“Quanto vale um banco que tem 64 milhões de pessoas que foram bancarizadas pela primeira vez e serão leais pelo resto da vida? Estamos planejando um IPO deste banco digital nos próximos seis meses”, anunciou
Em conversa com “investidores” estrangeiros na terça-feira (21), o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que pretende desmembrar a área digital da Caixa Econômica Federal (CEF) para privatizar o Caixa Tem. O aplicativo tem o cadastro de 64 milhões de CPFs e foi criado para brasileiros carentes e trabalhadores informais, que perderam renda por conta da pandemia da Covid-19, para receberem o pagamento do auxílio emergencial.
“Na pandemia, digitalizamos 64 milhões de pessoas. Quanto vale um banco que tem 64 milhões de pessoas que foram bancarizadas pela primeira vez e serão leais pelo resto da vida?”, questionou Guedes. “Estamos planejando um IPO (oferta de ações em bolsa) deste banco digital nos próximos seis meses”, anunciou o ministro de Bolsonaro, em um evento organizado pelo instituto norte-americano Milken Institute. Além do Caixa Tem, o governo também trabalha para entregar ao mercado financeiro a Caixa Seguridade e a área de cartões do banco, cujo leilões estão previstos para 2021.
Hoje os usuários do Caixa Tem podem movimentar valores e realizar compras em estabelecimentos comerciais por meio de um cartão de débito virtual e QR Code. Também é possível pagar contas de água, luz, telefone, gás e boletos na plataforma. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, também já havia revelado que o Caixa Tem é lucrativo e deveria ser entregue à iniciativa privada, já que segundo ele, o aplicativo tem realizado mais de 300 milhões de transações, e por conta disto, seria um dos maiores bancos digitais do mundo. Segundo Guimarães ainda, o aplicativo deve crescer na oferta de serviços aos clientes nos próximos meses, com oferta de microcrédito e seguros.
Ao comentar a fala do ministro de Bolsonaro, o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sérgio Takemoto, afirmou que Guedes está preocupado “em garantir lucro à iniciativa privada do que à nação”.
“Querem entregar para o mercado algo que ainda nem existe e que deveria ser mantido nas mãos do país, em benefício principalmente à população mais carente”. “Se o próprio ministro afirma que o banco digital será muito rentável, para que vendê-lo, então? É inacreditável como este governo funciona”, afirmou Takemoto ao lembrar que o governo não pode privatizar a Caixa Federal sem o aval do Congresso, mas que está usando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) – que permite a livre venda de subsidiárias das estatais – para desmontar a Caixa Federal e demais empresas públicas.