ALTAMIRO BORGES
Pesquisa Quaest divulgada nesta segunda-feira (3) mostra que o cantor Gusttavo Lima é quem aparece melhor posicionado para a eleição presidencial de 2026. Ele seria o principal herdeiro do fascista Jair Bolsonaro, que segue inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O “sertanojo” supera vários expoentes da extrema direita – como os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União Brasil-Goiás) e Ratinho Jr. (PSD-PR). Ele também está à frente de Michelle Bolsonaro, do deputado Eduardo Bolsonaro e do ex-coach Pablo Marçal.
Conforme a sondagem, Gusttavo Lima teria entre 12% e 13% das intenções de voto no primeiro turno quando disputa contra outros nomes fortes do bolsonarismo. Sobe para 18% em cenário sem nenhum outro rival de peso deste campo. Em eventual segundo turno, o cantor também é o mais competitivo contra Lula – ele tem 35% das intenções de voto contra 41% do atual presidente. Para Felipe Nunes, diretor da Quaest, esse resultado se deve ao nível de conhecimento da população sobre o cantor. Segundo a pesquisa, apenas 21% dos entrevistados não conhecem Gusttavo Lima.
“POLÍTICA POP” E VIABILIDADE ELEITORAL
“Isso dá a ele uma vantagem competitiva. A essa altura da disputa, o conhecimento muito maior do cantor sertanejo acaba lhe ajudando. Nós vivemos uma era que eu chamo de ‘política pop’, que é quando o debate político é tomado pelo interesse puro e simples pelo entretenimento. O surgimento de nomes da música, das artes e da cultura digital na política retratam bem esse novo momento”, aponta Felipe Nunes. Mas ele pondera: “Embora a ‘política pop’ já tenha se provado vitoriosa para cargos legislativos, ela ainda não foi capaz de vencer uma grande disputa majoritária no Brasil”.
No início de janeiro, Gusttavo Lima anunciou a sua intenção de disputar a Presidência da República. O ricaço arrogante disse que “o Brasil precisa de alternativas” e criticou os rumos do país. Seu anúncio gerou ciumeira em Jair Bolsonaro, que o tratava como um fiel aliado. O ex-presidente fujão esbravejou que ele é a única liderança autêntica da direita no país. “O candidato sou eu”, rosnou em entrevista à CNN. Ele ainda acusou o sertanejo de fazer o jogo de intrigas do governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
VEJA ELENCA ALGUNS PODRES DO “SERTANOJO”
Ainda é cedo para saber se Gusttavo Lima será um dos candidatos da extrema direita em 2026. Nem a sua viabilidade eleitoral é garantida – que o diga Datena, outra celebridade midiática, que passou vexame na eleição para a capital paulista no ano passado. O anúncio precipitado da sua candidatura pode ser mais uma jogada de marketing do “sertanojo” ou mesmo uma tentativa de se livrar das constantes denúncias de negócios sinistros que alavancaram sua fortuna. Na sua edição de 10 de janeiro passado, a revista Veja bateu nessa tecla em longa reportagem intitulada “As suspeitas que desafinam os planos de Gusttavo Lima para disputar a Presidência”. Vale reproduzir alguns trechos:
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O cantor sertanejo Gusttavo Lima — 35 anos de idade e 25 de carreira — tem na sua estante dois discos de diamante triplo, cada um deles conquistado depois de superar a impressionante marca de 450 milhões de reproduções nas plataformas de streaming de áudio. No Instagram, ele reúne 45,5 milhões de seguidores, quase o dobro do ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem apoiou a eleição de 2022. Astro musical, garoto-propaganda, multimilionário e empresário, ele chamou a atenção na semana passada ao fazer um anúncio inusitado: quer disputar a Presidência da República em 2026.
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Caso consiga viabilizar sua incursão na política, Lima não terá uma vida fácil. O primeiro obstáculo será superar os questionamentos sobre as diversas confusões que permeiam sua carreira. No ano passado, o cantor chegou a ter uma prisão preventiva decretada por envolvimento em suspeitas ligadas a site de apostas. A principal delas é que duas empresas suas, a Balada Eventos e a GSA Empreendimentos, tenham ocultado 49,4 milhões de reais em 2023 e 2024 oriundos das chamadas apostas.
Deflagrada pela Polícia Civil pernambucana, a Operação Integration também investigou contratos de publicidade dos sites Vai de Bet e Esportes da Sorte com o cantor. Além disso, os donos das duas empresas compraram o mesmo avião de um dos CNPJs do cantor. Primeiro, uma firma de Darwin Henrique da Silva Filho, sócio da Esportes da Sorte, adquiriu uma aeronave e a entregou dois meses depois, alegando problemas técnicos. Depois, o mesmo veículo foi adquirido por José André da Rocha Neto, dono do Vai de Bet.
O pedido de prisão foi feito porque a juíza Andréa Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal de Recife, entendeu que ele ajudou a fuga de Rocha Neto e sua esposa, ambos com pedidos de prisão decretados, cedendo uma aeronave para viagem deles à Grécia. “Nivaldo Batista Lima (nome verdadeiro de Gusttavo Lima), ao dar guarida a foragidos, demonstra uma alarmante falta de consideração pela Justiça. Sua intensa relação financeira com esses indivíduos, que inclui movimentações suspeitas, levanta sérias questões sobre sua própria participação em atividades criminosas”, afirmou a juíza.
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As suspeitas contra Gusttavo Lima não param por aí. Há mais de dois anos, os contratos do músico com prefeituras de cidades do interior levantam suspeitas de superfaturamento e má administração do recurso público em ao menos sete estados brasileiros. Alguns processos foram encerrados, enquanto outros ainda estão em andamento. A maioria dos shows fica em torno de 1 milhão de reais, às vezes em cidades que têm menos de 10 mil habitantes.
Em setembro de 2024, por exemplo, a prefeitura de Petrolândia (PE) contratou por 1,1 milhão de reais um show no mesmo dia em que ele teve a prisão decretada no caso das apostas – com a repercussão negativa, ele foi cancelado. Meses antes, Icó (CE) tentou contratar o cantor com verba destinada à educação, que, por óbvio, não poderia ser remanejada para esse fim. Em outro show que entrou na mira do MP, em Magé (RJ), em 2022, o cantor fez até aceno ao gestor da cidade, Renato Cozzolino (PP). “Alô, prefeito, aquele abraço. Tamo junto”, disse.
Na época em que as autoridades colocaram uma lupa para vasculhar as suspeitas de superfaturamento em shows, Gusttavo Lima desfez um de seus empreendimentos que mostravam não apenas a diversificação dos negócios — ele é dono de fazendas de gado em Mato Grosso e Minas Gerais e tem patrimônio avaliado em cerca de 1 bilhão de reais —, como também seu alinhamento ideológico. O cantor era sócio do Frigorífico Goiás, que vendia a “picanha do mito”. Os pacotes vinham com uma caricatura de Bolsonaro e custavam 1 800 reais o quilo da picanha de wagyu, o gado com a carne mais cara do mercado.