Atrelar ao dólar é assalto ao bolso do povo
Governo quer retirar dos aposentados para doar aos combustíveis
Na noite de quarta-feira, após a greve dos caminhoneiros praticamente paralisar 22 Estados, com amplo e crescente apoio da população, o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, anunciou uma redução de 10% no preço do óleo diesel nas refinarias, por 15 dias.
No site da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABCAM), um caminhoneiro comentou: “Redução de 10% que vai durar apenas 15 dias. Isso é piada?”.
Parente é um sujeito sem nenhum caráter. Depois de aumentar o preço do diesel 11 vezes em 17 dias, já com os caminhoneiros em revolta, aumentou outra vez o preço – do diesel e da gasolina – na segunda-feira, dia 21, pois, “a gasolina e o diesel são commodities, logo são atrelados ao dólar”.
Um pacote de biscoitos também é uma “commodity” (biscoitos têm até cotação na Bolsa de Commodities de Chicago). Nem por isso seu preço tem de ser determinado pela especulação com o dólar. Aliás, nem a soja nem o minério de ferro têm seus preços determinados pelo dólar. Muito menos os salários – é claro – variam de acordo com a taxa de câmbio do dólar.
Assim, na terça, a revolta se tornou, cada vez mais, nacional. Então, menos de 24 h depois de aumentar o diesel e a gasolina, Parente anunciou uma redução de 1,54% no preço do diesel e 2,08% no preço da gasolina.
A gasolina, em menos de 24 h, tinha deixado de ser uma “commodity”? Não, respondeu Parente, “houve uma redução importante de câmbio ontem. Prova de que essa política tanto funciona na direção de subir os preços e de cair os preços”.
Deve ser por isso que, desde que essa política foi implantada, a 3 de julho do ano passado, o preço do diesel aumentou 59,32% (e o da gasolina, 58,76%), para uma inflação, pelo IPCA, de 2,68%.
Trata-se de uma política de pilhagem, de roubo sobre o povo brasileiro, que repercute agudamente nos caminhoneiros, e somente para beneficiar multinacionais e acionistas estrangeiros da Petrobrás.
Porém, a redução ridícula de terça-feira somente jogou gasolina na fogueira. Eram 19 os Estados atingidos pela greve dos caminhoneiros. Passaram a ser 22 na quarta-feira.
Daí, menos de 24 h após a redução de fancaria da terça-feira, Parente teve que anunciar uma redução, no preço do diesel nas refinarias, de 10%, por 15 dias.
Por algum acaso a taxa de câmbio sofreu uma alteração de 10%, de terça para quarta-feira?
Obviamente, não.
O que isso mostra é que as supostas justificativas econômicas para os aumentos sucessivos – 118 aumentos do diesel e da gasolina de julho a dezembro do ano passado, cinco só na semana passada, 12 nos últimos 18 dias – são falsas.
O motivo dos aumentos, como constatou a Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), é meramente favorecer “os produtores norte-americanos, os ‘traders’ multinacionais, os importadores e distribuidores de capital privado no Brasil” (cf. AEPET, “Política de preços de Temer e Parente é ‘America First!’”, 12/12/2017).
Como pode ser isso, se, no momento atual, inclusive, as refinarias estão com capacidade ociosa, portanto não há, em princípio, necessidade do país importar gasolina e diesel?
Simplesmente porque o que Parente está fazendo é beneficiar as multinacionais, que estão importando gasolina e diesel, para lucrar com os altos preços internos.
O preço médio do diesel está, em média, 39,9% acima dos preços internacionais. O preço médio da gasolina nas refinarias da Petrobrás está, em média, 22,1% acima da referência internacional, que é o preço no Golfo do México (dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura, CBIE).
Portanto, as multinacionais estão aumentando seus ganhos com a importação de diesel e de gasolina – sem nenhuma necessidade para o país, pelo contrário, com prejuízo para o país – porque os preços altos internos, estabelecidos por Parente, têm como consequência uma margem de lucro absurda.
A política é, sucintamente, manter os preços internos do diesel e da gasolina acima dos preços internacionais, para aumentar o lucro das multinacionais que importam dos EUA esses produtos.
Essa política está abertamente formulada em documentos da gestão Parente na Petrobrás. Por exemplo, em uma nota oficial de dezembro de 2017, cinco meses após o início da atual política de preços: “a decisão [de aumentar o preço do diesel e da gasolina] mantém inalterada a política de preços em vigor, reafirmando o compromisso da companhia de operar sempre com margem positiva acima da paridade internacional” (v. HP 07/03/2010, Às custas da Petrobrás, governo locupleta EUA).
Portanto, o compromisso de Parente é aumentar o preço do diesel e da gasolina acima do preço internacional para que as petroleiras norte-americanas e outros parasitas se abarrotem de dinheiro.
Ainda mais resumidamente: a política de Parente é colocar a Petrobrás, que foi criada para ser um instrumento do nosso desenvolvimento e independência, a serviço dos monopólios petroleiros externos, basicamente a Exxon, a Chevron e a Shell, além de algumas tradings.
Por isso, é ilusão querer resolver o problema dos caminhoneiros cortando os tributos sobre os combustíveis. Não é nos tributos (três federais: a Cide, a Cofins e o PIS, e um imposto estadual, o ICMS) que está o problema, mas na política de preços do anormal que Temer colocou na Petrobrás.
Embora, é verdade que Meirelles, com o objetivo de desviar dinheiro para os juros, aumentou as alíquotas da Cofins e do PIS que incidem sobre os combustíveis, no meio do ano passado, ao mesmo tempo que Parente instalava a pilhagem como política de preços da Petrobrás.
Trata-se, portanto, de uma quadrilha que combina “políticas”, ou seja, assaltos contra o povo.
Porém, um corte da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, tributo destinado a investimentos na infraestrutura de transportes) redundaria em uma diminuição, se o preço do diesel continuasse fixo, de R$ 0,05 (cinco centavos) por litro.
Quanto à Cofins e ao PIS, tributos que existem para financiar a Previdência, um corte neles redundaria – segundo o próprio patrono da ideia, Rodrigo Maia – em uma redução da mesma dimensão daquela da Cide, outros cinco centavos por litro.
Seria uma redução irrisória do preço do diesel. Não resolveria problema algum dos caminhoneiros nem do conjunto do povo brasileiro.
Apenas abriria um rombo na Previdência, sem alterar a situação dos caminhoneiros. Por aqui se pode perceber a preocupação do governo com a situação da Previdência.
Quanto a baixar o preço do diesel em 10% durante 15 dias, o caminhoneiro que citamos acima tem razão: é palhaçada. Parente tem uma inteligência à altura de Temer: aquele nível de inteligência que acha que os outros são burros.
Evidentemente, não são os outros que são burros.
CARLOS LOPES
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