A declaração de Bolsonaro, na segunda-feira, de que “alguma coisa [da Petrobrás] você pode privatizar, não toda. É uma empresa estratégica, nós estamos conversando sobre isso ainda. Em parte, pode, sim [ser privatizada]”, significa o seguinte: a maior parte dos eleitores – inclusive os eleitores militares – são contra a privatização da Petrobrás. Então, por enquanto, é melhor privatizar por partes.
Se não fosse isso, por que ele iria colocar um privatista, como Roberto Castello Branco, na presidência da Petrobrás?
Aliás, por que iria nomear, como “ministro da Economia”, Paulo Guedes, que é a favor de privatizar 100% das estatais, inclusive a Petrobrás, se ele fosse contra a privatização da Petrobrás?
Quanto a Castello Branco, o sujeito é tão entreguista, tão anti-Petrobrás, que parece obtuso. Não é qualquer entreguista que, em sua primeira declaração após o anúncio de que será nomeado presidente da maior empresa brasileira, é capaz de dizer o seguinte:
“A Petrobrás desenvolve outras atividades que não são naturais e que não atraem retorno. O melhor exemplo disso é a distribuição de combustíveis. A estatal ainda é dona da BR Distribuidora. A BR é uma cadeia de lojas, no fim das contas. A competência da Petrobrás é na exploração e produção de petróleo.”
A distribuição de derivados de petróleo é a atividade mais lucrativa do Grupo Petrobrás. Mas, segundo esse elemento, “não atrai retorno”.
A comercialização de derivados de petróleo, para uma empresa de petróleo, como a Petrobrás, segundo Castello Branco, é uma “atividade não natural”.
Mas, por que ela é uma atividade natural, e de alto retorno, para a Shell, a Exxon Mobil, a Chevron, mas não para a Petrobrás?
Por que somente a Petrobrás é que não pode ter uma rede de distribuição de combustíveis, ao contrário de todas as outras petroleiras de porte semelhante?
Desde quando a comercialização de derivados de petróleo não faz parte dos negócios de uma empresa de petróleo?
Qual a grande empresa de petróleo do mundo que se dedica apenas à “exploração e produção” de petróleo?
Castello Branco não diz essas coisas porque ignore qual é a realidade das empresas de petróleo. Isso, até o Flávio Bolsonaro – um revoltado contra as escolas, os professores e o ensino – sabe.
Quem não sabe que uma empresa de petróleo necessita de uma rede de postos para comercializar a sua produção de derivados?
Castello Branco, portanto, diz essas coisas porque é a Petrobrás que lhe compete sabotar – e em prol, exatamente, das empresas estrangeiras de petróleo.
Ele, também, claro, é contra as atividades de refino de petróleo da Petrobrás. Mas, aqui, como o caso é escandaloso demais, ele profere maldições sobre o “monopólio”, no refino, da Petrobrás – um monopólio que, simplesmente, não existe (ele, Castello Branco, é que quer favorecer o monopólio das multinacionais do petróleo, às custas da Petrobrás).
Mas é quase original (só não é original porque houve antes o Pedro Parente) o presidente de uma empresa de petróleo que se queixa da “excessiva” participação no mercado de sua empresa.
A Standard Oil chegou a 90% do mercado dos EUA – e Rockefeller, dono da empresa, jamais se queixou disso. Pelo contrário, ficou furioso quando uma sentença da Suprema Corte, em 1911, partiu a Standard Oil em 34 novas empresas, apesar de continuar a controlá-las.
Mas, segundo Castello Branco, o refino da Petrobrás é excessivo, a comercialização de derivados da Petrobrás é “não natural” – e ele somente não fala que a Petrobrás deve parar com as atividades de exploração e produção de petróleo bruto (ou ser privatizada, o que, nesse caso, é equivalente), porque aí… bom, aí, como se dizia antigamente, a cobra vai fumar.
Daí, seu plano imediato é que a Petrobrás seja uma mera fornecedora de petróleo bruto para as multinacionais.
Assim, ele elogiou seu antecessor, Pedro Parente.
“Pedro Parente fez um ótimo trabalho de compliance [fazer a empresa agir de acordo com certas regras] e redução de custos”.
As duas coisas são mentira. O que Parente fez foi aumentar os preços dos produtos da Petrobrás, sempre acima do preço internacional. Com isso, tornou mais rentáveis as importações de combustíveis das multinacionais e fez a empresa brasileira recuar no mercado interno. Por fim, criou uma explosão no país, expressa pela greve dos caminhoneiros.
Este foi o brilhante retrospecto de Parente (v., p. ex., Ildo Sauer: “Parente é um serviçal especialista em apagão e desabastecimento”).
Que Castello Branco elogie Parente, apenas demonstra o que ele considera que é o melhor a fazer com a Petrobrás: sabotá-la.
Castello Branco é um chicago-boy, como Paulo Guedes, que o indicou, e Joaquim Levy, que também Guedes indicou para presidente do BNDES (v. Secretário da Fazenda de Cabral presidirá o BNDES de Bolsonaro).
Todos fizeram os cursos da universidade de Rockefeller – a Universidade de Chicago, o maior antro de formação de escroques econômicos dos EUA.
Não se trata, aqui, nem mesmo dos neoliberais mais escolados, no estilo de Lara Resende ou Pérsio Arida, mas daquela ganga, incapaz de formular uma ideia – pois está ocupada demais com os golpes na praça para satisfazer a própria ganância (que, aliás, nunca é satisfeita).
O máximo que essa gente consegue são coisas como aquela, escrita por Castello Branco: “não privatizar significa optar por ser mais pobre no futuro”.
Ou seja, liquidar com a propriedade do povo, a propriedade pública – portanto, deixando o povo mais pobre – é ficar mais rico.
Realmente, para os parasitas, negocistas, aventureiros – e para os monopólios financeiros – a privatização é um grande negócio. Trata-se de enriquecer às custas de tornar o país e seu povo mais pobre.
Castello Branco, aliás, tem experiência no assunto, pois, entre 1999 e 2014, foi executivo da Vale, depois de sua privatização. Em 2015, no governo Dilma, entrou no Conselho da Petrobrás. Atualmente, está na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Portanto, toda uma carreira às custas do patrimônio público.
Bolsonaro declarou que Castello Branco “é uma indicação do Paulo Guedes. Tudo o que é envolvido com economia é com ele, que está escalando o time”.
O último Castello Branco que Bolsonaro ouviu falar, provavelmente, foi o primeiro presidente da ditadura…
C.L.