Corporação também informou que há possível “conluio” da gestão anterior com alguns membros atuais “cujo resultado causou prejuízo para a presente investigação, para os investigados e para a própria instituição”
O novo diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Marco Aurélio Cepik, afirmou que as investigações apontam para a existência do esquema da “Abin paralela” no órgão.
“Todos os indícios que se tem é de que havia, sim, [Abin Paralela]”, afirmou Cepik à GloboNews. “Temos que aguardar o final dos processos investigatórios nas instâncias para verificar a comprovação não apenas de se houve, mas de quem estava ali”, acrescentou.
Cepik minimizou a possibilidade de que outras pessoas envolvidas no esquema continuem na Abin. Ele lembrou que o sistema de inteligência é formado por vários órgãos, que conduzem as próprias investigações em processo extenso.
COLOCAR ORDEM NA CASA
“Não existe Abin do Lula”, sustentou Cepik, afirmando que não vê conflito entre os membros da agência e da PF (Polícia Federal). Comentou, ainda, que os órgãos voltarão a funcionar de “maneira sinérgica”.
Cepik também pregou que as mudanças na Abin sinalizam “resgate” das instituições que foram “fortemente atacadas” no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A PF investiga se aliados de Bolsonaro na Abin usaram, de forma indevida, ferramentas de espionagem como o FirstMile. O software, desenvolvido por uma empresa israelense, permite o monitoramento de geolocalização de celulares em tempo real.
Segundo a PF, o então diretor da Abin, Alexandre Ramagem, teria se utilizado da posição no órgão para “incentivar e encobrir” o uso do programa espião.
USO CRIMINOSO DA ESTRUTURA DA ABIN
Os investigadores suspeitam que Ramagem utilizou da estrutura da Abin para tentar fazer provas em defesa de Flávio e Jair Renan Bolsonaro.
Também há suspeitas de espionagem de adversários políticos do ex-mandatário, como a ex-deputada federal Joice Hasselmann (PSDB-SP) e Rodrigo Maia (PSDB-RJ), ex-presidente da Câmara.
O QUE LEVOU À DEMISSÃO DO EX-Nº 2 DA AGÊNCIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu exonerar o número 2, o diretor-adjunto Alessandro Moretti, após o escândalo de monitoramento ilegal.
Ele foi substituído por Marco Cepik que, atualmente, comanda a Escola de Inteligência da Abin.
A dispensa ocorreu um dia depois da operação da PF contra o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Moretti é ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Outros departamentos da agência devem passar por trocas nos próximos dias.
No relatório encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal), a PF destacou que atuais integrantes da cúpula da Abin interferiram e prejudicaram as investigações ao dificultar o acesso a dados.
CONLUIO
A corporação também afirmou que há possível “conluio” da gestão anterior com alguns membros atuais “cujo resultado causou prejuízo para a presente investigação, para os investigados e para a própria instituição.”
Horas antes da demissão, Lula sinalizava que a exoneração de Moretti seria sacramentada. “A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin é o companheiro que foi o meu diretor-geral da PF entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança e, por isso, eu o chamei, já que eu não conhecia ninguém dentro da Abin”, afirmou, em entrevista à CBN Recife.
“E esse companheiro montou a equipe dele. Dentro dessa equipe tem um cidadão [Moretti], que é o que está sendo acusado, que mantinha relações com o Ramagem”, acrescentou, numa referência a Alexandre Ramagem, diretor da agência na gestão Bolsonaro.
EX-DIRETOR-ADJUNTO
Moretti ocupava o cargo de diretor-adjunto da Abin desde março de 2023. Entre 2021 e 2023, atuou como diretor de Inteligência Policial e de Tecnologia da Informação da Polícia Federal.
Ele também foi secretário executivo da SSP-DF (Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal) entre 2019 e 2021, na primeira gestão de Anderson Torres — que foi preso sob acusação de omissão nos atos golpistas de 8 de janeiro.
Segundo a PF, Moretti é suspeito de repassar informações para Ramagem, atual deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro, além de participar de esquema de espionagem ilegal na Abin.
Na entrevista, Lula também cobrou que a PF não faça “show pirotécnico” nas operações e que não divulgue nomes dos investigados sem que haja provas concretas. O petista já criticou, no passado, a prisão dele, que teve ampla divulgação.