“Meu pai não gostava do Brasil, nem de brasileiros. Jamais gostou”, disse a filha do astrólogo, Heloisa de Carvalho. “Não é porque morreu que virou santo. “Sei bem quem ele era, o mal que ele causou para tanta gente, para mim, para meus irmãos”, completou Heloisa
Morreu, na noite desta segunda-feira (24), o astrólogo fascista Olavo de Carvalho aos 74 anos, no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, onde morava. Ele estava internado com complicações de Covid-19.
No ano passado, o astrólogo e guru de Bolsonaro foi internado duas vezes no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. Na primeira, por uma crise de angina, e a segunda por insuficiência cardíaca e renal aguda e infecção sistêmica.
“MEU PAI NÃO GOSTAVA DO BRASIL E NEM DOS BRASILEIROS“
“Meu pai não gosta do Brasil, nem de brasileiros. Jamais gostou”, disse sua filha, Heloisa de Carvalho, sobre o fato de seu pai ter saído do Brasil e se tornado um cidadão norte-americano.
O sentimento do astrólogo em relação ao Brasil e aos brasileiros estava em total sintonia com Jair Bolsonaro. A identificação do mandatário era integral com seu guru, ao ponto do “mito” ser um grande admirador das baboseiras fascistas escritas pelo astrólogo de Virgínia e também, assim como Olavo, bater continência para a bandeira americana.
Assim que assumiu o Planalto, Bolsonaro levou uma pomposa delegação aos Estados Unidos e organizou um jantar em homenagem ao seu “guru filosófico”. Foi neste jantar, inclusive, que Bolsonaro afirmou que sua missão como presidente do Brasil não era “construir nada, mas sim desconstruir”. Na ocasião, Olavo fez várias indicações para o ministério do novo governo.
Sua filha, Heloisa Carvalho, conhecedora profunda do que representava o pensamento retrógrado da astrólogo fracassado, falou sobre a morte do pai nos EUA.
“Não é porque morreu que virou santo. Não tenho vontade nenhuma de ir, mesmo se o corpo vier para o Brasil, para os Estados Unidos muito menos”, disse Heloísa, em entrevista ao Portal Metrópoles.
“Sei bem quem ele era, o mal que ele causou para tanta gente, para mim, para meus irmãos. Não dá para você ficar sofrendo por uma pessoa que não sofreu nem pela morte da própria mãe. Minha vó morreu agonizando chamando o nome dele e nem um telefonema ele deu”, contou a filha.
FALSA MORAL E BONS COSTUMES
A suposta defesa da família, da moral e dos bons costumes, apregoada tanto por Olavo quanto por seu pupilo, Bolsonaro, é dissecada profundamente pela filha do guru no livro “Meu Pai, o Guru do Presidente”, publicado em 2020. Heloisa descreve no livro alguns episódios que mostram a degeneração do pai e desmascaram a farsa moralista dos dois personagens.
Ela conta, por exemplo, que, quando era criança, encontrou a mãe “desmaiada em uma banheira ensanguentada, com ambos os pulsos cortados”, logo foi pedir socorro a Olavo; achou-o nos braços da amante, sua aluna em um curso picareta de astrologia, desprezando a situação; no hospital, o pai obrigou filhos a ver a figura materna à beira da morte, incluindo uma fala na qual aparentou ridicularizar a mulher”.
Nos anos 1980, conta Heloisa Carvalho, ele [Olavo] chefiou duas seitas, uma mística, outra islâmica (uma tariqa). Heloisa destaca que em ambas ele extorquia seguidores – em algo como procurou fazer recentemente, pedindo dinheiro pelo Twitter –, manipulava indivíduos usando até técnicas de hipnose, dentre outras atrocidades.
Heloisa prossegue: “o guru do conservadorismo e do cristianismo não foi capaz de dar nem um único telefonema para a mãe no leito de morte”.
“Sid Mohammad Ibrahim dizia acreditar em coisas como que encarar um gato seria bom remédio para dor de cabeça; e na importância de ter no porão de sua casa uma barca egípcia, destinada à sua morte”, relata a filha (conta-se que o guru chegou a se encerrar, com uma parede de de tijolos, no local onde tal barca estaria; e foi resgatado após gritar por socorro).
A ESTRANHA BARCA DO EGITO
É exatamente desta época o estranho episódio da barca egípcia, como conta Heloisa Carvalho. “No período da barca egípcia eu não morava com meu pai. Eu morava em Atibaia com a minha tia, com meu marido e o meu filho, mas eu fiquei sabendo, porque virou uma notícia para a família. Quem me contou o episódio da barca foi a minha mãe, meus irmãos relataram também para outras pessoas. Minha mãe me contou que o meu pai, morando numa casa com porão, se emparedou e começou a construir uma barca para transmigrar para o Egito”.
“Eu sei que é tudo muito estranho. A esposa dele na época ficou preocupada, teve uma intervenção policial, mas, como não é crime, não houve uma ocorrência. O porão foi demolido e ele foi retirado pelo Corpo de Bombeiros. Transmigrar, segundo explica a filha de Olavo, era “entrar numa outra estratosfera, de terra plana, etc”.
“Como eu posso descrever alguém que se empareda num porão, que constrói uma barca para transmigrar para o Egito e tem um histórico de internação psiquiátrica com fuga?”, indagou a filha, durante uma entrevista.
RITUAIS MACABROS E TROCA DE CASAIS
“Olavo, quando era chamado como Sid Mohammad Ibrahim”, prossegue a filha, “teve uma relação poligâmica com três esposas e viveu em uma casa com diversos seguidores, sendo que cabia a ele controlar quem teria direito ao uso de um quarto matrimonial no qual se permitiam relações sexuais”. “O hoje defensor da moralidade realizava rituais que envolviam trocas de casais e abortos ritualísticos”, acrescenta a filha.
Após a esposa ser internada em um manicômio, Olavo levou Heloisa para morar com ele e a amante. Quando o pai viajava, em meio a funções como astrólogo, ou como líder da estranha seita islâmica, a amante, mais jovem que ele, mudava-se para a casa da avó. Heloisa, a filha, ia junto? Não. Segunda a mesma, era deixada à própria sorte, em casa, sozinha.
“Ele só pensa nele mesmo e em como manipular pessoas, com técnicas que aprendeu depois de ter sido internado em um manicômio, do qual saiu sem alta médica”, conta a filha. Esse episódios esdrúxulos, relatados pela filha, além de outros também conhecidos sobre reacionarismo, a degeneração e o capachismo de Olavo de Carvalho aos Estados Unidos, explicam bem a sintonia dele com Jair Bolsonaro e seus filhos.
E toda essa identificação entre Olavo de Carvalho e a família Bolsonaro fica bastante claro na mensagem divulgada por Bolsonaro pela morte de seu guru. “Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do nosso país, o Filósofo e Professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, escreveu Bolsonaro em suas redes sociais.
Diferente do que fez em relação aos milhares de brasileiros, entre eles alguns grandes nomes da cultura nacional, como Elza Soares, só para citar um exemplo, que morreram recentemente, vitimas da Covid e de outras doenças, o Planalto emitiu nota de pesar pelo astrólogo de Virgínia.
Assista a uma das entrevistas de Heloisa de Carvalho sobre o guru de Bolsonaro