Evento organizado pelo Canal Outras Palavras, do jornalista Antonio Martins, discutiu a exploração do Pré-sal em benefício dos brasileiros e a reindustrialização do país
O geólogo Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, participou de evento organizado pelo Canal Outras Palavras, do jornalista Antonio Martins, com o objetivo debater as ideias para um projeto de reconstrução nacional sob o tema “Caminhos para renacionalizar o Pré-Sal”.
Junto com Estrella, participou do debate o ex-senador Roberto Requião, que acompanhou no Congresso Nacional as discussões e as mudanças nas leis que acabaram com o monopólio do petróleo no Brasil.
Guilherme Estrella deu uma aula sobre o processo de industrialização desde a primeira revolução industrial e sobre a inserção do Brasil nesse contexto, particularmente a partir da criação da Petrobrás até a descoberta do pré-sal.
“Não tínhamos carvão, a nossa energia era o braço escravo. Não éramos um pais industrializado. Chegamos em 30, o Getúlio entra no governo e traz a energia como fator fundamental para a industrialização. Primeiro, a água e depois o petróleo”, diz o geólogo, lembrando o movimento “o Petróleo é nosso”, o povo na rua, e a mensagem de Getúlio Vargas em 52 que resultou na criação da Petrobrás, em 53, com o monopólio estatal do petróleo.
Assista o debate na íntegra a seguir
“Inicia-se assim a grande saga da Petrobrás no Brasil. E é importante dizer que a Petrobrás nasceu do zero, e diferentemente de outras empresas estatais que foram objeto de estatização por parte dos governos brasileiros, a Petrobrás não decorreu da estatização de empresa estrangeira. A Petrobrás foi construída do zero, por brasileiros, enfrentando o grande desafio de produzir petróleo no Brasil. Importávamos 80% do nosso consumo. E num grande esforço, a empresa investiu muito na formação de pessoas. Dez anos depois fundou o Centro de Pesquisas da Petrobrás, em 1963, na Ilha do Fundão, junto a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Então a empresa começa a formar sua competência genuinamente brasileira”, afirmou Estrella.
TECNOLOGIA PIONEIRA NO MUNDO
“Quando descobrimos petróleo em águas profundas na Bacia de Campos não havia tecnologia no mundo para produzir. A empresa, como monopólio estatal, com brasileiros, com o centro de pesquisa, com as equipes, nós desenvolvemos uma tecnologia pioneira no mundo inteiro para produzir óleo e gás já em águas profundas, a cerca de 1000 metros na Bacia de Campos. E com essa tecnologia, repito, com brasileiros, não tinha concorrência, competição, tinha compromisso com o Brasil. E com esse petróleo na Bacia de Campos chegamos a autossuficiência em 2006”, afirmou.
“Nós somos o maior produtos de alimentos, o quinto em extensão territorial. Temos os dois maiores aquíferos subterrâneos do planeta. Somos um país riquíssimo em recursos minerais. Temos uma das maiores e mais importantes províncias minerais do planeta, que é Carajás. O território mais bem servido por bacias hidrográficas do mundo, inclusive a maior bacia hidrográfica do mundo está no Brasil, que é a bacia Amazônica. Tudo isso faz com que o Brasil tenha uma importância global absolutamente fundamental, e quando ele descobre petróleo e começa então a concluir as suas bases de suprimento energético ele se torna um país ambicionado pelas grandes economias de grandes países mundiais”, sentenciou.
Estrela ressaltou a importância do pré-sal para alavancar o desenvolvimento do país, com soberania, com investimentos em saúde, educação, tecnologia e outros setores importantes e carentes da vida brasileira.
Hoje, esse patrimônio está sendo entregue, com o processo acelerado para se desfazer da Petrobrás, vendendo ativos, campos, refinarias, denunciou. “Temos que recuperar isso tudo. Essa é a nossa saída”, afirmou Estrella.
REQUIÃO: JOGAMOS FORA TUDO QUE A PETROBRÁS FEZ
O ex-senador Roberto Requião destacou que a Petrobrás era responsável por 80% dos investimentos feitos no país e “nós jogamos tudo isso fora”. Quando descobriu o pré-sal foi um prêmio, mais do que o PIB do Japão, por exemplo.
“Nós jogamos tudo isso fora”. Ele criticou as mudanças na lei, como a concessão e a partilha, ainda que assegurasse 30% de cada poço para a Petrobrás e como operadora única e a garantia de que o petróleo extraído fosse contabilizado para o país.
Segundo Requião, “o grande erro foi a capitalização da Petrobrás. O governo entreguista coloca a Petrobrás a serviço dos acionistas”.
“O Brasil não precisava da abertura da Petrobrás ao mercado”, afirma o ex-senador. “Temos que retomar esse processo”.
O ex-senador aponta como uma das mudanças para reverter essa situação a instituição de “um imposto pesadíssimo na exportação de óleo”, o que, segundo ele, “ainda estaria dando um lucro fantástico aos seus acionistas. Entre outras medidas seria a compra das ações e acabar com esse PPI (Preço de Paridade Internacional), essa parceria internacional, que tem provocado as altas nos preços dos combustíveis”, concluiu.