Empresários do Grupo Veggi, do Mato Grosso, importaram ilegalmente mercúrio que foi injetado dentro de martelos para fornecê-lo ao garimpo que atua de forma criminosa na região amazônica, afirma a Polícia Federal.
Vídeos e áudios obtidos pela PF mostram que a família Veggi organizou o transporte internacional de mercúrio, produto tóxico que é usado na separação do ouro.
O mercúrio foi injetado, com uso de uma seringa, dentro de um martelo que foi transportado do México para a Bolívia, onde os empresários do Grupo Veggi têm atuação.
Arnoldo Silva Veggi, conhecido como Dodo Veggi, que já foi vereador em Cuiabá, enviou um áudio para seu pai, Ali Veggi Atala, informando sobre o transporte do martelo.
Ele também enviou para o pai, que é químico e era membro do Conselho Federal de Química, o vídeo que mostra o mercúrio sendo injetado no martelo. Ali Veggi Atala atuava como uma espécie de “consultor técnico” do esquema criminoso.
O primeiro martelo foi importado ilegalmente no dia 5 de novembro de 2022.
No dia 17 do mesmo mês, Arnoldo Veggi enviou um áudio para o pai falando sobre o transporte de um segundo martelo, novamente contendo mercúrio, do México para a Bolívia.
“E aí, pai. Tudo bem? Tô em Acapulco, conhecendo a praia do Oceano Pacífico… O primeiro martelo acabou de ser liberado da Cidade do México pra Santa Cruz [de La Sierra, Bolívia]”.
As provas foram obtidas pela PF durante a Operação Hermes (Hg), fazendo referência ao símbolo do mercúrio na tabela periódica, Hg, que desmontam o esquema que extrai e comercializa o minério ilegal.
Segundo a PF, “com o sucesso do envio do primeiro martelo contendo mercúrio oculto, Arnoldo [Dodo] e Ali já encomendaram para o indivíduo de alcunha Fábio mais 10 (dez) martelos recheados de mercúrio para a importação ilícita”.
A família Veggi ainda utilizou empresas de fachada para transferências referentes à importação ilegal de mercúrio. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou dez pessoas envolvidas no esquema criminoso, enquanto a Justiça os tornou réus.
O mercúrio é utilizado por garimpeiros na separação do ouro de outros materiais que são coletados ilegalmente em rios na região amazônica. O produto provoca danos no sistema nervoso central e nos rins, por exposição repetida ou prolongada. É muito tóxico para os organismos aquáticos, com efeitos prolongados.
O garimpo ilegal foi apoiado por Jair Bolsonaro durante os quatro anos em que ele esteve na Presidência da República. Além das diversas declarações e projetos para legalizar o garimpo em terras indígenas, o governo se reuniu e protegeu os criminosos.
A atividade é considerada um dos pontos mais importantes para a crise humanitária vivida pelos indígenas yanomamis em Roraima.