Projétil com características especiais e fragmentos de digitais foram encontrados no local do crime
Policiais que investigam a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Pedro Gomes conseguiram colher digitais parciais nas cápsulas da pistola 9mm usada no crime, que ocorreu no último dia 14. A pista não é suficiente para ser comparada com o banco de dados, mas pode ser confrontada com suspeitos.
As digitais que estavam nas cápsulas que foram encontradas por peritos na esquina das ruas João Paulo I e Joaquim Palhares, no Estácio, onde Marielle e Anderson foram assassinados, estão fragmentadas. Oito das nove cápsulas analisadas faziam parte do lote UZZ 18, vendido para a Polícia Federal e distribuído para todo o país. O único projétil diferente faz parte de um carregamento importado e que possui características especiais, e são semelhantes à de uma outra cápsula de um homicídio que ocorreu na região metropolitana do Rio.
Este projétil especial é que reforça a suspeita de que “há DNA de um grupo paramilitar no crime”, afirmou um investigador ouvido pelo Jornal O Globo (grupos paramilitares são os grupos conhecidos como milícia). Ele também afirmou existir a possibilidade de elo entre o crime com assassinatos no bairro do Pacheco e outros cinco assassinatos praticados em Niterói e São Gonçalo.
“Na minha opinião, pelos estojos encontrados, existe um padrão semelhante em todas as mortes. Os assassinos de Marielle tiveram acesso à mesma munição utilizada em São Gonçalo e Niterói”, afirmou um especialista em armas que acompanha o trabalho dos investigadores.
O Estado do Rio registrou 14.574 homicídios dolosos nos últimos três anos, mas em cinco deles foi detectado o uso de munição do lote UZZ 18.
CÁPSULAS
De acordo com o Jornal O Globo, que teve acesso a dados dos inquéritos sobre homicídios em Niterói e São Gonçalo, em julho de 2015, dois homens foram assassinados com pistolas calibre 9mm. No local foram encontradas duas do lote UZZ 18, uma do AGW 25 (também da Polícia Federal) e sete faziam parte dos carregamentos BQZ 91, AAE 67, AAY 68 e BAY 18, vendidos para a Polícia Militar de São Paulo.
No mês seguinte ao crime em São Gonçalo, cápsulas dos lotes UZZ 18, AAY 68 e BAY 18 foram usadas numa chacina em Osasco e Barueri, em São Paulo, onde três policiais militares e um guarda civil executaram 17 pessoas.
O secretário de Segurança de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, informou em nota que determinou a abertura de um inquérito para “apurar uma possível participação de PMs no desvio dos lotes mencionados pela reportagem [do O Globo]”.
Ainda em 2015, no mês de dezembro, outros dois homens foram assassinados no Morro do Goiabão, em Itaipu. Três, das seis cápsulas, eram do lote BNS 23, vendido pela CBC à Marinha, duas do lote UZZ 18, e a uma do AAY 68.
Em setembro de 2017, Cláudio Chimaru da Silva, conhecido como Du Borel, foi morto em Estância de Pendotiba, São Gonçalo. Segundo o inquérito do caso, 17 cápsulas calibre 9mm foram encontradas no local do crime. Dezesseis pertenciam a lotes vendidos pela CBC à Polícia Federal e uma, ao UZZ 18. Du Borel era gerente do tráfico na comunidade Risca Faca e uma testemunha afirmou que ele foi morto após ter aplicado um golpe em PMs e no chefe da quadrilha local, Alberto Pietro Baunilha, o Gorilão, que está preso.
Agentes da Delegacia de Homicídios (DH) da capital fluminense estiveram na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, na tarde de terça-feira (11), e intimaram mais dois parlamentares para prestarem depoimento na investigação sobre as mortes de Marielle e Anderson. Os vereadores são Jones Moura (PSD) e Val Ceasa (PEN). Outros vereadores já foram ouvidos e a os investigadores ressaltam que nenhum parlamentar está sendo colocado sob suspeita.
Marielle Franco foi executada com três tiros na cabeça e um no pescoço no dia 14 de março, quando também foi assassinado Anderson Gomes, motorista do veículo em que a vereadora se encontrava. O crime irá completar um mês no próximo sábado (14).