
O guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, apareceu em novo vídeo no canal de Jair Bolsonaro no YouTube, que depois foi apagado, criticando a ala militar do governo, além da bancada do PSL e também mostrando seu desalento com os rumos da gestão bolsonarista.
Postada no sábado (20), a peça mostra falas de Olavo de Carvalho que diz considerar Bolsonaro “um mártir” – em meio a críticas ao núcleo militar do governo.
“Qual a última contribuição das escolas militares à alta cultura nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então, foi só cabelo pintado e voz impostada. E cagada, cagada”, afirmou. Olavo de Carvalho também bate no discurso de que as Forças Armadas livraram o Brasil do comunismo.
“Esse pessoal subiu ao poder, destruiu os políticos de direita e sobrou o quê? Os comunistas, daí os comunistas tomaram o poder. E eles vêm dizer: ‘nós livramos o Brasil do comunismo’. Não, nós entregamos o país ao comunismo. Se tivessem vergonha na cara, confessariam o seu erro. Mas é só vaidade”, afirma.
Em seis minutos e meio, o vídeo deixa evidente um tom de pessimismo. “Depois da eleição de Bolsonaro, minha vida virou um inferno”, comenta o astrólogo. Ele continua: “Todo mundo fantasiando, inventando coisas. É impressionante. A capacidade fantástica desses caras é coisa de maluco”.
“Nada disso tem conserto. Pode vir mil Bolsonaros aí… Pra conseguir resolver alguma coisa vai ser fogo. É tanta intriga, é tanta política miúda, é tanto interesse…”, disse.
O astrólogo ainda mexeu nos militantes e aliados de Bolsonaro que, segundo ele, “largaram o povão”. “Todos querem entrar na elite, não derrubar a elite. Tudo o que querem é ficar em Brasília, brilhar e embolsar o dinheiro do governo”, disse Olavo.
Não é a primeira vez que Olavo de Carvalho manifesta desconforto com os rumos tomados pela nova administração em seus primeiros 100 dias. No início de março, ele fez uma publicação pedindo que seus alunos abandonassem o governo, na qual também teceu críticas aos militares.
“O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles. Não quero ver meus alunos tendo suas vidas destruídas no esforço vão de ajudar militares acovardados cujo maior sonho é ‘tucanizar’ o governo para agradar à mídia”, disse.
Em resposta às críticas de Carvalho, o vice Hamilton Mourão fez um comentário irônico, afirmando que Olavo deveria se concentrar no exercício da “função de astrólogo” por ser a que ele “desempenha bem”.
“Olavo de Carvalho perdeu o timing e não sabe o que está acontecendo no Brasil, até porque ele mora nos Estados Unidos. Ele não está apoiando o governo e não está sendo bom para o governo”, disse.
Olavo retrucou dizendo que Mourão é um “adolescente totalmente desqualificado”, que a resposta do vice é “coisa de moleque analfabeto” e que ele “deveria se limitar à única função que desempenha bem, de modelo”. Junto com esse comentário, Olavo postou uma foto de Mourão se maquiando em preparação para algum evento.
As falas de Olavo causaram um grande rebuliço, irritando os militares, e obrigaram Bolsonaro a se pronunciar, ainda que de forma muito suave e com fortes elogios a Olavo de Carvalho.
“Suas recentes declarações [de Olavo de Carvalho] contra integrantes dos poderes da República não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento de objetivos propostos em nosso projeto de governo”, afirmou Bolsonaro por meio de nota lida pelo porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, na segunda-feira (22).
O porta-voz, claro, expressando a vontade de Bolsonaro, elogiou o guru afirmando que ele “teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fez ao país”. E mais adiante disse que Bolsonaro “tem convicção de que o professor, com seu espírito patriótico, está tentando contribuir com a mudança e com o futuro do Brasil”.
Por isso, 24 horas depois dessa nota o filho Carlos Bolsonaro voltou a atacar Mourão dizendo que ele está no “último suspiro de vida”.
Carlos Bolsonaro divulgou, no Twitter, uma entrevista na qual Mourão afirma que a oposição contra Nicolás Maduro na Venezuela “tem que estar” desarmada, a fim de evitar uma “guerra civil” no país, o que seria “horrível
para o hemisfério como um todo”. “Quando a única coisa que lhe resta é o último suspiro de vida, surgem estas pérolas que mostram muito mais do que palavras ao vento, mas algo que já acontece há muito. O quanto querer ser livre e independente parece ser a maior crueldade para alguns”, escreveu o vereador.
O filho de Bolsonaro também ficou irritado com o convite para uma palestra do vice nos EUA. Trecho do texto diz que “os primeiros 100 dias da gestão Bolsonaro foram marcados pela paralisia política, em grande parte provocada pelas sucessivas crises geradas pelo círculo mais próximo do presidente”. “Em meio ao barulho político, o vice-presidente Hamilton Mourão emergiu como uma voz da razão e moderação, capaz de fornecer direções tanto em assuntos internos quanto externos”, acrescenta o convite. A palestra aconteceu no dia 9 de abril.
Carlos Bolsonaro comentou no Twitter: “Se não visse não acreditaria que [Mourão] aceitou [dar a palestra] com tais termos.
E isso porque Carlos Bolsonaro disse que iniciou uma nova fase “longe de todos que de perto nada fazem a não ser para si mesmos”. “Quem sou eu neste monte de gente estrelada?”, indagou.
Já Olavo voltou a atacar os militares: “generais incultos e presunçosos”.
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