Logo após a divulgação do resultado das eleições, o guru econômico da campanha de Bolsonaro, Paulo Guedes, declarou que o “primeiro grande item” do modelo econômico que vigorará a partir de primeiro de janeiro é a realização da reforma da Previdência.
“O primeiro grande item: a Previdência. Precisamos de uma reforma da Previdência”, afirmou Guedes em entrevista no domingo (28/10) à noite.
A reforma que Guedes quer aprovar é a mesma de Temer, com uma ou outra modificação cosmética (v. Dificuldade de aprovar ataque à Previdência faz Bolsonaro, Guedes e Onyx baterem cabeça).
Durante a campanha presidencial, Guedes enviou um documento para a equipe de Bolsonaro, defendendo o aumento da idade mínima para 65 anos (homens) e 62 anos (mulheres) – proposta idêntica à de Temer.
Bolsonaro já havia defendido o aumento da idade mínima. E compartilha com Temer a ideia de que o funcionalismo público é o problema da Previdência – na verdade, isso quer dizer que pretende começar pelo ataque às aposentadorias dos servidores públicos.
“O grande problema é o serviço público. O resto você combate a fraude e o descaso. No serviço público o homem se aposenta com 60 anos de idade. Vamos botar 61. Você aprova. Se você quiser já bota 65, mesmo que seja mais pra frente, você não vai aprovar. Porque a esquerda vai fazer uma campanha enorme dizendo que você vai se aposentar no cemitério. Se você fizer com calma, tu chega lá. Não adianta colocar remendo novo em calça velha. Dá para tratar desses assuntos vagarosamente”, afirmou Jair Bolsonaro em entrevista à TV Bandeirantes no início do mês.
O programa de governo de Bolsonaro/Guedes promete acabar com a Previdência Social e instalar no lugar um modelo de “capitalização”, parecido com o programa de Pinochet no Chile. Por esse modelo, citado explicitamente por Guedes, os patrões e também o Estado deixam de contribuir para a Previdência. As contribuições dos trabalhadores e trabalhadoras são aplicadas no sistema financeiro para render juros, o que significa dar aos bancos dinheiro alheio para especular. As consequências disso no Chile são conhecidas (v. Sem previdência pública, Chile tem suicídio recorde entre idosos com mais de 80 anos).
Onyx Lorenzoni, deputado federal do DEM cotado para ser ministro da Casa Civil, reiterou nesta segunda-feira (29), em entrevista, que o ataque à Previdência é uma das primeiras pautas do governo de Bolsonaro, defendendo que as mudanças devem ser ainda mais duras do que a proposta por Temer – “que não duraria cinco anos”.
“Quanto à questão da Reforma da Previdência eu defendo, mas aí é uma questão de uma leitura que eu tenho que ainda está em processamento, eu defendo que se faça de uma única vez, lá quando ele [Bolsonaro] já for o presidente e algo proposto para que dure 30 anos”.
Em outra entrevista na manhã desta segunda, Onyx afirmou que um novo projeto para a Previdência será enviado para o Congresso em 2019.
PRIVATIZAÇÕES
Segundo Guedes, “o segundo grande item do controle de gastos públicos: as despesas de juros. Vamos acelerar as privatizações porque não é razoável o Brasil gastar 100 bilhões de dólares [cerca de 400 bilhões de reais] por ano de juros da dívida. O terceiro é uma reforma do estado, são os gastos com a máquina pública. Nós vamos ter que reduzir privilégios e desperdícios”, completou.
O segundo grande item do programa de Bolsonaro e Guedes fala em controlar gasto público – especialmente a despesa com juros – acelerando as privatizações, ou seja, torrando o patrimônio do Brasil e dos brasileiros, pagando juros. O próprio Guedes defendeu, durante a campanha eleitoral a privatização de absolutamente tudo – o que incluiria a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica.
PARASITA
As declarações acima apenas revelam – e reforçam – o que deve se esperar com relação à política econômica do governo Bolsonaro. Este já afirmou várias vezes que não entende de economia e que quando o assunto for esse, Paulo Guedes tem total liberdade para fazer o que quiser.
Além das barbaridades acima e de ser um grande defensor do estado mínimo, o “economista” chegou a defender durante a campanha uma alíquota única para o Imposto de Renda (IR) elevando o tributo para quem ganha menos para o mesmo patamar de quem ganha mais.
O currículo do guru de Bolsonaro é resumidamente a de um parasita do sistema financeiro. Sua atividade é, inclusive, investigada atualmente pelo Ministério Público, apontado como o cabeça de um esquema de vazamento de informação privilegiada e de esquemas para dar golpes nos fundos de pensão das estatais ou no BNDES (v. Os negócios do corrupto guru econômico de Bolsonaro).
PRISCILA CASALE