No dia 14 de abril de 2014, o regime de Kiev iniciou sua ‘Operação Anti-Terrorista’ e lançou suas milícias neonazis contra a população do Donbass
O articulista da RT em alemão, Dagmar Henn, registrou que foi em 14 de abril de 2014 – há nove anos – que o ‘presidente interino’ do governo saído do golpe em Kiev de fevereiro daquele ano “ordenou a ‘Operação Anti-Terrorista’ (ATO)”, ou seja, o envio de militares contra o levante do Donbass que ecolodira diante das medidas segregacionistas do governo e, assim, Kiev dava “início à guerra civil ucraniana”.
Observação que desmascara a cínica alegação de que o atual conflito na Ucrânia se trataria de uma “guerra não provocada”.
É como resumiu Henn: “Tudo poderia ter acontecido de forma diferente. Não se pode enfatizar isso com suficiente frequência. Porque nada sobre o desenvolvimento na Ucrânia desde o golpe de fevereiro de 2014 até a guerra civil era inevitável”.
Ele se reporta ao início do levante no Donbass: “No começo de abril de 2014, foram ocupados edifícios administrativos em Kharkov, Donetsk e Lugansk; este foi o ponto culminante de semanas de protestos anti-Maidan contra a tomada do poder por ultranacionalistas ucranianos em Kiev.”
Basicamente – ele acrescenta – “nada sensacional, porque exatamente essas ocupações, incluindo a invasão de um ou dois depósitos de armas, ocorreram às dezenas como parte dos que realizavam os protestos de Maidan no oeste da Ucrânia nas semanas anteriores. No entanto, essas ocupações nunca foram noticiadas na mídia ocidental, que cultivou a narrativa de ‘protesto pacífico’”.
CAÇA A COMUNISTAS E RUSSOS
Henn registra como o regime de Kiev foi inviabilizando a convivência entre os diversos componentes que histórica e etnicamente constituíram a Ucrânia, a pretexto de combater a “comunização” e a “russificação”.
“Um dos primeiros atos do governo golpista em Kiev foi banir tanto o Partido das Regiões, ao qual pertencia o presidente eleito ucraniano Yanukovych, quanto o Partido Comunista da Ucrânia”. Isso atacou exatamente “os dois partidos que receberam mais votos no leste da Ucrânia de língua russa”.
Já no dia mesmo da proclamação da ATO, “ocorreu o primeiro ataque às cidades de Slavyansk e Kramatorsk por forças especiais do exército ucraniano”. Relatórios da época mostram que representantes ocidentais já estavam envolvidos nesses ataques.
“Forças especiais ucranianas seriam aconselhadas por contrapartes dos EUA”, escreveu naquela época, sem o menor pudor, a Deutsche Welle, que como todas as outras mídias alemãs não via nenhum problema com o fato de que os próprios representantes supostamente pacíficos de Maidan, mal tendo conquistado o poder, queriam usar a força armada para se envolver em disputas políticas, assinala o articulista.
Na época – ele lembra -, Turchinov foi citado pelo Deutschlandfunk como tendo dito: “Não permitiremos que a Rússia repita o cenário da Crimeia nas regiões orientais da Ucrânia.” Para Henn, os protestos em Donbass foram, até certo ponto, “engolfados na retórica sobre a Crimeia; em nenhum dos casos a mídia e os políticos ocidentais estavam dispostos a reconhecer o descontentamento público”.
COMOÇÃO
“Não havia dúvidas – nas primeiras noites após as ocupações de 6 de abril, tanto em Donetsk quanto em Lugansk, milhares pernoitaram para guardar os prédios ocupados e, durante o dia, os pátios se transformaram em uma mistura de manifestação política e festival folclórico”.
Se o golpe de Maidan na primavera de 2014 fosse realmente sobre a democracia, deveria haver uma disposição para negociar e não uma ‘operação antiterrorista’, enfatiza o autor alemão. “Um poder que tem uma legitimidade extremamente fraca não pode realmente se dar ao luxo de declarar terroristas suas contrapartes politicamente orientadas”.
“O governo Turchinov foi capaz de fazer isso por uma única razão – porque todo o Ocidente estava inquestionavelmente atrás dele, e os protestos políticos pelo menos igualmente legítimos no sudeste da Ucrânia foram imediatamente rotulados de ‘influência russa’”, assinalou Henn.
DIVERSIDADE INTERNA IGNORADA
Reação que, em essência, antecipava a atitude ocidental em relação à Ucrânia hoje. “Pois o que aconteceu com esse apoio a ATO foi a adoção de um conceito de Ucrânia que ignorava a diversidade interna do país e declarava que a ideologia de Bandera era a única verdade ucraniana. Os ucranianos de língua russa foram tratados como se não fossem cidadãos originais deste estado”.
É essa mudança “para os apoiadores dos colaboradores nazistas”, que já era muito peculiar na época, por deixar claro desde o início que “a questão não era a Ucrânia, mas simplesmente a possibilidade de abrir uma frente contra a Rússia”.
A alegação de que a Rússia estava por trás do levante em Donbass era, na verdade, absurda, destaca Henn.
“Os primeiros passos para as ocupações de abril ocorreram em Moscou no início de março, mas apenas porque as organizações ucranianas envolvidas não se sentiam mais seguras na Ucrânia; o local da reunião foi uma estação de internet chamada Krasnoye TV, distante das estruturas do governo russo”. De fato, a reação às ocupações na mídia russa foi inicialmente “de surpresa e um pouco perplexa”.
Mas ninguém no Ocidente queria saber disso; em vez disso, a narrativa desejada tinha que ser mantida por todos os meios necessários. “Mesmo que os resultados de todas as eleições parlamentares na Ucrânia desde 1992 tenham marcado os dois campos culturais tão claramente que qualquer pessoa de fora poderia reconhecê-los”, enfatizou.
SEM ‘ATO’, SEM GUERRA CIVIL
“Se os protestos em Donbass em 2014 tivessem sido reconhecidos pelo Ocidente como expressões legítimas de opinião, não haveria ATO e, como resultado, não haveria guerra civil”, sublinhou Henn.
“O governo russo protestou contra o uso da força, assim como os governos da Europa Ocidental instaram Yanukovych a não usar a força contra os manifestantes durante Maidan, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que agora cabe ao Ocidente evitar a guerra civil; uma reação que não surpreende e é completamente normal e compreensível quando as tensões políticas estão aumentando no país vizinho”.
“Não, o Ocidente queria uma guerra civil. E não houve o menor sobressalto ou mesmo pausa. Havia razões suficientes para isso. Por exemplo, em 2 de maio de 2014”.
Henn ressalta que “a lista de momentos em que uma reviravolta teria sido possível é interminável”. Quando a ATO foi iniciado, “uma única crítica dos países ocidentais certamente teria sido suficiente para conter a espiral de violência”.
Se alguém quisesse uma vibrante democracia ucraniana, a queda para a guerra deveria ter sido evitada. “Não houve uma única voz do Ocidente pedindo uma representação política adequada do Sudeste ou alertando contra a escalada do conflito”.
DEPOIS DE NULAND, O PRÓPRIO BIDEN
Em vez disso, a posição de Kiev foi aceita sem questionamentos. E o então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, viajou para a Ucrânia em 22 de abril e declarou antes de partir que “forças pró-Rússia estão trabalhando lá que, com a ajuda de Moscou, estão sabotando e desestabilizando a Ucrânia em uma campanha coordenada”.
E a UE também se comprometeu com esta leitura. Isso sinalizou com bastante clareza que nenhuma consideração deveria ser dada às pessoas de lá. “Foi essa determinação que abriu caminho para o massacre de 2 de maio de 2014 em Odessa. A cada passo dado fora do escopo de um estado democrático na Ucrânia, havia a bênção do Ocidente”.
O fato de organizações como o Setor Direita terem realizado um ato de terror antes das eleições do final de maio facilmente comparável ao das SA em 1933 não impediu que a UE ou os Estados Unidos reconhecessem o resultado dessas eleições.
CENTENAS DOS SEUS POR “CADA UM” DOS NOSSOS
A declaração do recém-eleito presidente Petro Poroshenko de que “para cada soldado ucraniano caído, centenas de separatistas teriam que pagar com suas vidas, foi educadamente citado na mídia alemã como se fosse uma sentença completamente normal que políticos normais diriam e não um retorno às ordens partidárias da Wehrmacht”, destacou Henn.
“Com uma centena de pequenos endossos, negações e depreciações, o Ocidente, incluindo o governo alemão, preparou o caminho para a guerra que está acontecendo lá até hoje”.
Nunca houve – é dele a ênfase – “qualquer justificação política ou moral para dividir a população do Estado da Ucrânia em parte com direitos e parte sem direitos, para elogiar os protestos de uma parte e condenar os da outra”.
“14 de abril de 2014 é um dos inúmeros dias em que o destino poderia ter sido interrompido. Deve-se ter em mente todos esses pequenos passos; pois é apenas lembrando-se deles que se pode apreciar a verdadeira extensão da arrogância ocidental com a qual a Rússia agora está sendo culpada por um conflito que foi tão avidamente tramado”.