Nenhum país do mundo comete esse suicídio econômico, que aniquila suas empresas e acaba com milhões de empregos
O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou em Davos, na terça-feira (21) que vai aderir ao Acordo Internacional de Compras Governamentais, para que as empresas estrangeiras possam participar das licitações do governo nas mesmas condições das empresas brasileiras. Apenas 42 países assinam o acordo, a maioria da União Europeia (27).
Isso significará um golpe demolidor na já capenga indústria brasileira que acumula uma queda de -1,1% de janeiro a novembro de 2019 (IBGE), além de queda no faturamento, nas horas trabalhadas, na renda real e no emprego dos trabalhadores, segundo dados de novembro da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Os mais de 12 milhões de desempregados que somados aos subempregados e desalentados, totalizam quase a metade da força de trabalho de mais de 100 milhões de brasileiros, a ociosidade da indústria e o PIB patinando nos míseros 1%, não entram nas contas do ministro de Bolsonaro.
Acompanhando a maior parte dos países em desenvolvimento, o Brasil nunca teve interesse em participar do acordo, que só é vantajoso para os países ricos, ávidos para escoar os seus produtos e serviços e garantir o emprego nos países deles.
A prioridade das compras governamentais a brasileiros tem, ou teve, o objetivo de promover o desenvolvimento econômico, a indústria nacional e a geração de empregos no Brasil, o que está muito longe dos objetivos do atual governo.
São 350 mil fornecedores ativos e não “seis empreiteiras e seis bancos” como quer Guedes fazer crer aos “200 milhões de trouxas“.
As compras governamentais do Executivo federal movimentam R$ 48 bilhões, grande parte com medicamentos, vacinas e computadores, segundo o secretário de Gestão do Ministério da Economia, Cristiano Heckert, em entrevista ao Valor. Somados outros Poderes, Estados e Municípios, os recursos públicos que Guedes quer desviar para os estrangeiros corresponderiam a 10% do Produto Interno Bruto (PIB).
O diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi, alerta que as mudanças não podem prejudicar a indústria nacional. Segundo ele, nenhuma das grandes economias que assinaram o acordo de compras governamentais abriram mão de instrumentos de proteção de sua indústria, de uma política industrial e de políticas públicas em seus países.
Até o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), reagiu ao anúncio de Guedes em Davos: “Isso é exportar empregos. É usar o poder de compra para importar produtos, gerar empregos no exterior. No momento que temos quase 12 milhões de desempregados, isso é bonito para inglês ver e ouvir, mas para nós, brasileiros, é horrível”, disse ao Valor.
Ao invés de convocar, por exemplo, centenas de construtoras nacionais para assumir as obras prejudicadas pelo esquema do “cartel do bilhão”, pego pela Lava Jato, Guedes aproveita para entregar as obras às construtoras estrangeiras, a pretexto de combater a corrupção.
Como se as multinacionais não tivessem um histórico recheado de corrupção, de subornos e até de guerras patrocinadas pelos seus governos em prol dos seus interesses.
Só para lembrar alguns casos de empresas, inclusive, que já atuam no Brasil.
A companhia alemã Siemens, que atua com sistemas eletrônicos de defesa, admitiu ter subornado funcionários públicos da Arábia Saudita e República Tcheca. Somente nos Estados Unidos, pagou US$ 1,4 bilhões em propinas a agentes públicos.
A americana Alcoa, fabricante de alumínio, foi acusada de pagar US$ 110 milhões em subornos para obter contratos no Barein.
As petroleiras americana Shell e a italiana Eni participaram de esquema de suborno envolvendo um dos blocos de petróleo mais valiosos da África, o que privou a Nigéria e seu povo de US$ 1,1 bilhão.
A Halliburton, empresa de energia norte-americana, foi acusada de liderar uma joint-venture que subornou autoridades nigerianas, garantindo quatro contratos de US$ 6 bilhões para o transporte de gás natural na ilha Bonny, entre 1995 e 2004.
No Brasil, a francesa Alstom foi denunciada por corrupção e desvio de dinheiro público no metrô paulista e na CPTM.
Com o objetivo de ir a Davos vender o Brasil, Guedes não está deixando por menos. Além dos ativos que está oferecendo, através das privatizações, anunciou a entrega de mais um setor estratégico para o país, as compras do governo.