O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que existem “múltiplos indícios” do envolvimento direto de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, na tentativa de sabotar a votação de Lula no segundo turno das eleições presidenciais.
Informações obtidas pela Polícia Federal indicam que Torres coordenou o plano de usar a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Federal para impedir que eleitores de regiões favoráveis a Lula chegassem aos locais de votação.
“O que eu posso afirmar é que há múltiplos indícios de elaboração de relatórios, viagens, comandos”, além da realização de diversas blitz da PRF no dia 30 de outubro, dia do segundo turno das eleições, que atrapalharam a chegada de eleitores em seus locais de votação.
Dino chamou o caso de “operações atípicas”.
A PF descobriu que a diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, a delegada federal Marília Alencar, produziu um relatório com um mapa dos locais onde Lula foi mais votado no primeiro turno.
O material, segundo os investigadores, foi usado como base para as ações da PRF no segundo turno.
Além disso, foi identificada uma viagem de Anderson Torres para a Bahia, com uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB), mas por fora de sua agenda oficial, que tinha como objetivo conseguir o apoio do superintendente regional da PF, Leandro Almada, para as operações ilegais da PRF.
Torres fez essa viagem acompanhado do então diretor da Polícia Federal, Márcio Nunes.
No primeiro turno, Lula obteve 69,7% dos votos dos eleitores baianos, enquanto Bolsonaro teve 24,3%, o que motivou Anderson Torres a tentar sabotar a votação na região.
“Vamos aguardar o término das apurações da Polícia Federal visto que evidentemente constituiu um fato de imensa gravidade, faço questão de mais uma vez sublinhar a imensa gravidade porque isso significa um engendramento estatal, governamental para tentar fraudar uma eleição”, continuou o ministro Flávio Dino,
“Passo a passo, investigações policiais estão produzindo provas que irão aos autos, mas também para a HISTÓRIA. A história de uma eleição que antes, durante e depois foi duramente atacada. E que só resistiu pela força da democracia e pela atuação do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e do STF [Supremo Tribunal Federal]”, publicou Flávio Dino em seu Twitter.
Desde a manhã do dia 30 de outubro, a Polícia Rodoviária Federal realizou dezenas de interdições em estradas de regiões onde Lula teve significativa vantagem no primeiro turno das eleições.
O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, intimou o então diretor da PRF, Silvinei Vasques, a interromper imediatamente as operações ilegais. Caso não interrompesse, Silvinei receberia uma multa de R$ 100 mil, seria afastado do cargo e preso em flagrante por desobediência e crime eleitoral.
Silvinei Vasques chegou a publicar em suas redes sociais uma mensagem pedindo voto para Bolsonaro, o que não é permitido para alguém que chefia a PRF. “Vote 22 – Bolsonaro Presidente”, postou.
TORRES SE COMPLICA
Já estando preso e tendo que explicar sua participação no atentado golpista do dia 8 de janeiro, Anderson Torres se complica ainda mais com o surgimento de evidências de sua participação em outro movimento antidemocrático.
Torres está preso desde o dia 14 de janeiro, quando voltou dos Estados Unidos e se entregou à Justiça. Ele estava fora do país desde o dia 7 de janeiro, um dia antes do ataque em Brasília, e abandonou a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, da qual era chefe, acéfala.
Em sua casa, a PF encontrou a minuta de um decreto presidencial que instalaria um “estado de defesa” sobre o TSE para alterar fraudulentamente o resultado das eleições. O documento estava guardado dentro de uma pasta do governo federal em seu armário.
Anderson Torres disse que não sabe quem é o autor do decreto golpista, pois o recebeu através de sua secretária. A secretária, no entanto, afirmou à PF que “nunca entreguei nada”.
A possibilidade de Anderson Torres fazer uma delação premiada deixa Jair Bolsonaro apavorado.
O ex-presidente também é alvo do inquérito sobre o dia 8 de janeiro porque publicou em suas redes sociais um vídeo mentiroso sobre o processo eleitoral brasileiro, dizendo que Lula foi “escolhido pelo TSE” e não “eleito pelo povo”.