Para esconder “coisas que nem queria saber”
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou na quarta-feira (10) um corte em 25% no orçamento para a realização do Censo Demográfico de 2020.
No mês passado, durante a cerimônia de posse da nova presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia “sugerido” uma simplificação do censo. Para ele, “se perguntar demais você vai acabar descobrindo coisas que nem queria saber”. Guedes não só adiantou os cortes que faria como defendeu que o IBGE se desfizesse de seu patrimônio para poder sobreviver.
O Censo é fonte de referência para conhecimento das condições de vida da população em todos os municípios do País. É o maior e mais abrangente levantamento sobre a população brasileira. Além disso, o IBGE divulga os dados oficiais do Produto Interno Bruto (PIB) do país e as pesquisas mensais de emprego, produção industrial, varejo e serviços.
Esconder a realidade do país faz parte da turma do Bolsonaro, que na semana passada classificou os números do desemprego apresentados pelo IBGE como “uma farsa”. “Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil. O que está aí é uma farsa”, disse.
A pesquisa criticada por ele havia apontado que no trimestre encerrado em fevereiro de 2019 – ou seja, se refere a dois dos quatro primeiros meses de gestão de Bolsonaro e Guedes – 892 mil pessoas ingressaram na condição de “desocupadas” no Brasil, atingindo a cifra de 13,1 milhões de pessoas desempregadas.
Bolsonaro não gostou do resultado, disse que o emprego estaria melhorando e o IBGE havia deturpado esses dados. Os cortes anunciados por Guedes mostram que o governo vai tentar estrangular o IBGE para esconder o desastre econômico e social provocado por sua política.
Censo demográfico
O IBGE realiza o censo demográfico desde 1940 com periodicidade decenal, apresentando dados detalhados sobre a população brasileira. O primeiro mapeamento oficial, contudo, foi realizado em 1872 – ainda no Império.
Esta é uma pesquisa de fundamental importância para qualquer país do mundo que queira conhecer e enfrentar seus problemas econômicos e sociais. Enfraquecê-la, como querem Guedes e Bolsonaro, é uma afronta ao povo brasileiro e um desserviço ao Brasil.
Em nota, a associação dos funcionários do IBGE (ASSIBGE-SN) condenou o corte, ressaltando os prejuízos para a elaboração adequada da pesquisa e também a implicação disso nas condições de trabalho dos recenseadores. “A produção adequada de dados é um pressuposto da gestão pública eficiente. Dessa forma, cortar verbas do mais importante levantamento das condições de vida da população no Brasil não pode de forma alguma ser considerado uma forma de ‘economizar’”.
Segundo o IBGE, “o Questionário Básico da pesquisa investiga informações sobre características dos domicílios (condição de ocupação, número de banheiros, existência de sanitário, escoadouro do banheiro ou do sanitário, abastecimento de água, destino do lixo, existência de energia elétrica etc.); emigração internacional; composição dos domicílios (número de moradores, responsabilidade compartilhada, lista de moradores, identificação do responsável, relação de parentesco com o responsável pelo domicílio etc.); características do morador (sexo e idade, cor ou raça, etnia e língua falada, no caso dos indígenas, posse de registro de nascimento, alfabetização, rendimento mensal etc.); e mortalidade. A investigação nos domicílios selecionados, efetuada por meio do Questionário da Amostra, inclui, além dos quesitos presentes no Questionário Básico, outros mais detalhados sobre características do domicílio e das pessoas moradoras, bem como quesitos sobre temas específicos, como deficiência, nupcialidade e fecundidade”.