A greve dos caminhoneiros cresceu nesta terça-feira, 22, segundo dia de greve, com mais bloqueios de rodovias e vias de acesso mobilizando trabalhadores em 20 estados e no Distrito Federal, contra a política de reajuste do óleo diesel.
Com o movimento, além dos protestos, a greve começou a ser sentida em vários setores do país. O aeroporto de Brasília, que ficou sem combustível, cancelou três voos nesta terça-feira. A greve também paralisou a fábrica de automóveis da GM em Gravataí (RS), na Região Metropolitana de Porto Alegre, que suspendeu a produção. Na Bahia, a greve barrou a logística da Ford, impedindo a chegada de peças e transporte de veículos até o porto.
Segundo a Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), estão paralisadas rodovias parcial ou totalmente nos estados de Alagoas, Bahia, Brasília, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
Nesta terça, mesmo com a grande mobilização, o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, negou a intenção de mudar a política de preços dos combustíveis. Durante à tarde, ele se reuniu com os ministros Eduardo Guardia (Fazenda) e Moreira Franco (Minas e Energia) e, após o encontro, o governo condicionou a redução dos preços à aprovação pelo Congresso Nacional da reoneração da Folha. “Uma vez que a reoneração for aprovada no Congresso, iremos editar um decreto para eliminar a Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico] do diesel, que se tata de um imposto regulatório”, disse Guardia. Cobrada desde maio de 2015, a Cide é uma alíquota de R$ 0,10 por litro para a gasolina e R$ 0,05 por litro para o diesel.
Os caminhoneiros em greve são trabalhadores autônomos, ou seja, não vinculados a nenhuma empresa de transporte, e o óleo diesel representa 42% do custo da atividade. Com a política aplicada por Parente, desde 03 de julho do ano passado, o preço dos combustíveis aumentou de forma inescrupulosa, chegando ao absurdo de cinco aumentos diários na semana passada. Nesta semana, o aumento foi 0,90% no preço da gasolina e 0,97% no diesel.
Se considerarmos apenas o diesel, o aumento nas refinarias chegou a 57,78%. No acumulado somente na semana passada, a alta chegou a 6,98% nos preços da gasolina e de 5,98% no diesel. Isso acontece porque Parente busca manter os preços baseados na variação da cotação do petróleo no mercado internacional – ainda que a Petrobrás não dependa do mercado internacional para sobreviver.
Litti: “Governo virou as costas para o transporte e empresas nacionais”
Para o líder dos Caminhoneiros no estado do Rio Grande do Sul, Carlos Alberto Litti Dahmer, do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Ijuí, “a nossa região se somou com as demais do RS e já são 35 pontos de parada, e a tendência é crescer, por conta do que manifestou o presidente ontem, que virou as costas para o setor dos transportes. Não só para os caminhoneiros autônomos, que já há muito tempo têm se virado, mas para as pequenas empresas, as grandes, empresas nacionais inclusive, que estão tentando sobreviver nesse difícil mercado”.
Litti se referiu à declaração de Temer feita na véspera (21), de que os impostos que incidem sobre os combustíveis são imutáveis. Isso porque a categoria chegou a protocolar um ofício cobrando medidas frente à alta desenfreada dos preços dos combustíveis, e emitiu nota para a sociedade explicando que “além da correção quase que diária dos preços dos combustíveis realizado pela Petrobrás, que dificulta a previsão dos custos por parte do transportador, os tributos PIS e Cofins, majorados em meados de 2017 com o argumento de serem necessários para compensar as dificuldades fiscais do Governo, são o grande empecilho para manter o valor do frete em níveis satisfatórios”.
Litti ressalta que “este não é um movimento só dos caminhoneiros do país. É um movimento da sociedade brasileira, do aposentado que está aqui, do trabalhador e de todas as categorias profissionais que estejam juntas para dizermos basta! Chega de corrupção, de roubalheira, de exploração que é o que acontece com quem quer trabalhar e está querendo apenas a possibilidade de botar o pão na mesa, que são os trabalhadores que estão aqui e muitas vezes veem 50% ou 60% do seu lucro se esvair no preço do óleo diesel”. E finaliza: “Está na hora de toda a sociedade se juntar a nós, tirar o que ficou entalado na garganta e dizer ‘chega’ a essa política vendida, dessa política econômica errada e da exploração que esse governo faz”.
Veja aqui a declaração do dirigente sindical no Rio Grande do Sul