Quer impor auxílio emergencial miserável
Mesmo após o tombo de 4,1% do Produto Interno Bruto em 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a dizer que a economia brasileira foi uma das que menos caiu no mundo e que teve “recuperação em V” (explosiva), segundo declarou na segunda-feira (8), em coletiva à imprensa.
No entanto, a única coisa que os brasileiros estão vendo em “V” na gestão de Bolsonaro é a explosão dos preços dos alimentos, dos combustíveis, das tarifas de energia, dos aluguéis, do desemprego, além das explosões nos números de novos casos da Covid-19 e de mortes pela doença no país.
Frente ao quadro gravíssimo que a crise sanitária se encontra no atual momento e com a economia indo ladeira abaixo, Paulo Guedes quer dar aos trabalhadores afetados pela pandemia um auxílio emergencial de apenas R$ 175, chegando no máximo a R$ 375 no caso das mães que cuidam sozinhas dos filhos, valores bem abaixo dos que foram aprovados pelo Congresso Nacional no ano passado, de R$ 600 e R$ 1.200, no caso das mães.
“Esse é um valor médio [R$250], porque, se for uma família monoparental, dirigida por uma mulher, aí já é R$ 375. Se tiver um homem sozinho, já é R$175. Se for o casal, os dois, são R$ 250, disse Guedes.
O desastre econômico de Guedes
Sob o comando do guru econômico de Bolsonaro a economia brasileira está pior do que quando ele a pegou no início de 2019, após o frágil crescimento de 1,8% em 2018. A economia brasileira patinou em 2019 e acumulou alta de 1,4%, frustrando as expectativas de Paulo Guedes, que na época, afirmava que a economia estava decolando.
O ano de 2020 veio, e nos seus primeiros três meses a atividade econômica recuou em -2,1%, frente ao quarto trimestre de 2019. Nesta época, Paulo Guedes, assim como o próprio Bolsonaro fez e ainda faz, minimizou o potencial da doença e as mazelas econômicas que ela traz consigo. O coronavírus desembarcou no Brasil com uma economia já fragilizada e com os brasileiros desprotegidos, sem algum plano do governo central tanto para a contenção da epidemia quanto para aliviar seus efeitos econômicos.
Se não fosse a pressão social que levou o Congresso Nacional a aprovar medidas emergenciais, o tombo econômico de -4,1% em 2020 seria muito maior. As quatro parcelas de R$ 600 do auxílio emergencial amorteceram o choque da pandemia sobre a economia, além de ter garantido que as pessoas pudessem cumprir as medidas restritivas.
Negacionista, o governo queria destinar apenas R$ 200 para os trabalhadores que viram da noite para o dia suas rendas desaparecerem. Após o fim das quatro parcelas, já aventando que a economia estava crescendo em “V”, Paulo Guedes cortou o auxílio pela metade, para R$ 300, a partir de setembro. Consequentemente, o corte levou à queda do consumo das famílias.
Queda não foi maior graças ao auxílio emergencial
O consumo das famílias foi um dos principais fatores para a alta de 7,7% vista no 3º tri (de julho a setembro) de 2020, na comparação com o trimestre anterior (de abril a junho), queda de -9,2%. No 3º tri de 2020, o consumo das famílias cresceu 7,7% frente ao 2º tri, queda de 11,3%. No 4º tri (de outubro a dezembro) a economia brasileira voltou a patinar, ficou em 3,2%. O consumo das famílias também perdeu ritmo, ficando em 3,4%, ambos em relação ao trimestre anterior.
Cabe ainda ressaltar que a queda no PIB do 2º tri de -9,2%, em relação ao 1º tri, poderia ter sido menor se o governo tivesse liberado a ajuda emergencial aos trabalhadores com agilidade. O poder Legislativo finalizou a aprovação do benefício em 30 de março. Bolsonaro só sancionou a lei que autorizava o pagamento do auxílio em 1º de abril, e as primeiras parcelas só começaram a ser pagas em 19 de maio. Ou seja, Guedes e sua equipe demoraram 50 dias para liberar os benefícios aos trabalhadores.
Mesmo com a economia em pleno arrefecimento no último trimestre, Paulo Guedes, com o aval de Bolsonaro, cortou o auxílio emergencial no final de dezembro. Neste período a epidemia já mostrava sinais de recrudescimento, e o ministro além de cortar o auxílio, autorizou o aumento do imposto sobre cilindros de oxigênio – insumo que mais a frente faltou para os cidadãos de Manaus.
Desmonte do setor público
Paulo Guedes iniciou o ano de 2021 querendo barganhar com o desespero alheio. Propôs uma nova rodada do auxílio emergencial em troca da aprovação de projetos e propostas de alteração da Constituição, que preveem o desmonte dos serviços públicos, corte de salários, entre outras aberrações, como o fim do piso mínimo Constitucional para a saúde e educação – proposta que foi retirada de cena após repúdio público.
Embora já registrados mais de 260 mil mortes no país e com um recorde diário de quase 2.000 óbitos, o governo se dispõe a dar uma ajuda financeira entre R$ 175 e R$ 375 para os brasileiros, que na recuperação em “V” de Guedes não conseguem comprar alimentos básicos do dia a dia, como arroz, carnes, óleo de soja, entre outros, pois seus preços dispararam nas gôndolas dos supermercados.
Desemprego e carestia
O valor proposto pelo governo não cobre a compra de uma cesta básica, que custa hoje em torno de R$ 600, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em doze meses de pandemia, a cesta básica acumula alta de quase 30% em algumas capitais, o que torna ainda mais difícil a vida da legião de desempregados e trabalhadores informais que ficaram sem renda a partir de janeiro.
Na recuperação em “V” do ministro Guedes, a taxa de desemprego encerrou o ano de 2020 no patamar recorde de 13,5%, o maior em toda a série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012, pelo IBGE. Além disso, 32 milhões de brasileiros não tinham emprego no último trimestre de 2020.
Na recuperação em “V” do Chicago boy, os caminhoneiros e demais trabalhadores dos transportes têm que pagar pedágio para os acionistas da Petrobrás e demais especuladores estrangeiros do mercado do petróleo. Em 2021, a gasolina acumula alta de 54% e o diesel subiu 42%, após a direção da Petrobrás, sob o comando de Bolsonaro, autorizar o sexto e o quinto reajuste nos preços da gasolina e do diesel, respectivamente, na segunda-feira (8).
Na fantástica recuperação em “V” de Guedes ainda, o Brasil saiu do ranking das 10 maiores economias do mundo. De acordo com a agência de classificação de risco Austin Rating, com a queda de 4,1% em 2020, a economia brasileira caiu da 9ª para a 12ª colocação no ranking, que considera o PIB nominal do país, em valores correntes. De acordo com a sondagem, o Brasil foi superado por Canadá, Coreia e Rússia.
ANTONIO ROSA