FMII, em 2010.
Os sindicatos afirmam que a reforma é uma tentativa mal disfarçada de privatizar os fundos de pensão, e acusam o governo e outros políticos gregos de renegarem a promessa de rescindir todos os cortes exigidos pelas organizações financeiras internacionais que já levaram o país à quebra.
“Não toquem no sistema de Previdência Social”, “Segurança para todos”, proclamavam algumas faixas dos manifestantes.
“Tanto para mim, que levo muitos anos trabalhando, como para meus filhos que buscam trabalho, a reforma significa o desaparecimento do sistema público de seguridade social. Nem saúde, nem aposentadoria. Não há pensão garantida, só uma quantidade mínima de cerca de 300 euros que vai diminuindo. A idade da aposentadoria tem passado dos 60 anos – 55 para as mulheres – aos 67 e se não impedirmos irá para os 70″, disse Rania Papayeoryiu, uma diretora do sindicato dos funcionários de 56 anos, durante a manifestação.
Os gregos realizaram várias greves contra os cortes exigidos pela política de austeridade fiscal durante a crise de dívida que irrompeu no final de 2009. O país saiu de seu terceiro pacote financeiro em 2018, mas está longe de resolver os problemas.
O ex-ministro grego, Yanis Varoufakis, explicou que está sendo exigido da Grécia “uma meta de superávit primário de 3,5% da renda nacional até 2022 e de 2,2% de 2023 até 2060”.
“O arrocho continua até 2060, em um país em que o PIB foi reduzido em 25% em oito anos, tem o maior desemprego da Europa e brutal perda de salários e de aposentadorias. Dá pra imaginar a dimensão dos cortes exigidos para garantir, ano após ano, tamanhas sobras, tudo a ser depositado no altar sagrado do pagamento da dívida e da salvação dos bancos, como exige o Banco Central Europeo”, disse o ex-ministro de Economia, que se rebelou contra o governo de traição de Tsipras, optando pela renúncia à sua pasta. As medidas de submissão à Troika (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e União Europeia) fizeram que Tsipras, que se dizia de esquerda, sofresse em julho de 2019 a derrota eleitoral que levou o reacionário Mitsotakis ao poder.