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“Inalienáveis direitos do povo palestino têm de ser respeitados” defendeu o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres
“É essencial rejeitar qualquer forma de limpesa étnica em Gaza”, declarou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres em encontro desta quarta-feria (5).
Com o presidente Trump afirmando que pretende “tomar Gaza” e lá expulsar mais de dois milhões de habitantes, o que tornaria a Faixa de Gaza em uma “Riviera do Oriente Médio”, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, somou sua voz à indignação mundial contra seu “plano”, assinalando que, sob o pretexto de “buscar soluções, não se pode piorar o problema”, cuja única resposta duradoura e viável, insistiu Guterres, é a Solução dos Dois Estados.
Como se sabe, quando o cessar-fogo entrou em vigor no dia 19 de janeiro, o que se viu foi uma imensa massa humana, rumando para o norte, de onde havia sido expulsa sob tiro e bomba, em busca de suas casas. Famílias palestinas empilharam pertences em carros e carroças puxadas por burros ou caminharam longas distâncias, muitas vezes para encontrarem apenas destroços ao chegar, na esprerança de iniciar a reconstrução.
“O exercício dos direitos inalienáveis do povo palestino diz respeito ao direito dos palestinos de viverem simplesmente como seres humanos em sua própria terra. Temos visto a concretização desses direitos se distanciar cada vez mais. Temos testemunhado uma desumanização e demonização sistemática e assustadora de um povo inteiro”, denunciou Guterres.
Ao fazer o anúncio, Trump tinha a seu lado ao investigado pela Corte Internacional de Justiça de Haia por genocídio, o premiê israelense Benjamin Netanyahu, que comandou o morticínio de quase 200 mil palestinos e atirou ao chão 70% de Gaza, com bombas arrasa-quarteirão fornecidas pelos EUA. Segundo a mídia, para o reposicionamento, Trump levou em conta as reflexões de seu genro, Jared Kushner, sobre toda aquela “valiosa propriedade à beira-mar”.
Quanto à resolução do conflito, o chefe da ONU também chamou a reafirmar a “Qualquer paz duradoura exigirá um progresso tangível, irreversível e permanente em direção à Solução de Dois Estados, o fim da ocupação e a criação de um Estado palestino independente, do qual Gaza será parte integrante”.
Ele pediu, ainda, uma “governança palestina forte e unificada”, dizendo que a comunidade internacional deve apoiar a Autoridade Palestina para esse fim. Guterres também convocou os Estados-membros a apoiarem o trabalho da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), que foi proibida por Israel e cujo financiamento foi cortado pelos EUA esta semana.
“GAZA É DOS PALESTINOS”, DIZ CHINA
“Gaza é dos Palestinos”, afirmou a China, se opondo ao arreganho de Trump pela deportação dos palestinos de Gaza e tomada pelos EUA. A China apoia os direitos nacionais legítimos do povo palestino, disse o porta-voz do ministério, Guo Jiakun, em uma coletiva de imprensa regular.
“Gaza é parte integrante do território palestino, não uma moeda de troca política, muito menos o alvo de uma lei da selva”, disse Guo. É posição consolidada da China de que a única saída é a Solução dos Dois Estados. “Qualquer acordo sobre o futuro de Gaza deve respeitar a vontade e a escolha independente do povo palestino, e não deve ser imposto a eles”.
Por sua vez, a ministra de Estado do Reino Unido para o Desenvolvimento Internacional, Anneliese Dodds, disse ao parlamento que “não deve haver deslocamento forçado de palestinos, nem qualquer redução no território da Faixa de Gaza”. Antes, já haviam repudiado a ultrajante limpeza étnica a Rússia, Brasil, Espanha, Alemanha, Arábia Saudita, Egito e Turquia.
Os sauditas reiteraram que não normalizariam os laços com Israel sem o estabelecimento de um Estado palestino. O vizinho Egito, que no mês passado rejeitou a pressão de Trump para acolher, mais a Jordânia, os moradores de Gaza, enfatizou a necessidade de reconstrução “sem mover os palestinos”. Os atuais habitantes de Gaza são, na grande maioria, descendentes dos palestinos expulsos em 1948 de suas casas e aldeias.
“PREFERIMOS MORRER A DEIXAR ESTA TERRA“
Até mesmo veículos de mídia do mainstream registraram que os palestinos de Gaza não se dobrarão a Trump ou Netanyahu. “Preferimos morrer a deixar esta terra. Nenhuma quantia de dinheiro no mundo pode substituir sua terra natal”, disse Abu Firas ao The Guardian, cuja casa em Khan Yunis foi destruída por Israel, matando 80 membros de sua família.
“Israel bombardeou Gaza com todos os tipos de bombas e mísseis. Apesar de tudo isso, eles não conseguiram controlar Gaza. Então como eles podem nos forçar a sair? O que mais eles podem fazer conosco?”, argumentou o palestino.
Walid Munayya, que já foi forçado a se mudar seis vezes pela ocupação israelense, disse ao Guardian que “quem deixa sua casa, perde sua dignidade. Somos um povo resiliente e isso não vai acontecer , nem nos sonhos de Trump. Ficaremos aqui e não desistiremos nem de um centímetro de nossa terra”.
Também a BBC colheu em Deir al Balah, no centro de Gaza, depoimentos de teor análogo. “Mesmo que isso nos custe nossas almas, não deixaremos Gaza”, disse Mahmoud Bahjat, que é do norte do território.
“Nós aguentamos um ano e meio de guerra. Quando [os militares israelenses] finalmente se retirarem daqui, queremos remover os escombros e viver nesta terra”, disse Jamalat Wadi.
“Depois de fazer Israel destruir nossas casas em Gaza, os EUA agora estão nos dizendo que Gaza está destruída e que temos que ir embora?”, continua. “Não sairemos de Gaza. Não vamos desistir!”
Depoimentos que ecoam declarações dos líderes palestinos de que “nosso povo na Faixa de Gaza não permitirá que esses planos sejam aprovados e o que é necessário é acabar com a ocupação e a agressão contra nosso povo , não expulsá-lo de suas terras”.
A DESFAÇATEZ DA “SAÍDA VOLUNTÁRIA”
Em Israel, a fina flor dos fascistas seguidores do rabino Kahan, netos do supremacista Jabotinsky e demais ladrões de terra alheia, estão em êxtase com a visão de Trump, depois de terem de engolir a contragosto o acordo de cessar-fogo. Israel Katz, o ministro da ‘Defesa’ de Netanyahu, baixou uma ordem para que o exército israelense se prepare para “apoiar” em Gaza – haja cinismo – a “saída voluntária” dos palestinos para alguma favela em um país árabe das redondezas.
Ou, como sugeriu, para a “Irlanda, Bélgica e Espanha”, países que contestaram os aspectos mais doentios da guerra de Netanyahu contra Gaza – ameaçando os europeus de nova vaga de refugiados, que reforçaria a grita dos fascistas, à beira de eleições..
“Israel pode chamar isso de “transferência voluntária”. Trump e Kushner podem chamar isso de redesenvolvimento. Mas não pode ser chamado de outra coisa senão seu nome real: limpeza étnica em uma escala nunca vista desde a Europa ocupada pelos nazistas”, sublinhou David Hearst, editor do Middle East Eye,
Analistas advertem que as elocubrações sobre limpeza étnica também põem em risco o acordo de cessar-fogo em vigor, que está na primeira fase, quando ainda sequer se completou a troca de presos, e prestes a discutir a segunda fase, e a terceira em aberto. A próxima etapa do acordo deve ver o retorno de cerca de 60 reféns israelenses restantes — nem todos vivos — e um fim mais permanente para a devastação.
O irmão de um refém israelense mantido pelo Hamas diz à BBC que não acredita que Trump esteja falando sério. “Não é realista”, afirma. Ele acrescentou que as falas de Trump sobre Gaza são “como com o Canadá” — referindo-se à declaração de que o país vizinho deveria se tornar o “51º Estado” dos EUA.
O que Trump propôs na terça-feira já foi tentado por Israel várias vezes antes. Milícias sionistas tentaram forçar os palestinos a sair de Gaza em 1948. Israel tentou novamente durante a Crise de Suez e após a guerra de 1967. Falhou todas as vezes e falhará novamente.
Para a organização israelense Paz Agora, “não há nenhuma maneira viável de transferir dois milhões de habitantes de Gaza para fora”. “É hora de parar de fantasiar sobre limpeza étnica e deslocamento forçado em Gaza e encarar a realidade – há apenas uma solução que pode garantir segurança e estabilidade no Oriente Médio: dois estados para dois povos e o fim do conflito israelense-palestino”, concluiu.