O ministro da Fazenda considera também que houve fraude no caso das Americanas
O ministro da Fazenda Fernando Haddad afirmou, nesta sexta-feira (10), em entrevista à CNN, que os juros altos praticados atualmente impedem os investimentos. “A virada foi muito forte. Quando a taxa [Selic] estava a 2%, tenho conhecimento de empresas sólidas que tomaram [crédito] a 6%. Hoje, esses mesmos empresários estão rolando a 20%”, disse.
JUROS ALTOS
Haddad repetiu que pretende reduzir o déficit previsto para este ano. Ele disse também que as atuais taxas de juros prejudicam a busca do equilíbrio fiscal, já que prejudicam a arrecadação do governo.
O ministro avalia que deve haver uma relação de confiança entre as autoridades fiscal e monetária. “Estamos na mesma direção para que uma política fortaleça a outra. Monetário afeta o fiscal e fiscal afeta monetário. Essa divisão entre política monetária e fiscal é uma forma de pensar a economia que talvez não consiga traduzir a complexidade desse organismo”.
“A Europa está mantendo as taxas de juros negativas ainda agora. A inflação na Europa caiu de 9,2% para 8,5% recentemente. E a Europa comemorou. Por que o BCE (Banco Central Europeu) não dá um choque de juros?” questionou Haddad. “Porque depois de praticar taxas de juros negativas por tanto tempo, qual será o impacto no mundo real?”, argumentou Haddad, apontando os riscos de uma recessão.
Haddad falou também sobre as joias. Ele considera que no caso das joias sauditas, houve uma tentativa de roubo. “Tentaram surrupiar as joias. Aquilo lá tem que ser patrimônio da União, não tem outro destino”, disse o ministro.
Para Haddad “não há dúvida que um presente no valor de R$ 16,5 milhões tem que ser patrimonializado”. O servidor que reteve as joias, na opinião do ministro, “impediu que elas fossem roubadas”. “Podem chamar de qualquer outro coisa, descaminho, peculato ou qualquer outro nome mas eu prefiro tratar como roubo”, disse Haddad.
GRANDE FRAUDE
Sobre a questão da Americanas, o ministro Fernando Haddad, declarou que não há menor dúvida de que aconteceu uma fraude fiscal na Americanas, que está em processo de recuperação judicial.
“Que é fraude, acho que não tem a menor dúvida”, afirmou Haddad. “Eu sempre espero transcorrer, até porque eu estou no Ministério da Fazenda. Mas enfim, é uma fraude grande, uma fraude que abalou o mercado, porque é 0,5% do PIB, não é uma ‘coisinha’”, continuou.
Segundo Haddad é “uma fraude que “está afetando a economia, está afetando os humores, está afetando o Banco Central, está afetando tudo”. “O setor bancário brasileiro sofreu um golpe grande. E os bancos são os primeiros a dizer que foi fraude. E, obviamente, as suspeitas são legitimas, mas tem autoridade para apurar até onde vai a responsabilidade”, apontou o ministro.
“Eu sou o maior interessado em saber o que aconteceu lá. Porque isso pode afetar a credibilidade do mercado de capitais do Brasil, pode ensejar uma legislação mais dura que eventualmente a gente não tenha. Então, o Ministério da Fazenda não vai fazer conta que não seja o interesse nacional e as medidas necessárias para sanear”, acrescentou.
EMISSÃO DE MOEDA E INFLAÇÃO
Haddad respondeu a uma pergunta sobre o que acha das ideias defendidas pelo economista André Lara Resende, de que a emissão de moeda por um país soberano não necessariamente é inflacionária. Ele disse que é contrário a essas teses e afirmou que a perda do controle sobre a inflação – sobre a qual a emissão de moeda impactaria diretamente – “também é uma forma de calote”.
“Eu não concordo com isso, não porque tenha risco de ‘default’. Nossa dívida é em real, somos a autoridade monetária que emite real. Não temos uma dívida dolarizada. Então essa parte da história é verdadeira. Mas para mim, um descontrole inflacionário, uma hiperinflação é uma forma de ‘default’. Não é um calote clássico, como teve no [governo] Collor. Uma hiperinflação é um ‘default’, uma inflação de 100%, como é que você chama isso? Você pode atenuar, mas é uma forma de você usar o imposto inflacionário a favor do devedor, que é o próprio emissor da moeda”, argumentou Haddad.