Segundo o ministro, a Covid “cedeu bastante” e a economia “voltou com muita força”. Depois das eleições, “voltamos a falar do imposto digital”
O ministro da Economia, Paulo Guedes, mais uma vez voltou a negar a tragédia da pandemia para dizer que o país não está ameaçado por uma segunda onda da Covid-19, e que nesse sentido não pretende prorrogar o auxílio emergencial de R$ 600 que acaba agora em dezembro, afinal, a economia “voltou com muita força”.
Segundo Guedes, a Covid “cedeu” e “está descendo”. “A ideia é que o auxílio emergencial se extingue no final do ano. A economia está voltando forte, a doença está descendo. Eu não estou dizendo duas ou três semanas. Eu estou dizendo, de 1,3 mil, 1,4 mil mortes diárias, a coisa caiu para 300, 250. Agora, parece que voltou para 350. É uma tragédia de dimensões imensas, é terrível essa epidemia que abateu sobre o Brasil. Contra evidência empírica, não há muito argumento. Os fatos são que a doença cedeu bastante e a economia voltou com muita força”, declarou em uma das videoconferências com empresários e investidores que participou na segunda-feira (23).
O fechamento do balanço dos números da Covid-19 no domingo (22) indicou 169.197 mortes sendo 181 em 24 horas. A média móvel de mortes no Brasil nos últimos sete dias ficou em 484 óbitos. A variação foi de +43% em comparação à média de 14 dias atrás, indicando uma tendência de alta nas mortes por Covid. O número de casos apresenta a mesma tendência, a média móvel nos últimos sete dias foi de 29.976 novos diagnósticos por dia, uma variação de +71% em relação aos casos registrados em duas semanas.
Segundo dados do IBGE e do Banco Central, a pequena “recuperação” verificada no terceiro trimestre em vários setores da economia, graças às medidas de medidas de emergência – particularmente ao auxílio de 600 reais – e a retomada da atividade econômica, após a queda verificada no segundo trimestre com o PIB desabando 9,7%, não significa que o país vai sair da recessão no final de 2020.
A “recuperação” está desacelerando mês a mês, segundo os dados da indústria, comércio e serviços, que voltaram ao patamar de antes da pandemia, sendo que no caso do comércio significa estagnação (0,0%). O desemprego bateu mais um recorde e mais de 30 milhões de brasileiros não encontram emprego, com a renda emergencial reduzida à metade. E a economia “voltou com muita força”, diz o ministro de Bolsonaro.
Nas conferências, Guedes, além de negar a ameaça de uma segunda onda e a crise que assola o país, defendeu entregar as estatais e voltou a culpar o Congresso Nacional por ter “frustrado” seu sonho de torrar o patrimônio do povo brasileiro.
Aliás, o mesmo Congresso Nacional que aprovou o estado de calamidade pública, garantiu o auxílio emergencial e o conjunto de medidas de apoio para micro, pequenas e médias empresas e a estados e municípios para fazer frente à pandemia, ajudando a economia e salvando vidas. Medidas que Guedes foi contra, no máximo, um vale de 200 reais de ajuda e uns R$ 5 bilhões para socorrer a economia. O Congresso aprovou cerca de 500 bilhões para combate à Covid, incluído aí o auxílio emergencial. Para os bancos, Guedes liberou de imediato mais de um trilhão.
NOVA CPMF
Questionado sobre a criação de um imposto sobre operações digitais, uma nova CPMF, Guedes atacou os 17 setores que mais empregam no país, cerca de 6 milhões de trabalhadores, que junto ao Congresso Nacional derrubaram o veto de Bolsonaro à desoneração da folha de pagamentos até o final do ano que vem para fazer frente à pandemia e garantir o emprego de milhares de trabalhadores.
Segundo Guedes, ele não quer aumento de impostos, mas disse que, para desonerar a folha, que ele foi contra, será necessário “ter outra base de impostos”. “Então, vocês estão vendo aí, tem 17 setores que têm um lobby muito forte. Eles querem desoneração para eles. Não para o Brasil todo”, declarou.
No dia 19, em evento promovido pelo Bradesco, Guedes disse que quando terminar as eleições vai voltar a defender mais impostos.
“Não estamos falando porque as eleições estão chegando. As pessoas têm preocupação de o tema ser explorado nas eleições, de falarem ‘ah, o ministro Paulo Guedes quer um imposto sobre transações financeiras, quer a CPMF’”, disse o ministro. “Então, não vamos falar sobre isso. Após as eleições, falamos novamente”, complementou.
Esconder sua proposta de aumento de impostos durante a campanha eleitoral não impediu a ampla derrota dos candidatos bolsonaristas no 1º turno das eleições municipais.