NATHANIEL BRAIA, de Haifa, Israel
Cientistas sociais israelenses, brasileiros, norte-americanos, argentinos, ingleses, alemães e de outros países participam de um encontro na cidade israelense de Haifa para debater a manipulação mediante o uso dos símbolos judaicos e de Israel pelos chefes das igrejas evangélicas neopentecostais a serviço da propagação da ideologia de um extremismo direitista
O encontro sob o tema “Política e Religião no Brasil e nas Américas: igrejas evangélicas e suas relações, com o judaísmo, sionismo, Israel e as comunidades judaicas” teve início nesta segunda-feira, dia 13 e continuará nos dias 14 e 15 na Torre Eshkol, na Universidade de Haifa.
O evento focado no crescimento do chamado “sionismo cristão” na América Latina, com a disseminação de uma visão mística e da adesão acrítica e apologética à atual política israelense, resultou de uma parceria entre a Universidade de Haifa, o Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NIEJ) e do Instituto Brasil-Israel (IBI).
“Espero que, com este encontro, estejamos iniciando um processo de debate e de pesquisa sobre esta questão do uso dos símbolos judaicos para fins políticos que está agora muito presente na realidade brasileira e começa interferir de forma cada vez mais intensa na vida pública israelense”, afirmou o professor Michel Gherman, coordenador do NIEJ e do encontro ao dar as boas vindas aos presentes ao encontro.
O professor de História Hebraica, Marcos Silber, presidiu a mesa que abriu os trabalhos do encontro.
“O que nos preocupa no advento deste fenômeno do sionismo cristão foi que ele se tornou uma força política que ataca os fundamentos democráticos de nosso país”, afirmou o professor Christian Dunker, um dos participantes do evento.
Dunker que é psicanalista, professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e articulista da Editora Boitempo, também alerta para “a muito preocupante disseminação de um pensamento medieval que demoniza as ciências sociais e até a tecnologia e desenvolvimento científico”.
“Estamos diante de uma religião que converge com os conceitos neoliberais, é uma ‘religião dos resultados’, ao mesmo tempo que tem as características direitistas, de uma narrativa conspiratória global, tem sintomas claros de um novo fascismo, acrescido do perigo de seu fundamento na religião”, acrescentou o professor em entrevista concedida ao Hora do Povo durante o primeiro dia de debates.
“É também necessário alertar para o estímulo ao uso da violência em choque contra as transformações sociais que têm por base as necessidades do avanço civilizatório. Se dissemina um ultra-consevadorismo que tem essa função de demonizar o debate, os questionamentos, as propostas de mudança”, declara o professor.
“O que nos preocupa no advento deste fenômeno do sionismo cristão foi que ele se tornou uma força política que ataca os fundamentos democráticos de nosso país”, afirma o professor Dunker
“Isso não é novo do ponto de vista da retórica do totalitarismo clássico mas adquiriu feições novas”, prossegue Dunker, “na medida em que junta uma concepção econômica de dependência neoliberal com as concepções medievais de uma Damares”.
O professor Dunker, acrescentou que “estamos diante de uma nova cruzada, é uma vertente para um aprofundamento da ocupação religiosa de Israel”.
“É uma alerta para os israelenses e os judeus em geral de que essa questão do conflito Israel-Palestina precisa ser resolvida e com urgência, para que Israel se insira de forma progressista nessa região do Oriente Médio de forma a que judeus e árabes consigam se unir antes de serem engolfados por fenômenos desse extremismo de direita como é o caso do avanço do sionismo cristão na América Latina e em especial no Brasil”, conclui.